Quatorze - Hayden Collins e Outros Problemas

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De início, achei que estivesse alucinando. Um fantasma do passado para me atormentar. Eu merecia. Merecia sofrer por meus erros, pelo meu descontrole hormonal, pela infidelidade.

Mas não.

Era Hayden, em carne, osso e rebeldia.

Seis anos e dois meses, e não havia um fio de cabelo diferente, uma ruga antes inexistente, um músculo fora do lugar. Tudo como antes, tudo maldosamente... Perfeito. Jaqueta de couro, camisa do Metallica e a pose de quem quer dominar o mundo.

Não saí do lugar, pois, por algum motivo desconhecido, perdi o comando básico que exercia sobre minhas pernas. Travei, congelei, mal fui capaz de raciocinar com coerência. De susto. Medo. Receio. Ele deve ter percebido, porque me analisou cuidadosamente, antes de sorrir, levantar do banco e, calmamente – naquele passo mole de bandidagem -, caminhar até mim. Parou na minha frente, a três seguros passos de distância.

Apenas quando ele falou, foi que acordei de meu transe.

- Oi, Maddy.

Ouvir meu nome em sua voz após tanto tempo... Foi o maior tormento que o destino poderia me impor naquele instante.

Cerrei os olhos, o coração disparado. Um misto de nervosismo, com raiva, com expectativa, com frustração, com nostalgia, com medo, com tristeza, com desespero. Tudo explodiu ao mesmo tempo. E minha racionalidade voltou como um baque violento.

- Tchau, Hayden. – respondi, e tentei sair dali.

Ele não deixou, claro. Sua mão forte segurou meu braço com delicadeza, impedindo-me de continuar.

- Por favor. – usou aquele tom de voz doce, baixo, uma canção serena que, anos antes, foi capaz de apaziguar até mesmo o mais devastador de meus rompantes.

Foi capaz de me induzir a fazer coisas que meninas ricas de famílias tradicionais de Nova York não faziam.

Puxei meu braço com força, contudo parei e virei para ele outra vez. Tomei o cuidado de me afastar os três passos que nos separavam antes.

- Esqueceu da ordem de restrição que tenho contra você? – cruzei os braços, meu tom frio.

- Hm, não... – ele fez careta, como se tivesse sido obrigado a chupar um limão azedo – É só um meio cruel que eles arranjaram para nos separar, para me manter longe de você, porque eles sabiam o quanto você era feliz comigo, eles não...

-Cala essa boca, Hayden! – quase gritei, minha expressão era puro desprezo, o dedo em riste – Você quase acabou com a minha vida, seu sociopata!

- Maddy! – ele negou com a cabeça, um gesto desesperado, e deu um passo à frente. Dei outro atrás e foi como se tivesse esfaqueado seu coração.

- Pra você é Madison.

Ele fechou os olhos com força, respirou fundo e coçou a cabeça. Quando me encarou novamente, sofria.

- Eu não acabei com a sua vida, eu não queria... Não era minha intenção, você sabe, eu te amo...

Foi a minha vez de levar uma facada no coração. Não estava preparada para aquilo, não estava disposta, não queria lidar com aquilo. Hayden era demais para mim, em qualquer circunstância; contudo, no momento de minha vida em que me encontrava, era praticamente insuportável.

Ele sempre foi o responsável por despertar todos os extremos de mim. Amor demais, raiva demais, felicidade demais, tristeza demais, tudo em questão de segundos. Limites demais para uma adolescente inexperiente, por isso quase fui destruída. Meu coração, certamente, ficou partido em milhões de pedaços, que só Trevor – Trevor, o cara que eu tinha acabado de dispensar – tinha conseguido colocar no lugar, depois de muito esforço e muita cola. Irônico e cruel. Para dizer o mínimo.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now