Vinte e Quatro - Infiltrar, Investigar, Seguir, Reportar (parte II)

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Se me pedissem para definir Madison Elise Turner em uma palavra, eu escolheria: frieza. Então logo me arrependeria, porque ela era quente, em todos os significados que a palavra poderia ter. Ainda assim, frente à desesperadora situação de ver sua melhor amiga baleada, ela soube manter os nervos no lugar com elegância, com frieza. Em um mundo ideal, talvez eu esperasse por uma garota chorando descabelada sem saber o que fazer em meio ao sangue, mas ela ficou ali, firme, segurando a mão de Imogen enquanto a ambulância não chegava. Nem sequer ligou para a minha existência, embora eu, em toda minha insensibilidade, tenha tentado uma aproximação. Notei, ali, que não era a hora. Precisava alcança-la em um ambiente mais favorável, pois tinha plena consciência de que enfrentaria uma batalha para vencer a teimosia daquela garota geniosa.

Voltei para o que me levara até ali, para o que eu era pago para fazer: a missão. Billy Lonergan, o cowboy brega, como Madison havia apelidado, estava desacordado em uma daquelas ambulâncias, e eu precisava chegar até ele antes que desse um jeito de fugir. Ou pior: se matar.

A máfia da Costa Leste era conhecida por se utilizar de um procedimento nazista historicamente famoso: uma simples cápsula de cianureto e o membro capturado – pela máfia rival ou pela polícia – estaria impossibilitado de abrir o bico. Eles carregavam a cápsula com eles, e eu tinha certeza absoluta de que Billy Lonergan tinha a sua ao seu lado naquela noite. Se estava disposto a matar Madison, também sabia dos riscos de ser capturado. Pela máfia inimiga ou pela polícia. Ele sabia que eu estava no pé de Madison desde o início das aulas em Harvard, e aparentemente também sabia que Benedict Vidal estava fazendo algum tipo de investida da máfia da Costa Oeste.

O cerco fechava-se cada vez mais.

E Madison estava no meio do furacão.

Eu tinha que dar um jeito de tirá-la de lá, antes que fosse tarde demais, antes que parte da missão escapasse das minhas mãos e fosse parar... Nas dela. Por isso, assim que estacionei o carro, corri o mais rápido possível até o hospital. Pelos fundos, tentei falar com os médicos, mas nenhuma enfermeira me deixou passar da porta.

- Eu sou o agente Carter, do FBI, e aquele homem está sob minha custódia. – disse, apontando para Billy, que era carregado pelo corredor em uma maca.

A enfermeira pegou o distintivo da minha mão, olhou bem para ele, depois para minha cara, como se duvidasse de que eu, de fato, fosse um agente do FBI. Lisbeth costumava falar que eu me parecia mais com um modelo de cuecas da Calvin Klein, do que com um agente do FBI, e a enfermeira talvez compartilhasse dessa opinião. Depois de um tempo de olhar cerrado, ela devolveu o distintivo e disse:

- Não pode entrar, os médicos estão examinando seu prisioneiro agora.

- Ele não é meu...

- Aguarde na recepção, chamarei quando os médicos terminarem.

- Você não está entendendo, aquele homem não pode ficar sozinho.

- Ele não está sozinho, está sob os cuidados dos melhores médicos de Boston.

Revirei os olhos.

- Você entendeu o que eu quis dizer.

- Você também entendeu o que eu quis dizer. Espere na recepção, quando eles autorizarem, eu chamo você.

Bufei irritado e disse:

- Tudo bem, mas se ele fugir, o FBI terá uma conversa séria com o hospital.

Ela sorriu, virou as costas e me deixou ali, sozinho. Cocei a cabeça, como se fosse o suficiente para iluminar meu cérebro. Por culpa do meu erro lá no passado, e da teimosia do sargento Tanaka, eu tinha muito da teoria, porém pouco da prática.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now