Quatro - Deus Grego e Outros Problemas (Parte 1)

27.2K 2.3K 1.2K
                                    

-Que porra foi essa?! – exclamei, assim que o torpor e a adrenalina se dissiparam.

Certamente não era a reação que ele esperava de mim, pela expressão surpresa que tomou seu rosto. Talvez desabar em prantos ou permanecer em estado de choque, precisando de um abraço amigo, mas não gritar um palavrão no meio da rua, como se estivesse brigando com ele.

O deus grego não era o tipo de pessoa com a qual eu gostaria de puxar uma briga, e isso já estava comprovado por fatos testemunhados pela minha eu um pouco alcoolizada. Aquele cara sabia brigar com a mesma habilidade com que sabia tirar meus hormônios do sério.

Como um maldito agente secreto russo dos filmes de James Bond.

Ele espalmou as mãos na altura dos ombros, em uma óbvia posição defensiva.

-Você é quem tem que explicar por que estava sozinha na rua rodeada por um bando de caras estranhos.

-Eu não tenho que explicar nada sobre nada! Eles começaram a me seguir! – retruquei, enquanto analisava os dois caras ainda desacordados. Mexi no braço do cowboy com o bico do sapato, mas nem sinal de vida – Você os matou!

-Eles sabiam seu nome... – interpôs, com certa calma, ignorando minha acusação errônea e absurda. Abaixou as mãos e as guardou nos bolsos da calça jeans.

Franzi o cenho, confusa.

-Você... Como é que ouviu...? Como é que sabe...? De repente todo mundo sabe a porcaria do meu nome!

-Você estampa as capas de jornais e tabloides de fofoca praticamente todos os dias, Madison Turner. – havia um resquício de riso no canto dos lábios dele.

Acho que não preciso comentar sobre os vinte e sete tipos de arrepio que percorreram meu corpo quando ele pronunciou meu nome com aquela voz rouca e profunda. Com ênfase. Um tipo de ênfase que ele possivelmente daria a uma palavra suja sussurrada ao ouvido de uma mulher durante o sexo. Minha cabeça viajou violentamente só porque ele disse meu nome... Nem queria pensar no tipo de reação que eu teria se ele, por algum acaso, esbarasse em mim.

Cerrei os olhos, na tentativa de disfarçar o evidente descompasso de meu coração, e respondi:

-Pode ser por isso que eles sabem meu nome. – dei de ombros. – Por que está tão interessado, aliás?

-Acho melhor a gente sair daqui, eles logo vão acordar. E não será agradável ter que deixá-los desacordados de novo. Não gosto de brigas. – o deus grego desconversou novamente.

Arredio ao extremo.

Não gostei daquilo. Não gostava de gente com propensão a fugir de propositalmente do foco principal. Não gostava dele...

A quem estava querendo enganar mesmo?

-Eu não vou a lugar nenhum com um maluco feito você, cai fora!

Ele riu, então respondeu:

-Acho que acabei de te salvar...

-Eu já te disse que não estou em perigo, não preciso ser salva por ninguém.

-Não era o que parecia há cinco minutos... – ele interpôs, com aquela serenidade, aquele ar de segurança tão... irritante.

Mais irritante ainda porque ele estava certo, eu realmente estava em perigo e ele, como um príncipe no cavalo branco, surgiu do nada para me salvar. Patético, patético, patético. Eu só queria sair dali de uma vez, especialmente porque ainda conversávamos rodeados por dois caras desacordados, que aparentemente queriam fazer algum mal a mim, no meio da porcaria da rua e ninguém, absolutamente ninguém, passava por ali.

Desvio de CondutaKde žijí příběhy. Začni objevovat