Desvio de Conduta

Cinquenta - Sogro e Outros Problemas

Fechei a porta em um pulo. Não havia uma chave para trancá-la, e tal constatação elevou meu desespero a um nível quase insuportável.

— Você perdeu completamente a cabeça, Dylan Mason.

— Na minha cabeça esse encontro começava com você pulando no meu colo de emoção por me ver.

— Sua cabeça ignora completamente a necessidade de calcular riscos antes de fazer qualquer coisa. Especialmente antes de entrar na casa do chefe de uma organização criminosa. — Encostei na porta, na esperança de que fosse o suficiente para impedir alguém de entrar de surpresa ali.

Seria uma péssima surpresa.

— Você já foi mais inconsequente, Panda.

Revirei os olhos.

— Não sei há motivo no mundo que justifique você se arriscar dessa forma. E me arriscar também. Mas, especialmente, se arriscar. Vidal pode ver você e aí o circo estará armado.

— Em primeiro lugar: eu te amo e quero ver você, para ter certeza de que está bem, considerando o que passou ontem. Em segundo lugar: eu sei me cuidar, porque sou um ótimo você sabe o quê. Em terceiro lugar: qual seria o grande problema de Vidal me ver por aqui?

O eu te amo ficou rondando em minha cabeça por um instante, por isso demorei um pouco mais do que o recomendado para responder. Ainda não estava acostumada à frase e ao jeito com que ela saía da boca de Dylan.

— Por algum motivo, ele não confia em você. E eu tenho certeza de que não confia tanto em mim também. Eu não sei. Ninguém confia em ninguém, e seria muito estúpido depositar as fichas em qualquer pessoa que tenha alguma coisa a ver com La Recocha. — sussurrei.

Era triste confessar aquilo, porque eu era uma pessoa envolvida em La Recocha, e certamente não se poderia confiar em mim. Nem mesmo Dylan, considerado o fato de que eu estava deliberadamente ocultando informações do FBI porque tinha meus próprios interesses.

— Ele tem ciúmes. — Dylan respondeu a minha colocação, com uma parcimônia que não combinava com a situação.

— Deve ser.

— É sério.

— Você perdeu completamente o ponto. Não está nem um pouco preocupado com aquela coisa?

— Estou, mas sei que você está indo bem. Além do mais, Vidal desperta o que há de pior em mim, desculpe, não consigo evitar.

Esse tempo todo estávamos deliberadamente sussurrando, ambos em sintonia, desconfiando da possibilidade de haver uma escuta ali, especialmente depois das acusações dos irmãos.

— Então foca no que desperta o melhor de você, precisamos disso agora.

— Estou tentando, mas você está praticamente me mandando embora.

Meu estômago se transformou no lar de uma revoada de borboletas. Eu ainda não sabia muito bem como lidar com o fato de que ele frequentemente tinha a melhor resposta para as melhores situações, notadamente quando envolvia o fato de que éramos duas pessoas apaixonadas que, por um infortúnio cruel do destino, não podiam ficar juntas. Ainda.

— Você é uma péssima influencia na minha vida.

Dylan fez cara de chocado.

— Não vejo motivos para você pensar dessa forma. Eu sou o mocinho.