Quarenta e Cinco - Armas de Fogo e Outros Problemas

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— Você precisa aprender a se defender. — Foi o que Vidal disse assim que entrei em seu escritório na manhã de terça-feira.

— Bom dia para você também.

Ele me ignorou e levantou de seu trono, caminhando em minha direção. Vinha tão rápido e direto, que tive medo de que me agarrasse. Um medo imbecil, que veio acompanhado de um ainda mais imbecil frio na barriga. Eu definitivamente não tinha ideia de como minha mente e meu organismo reagiam a ele, ou por que reagiam da forma que reagiam.

Mas eu começava a achar que tinha mais a ver com o fato de que ele era um completo mistério, um mistério que estava me ameaçando e me rondando, um mistério que poderia desvendar o meu perigoso segredo. Nada a ver com aquela noite na cozinha de seu apartamento, provavelmente uma vez tinha sido suficiente. Talvez ele mais me assustasse, neste momento, do que atraísse.

Ele não me agarrou, no entanto, de modo que a minha respiração presa pareceu mais uma imbecilidade de alguém inexperiente do que qualquer outra coisa. Vidal passou direto por mim e fez sinal para que o seguisse.

— Aonde estamos indo? — questionei, enquanto tentava acompanhar seu ritmo.

— Já disse, você precisa aprender a se defender.

— E como é que você saindo correndo pela mansão sem me explicar nada pode ajudar com isso?

Vidal parou no meio da escada que nos levaria à porta dos fundos.

— Você está diante do melhor atirador e do melhor lutador de La Recocha.

— É claro que você é. Me espantaria se você não fosse o grande destaque em mais nada.

— Você já sabe que eu sou o melhor na cama também.

— Não sei de nada, eu não transei com todo mundo em La Recocha. Mantenha o foco, tudo bem?

— Melhor que o senhor Campbell, talvez?

Revirei os olhos.

— Seu ego é tão gigantesco a esse ponto? Ou melhor... — Sorri esperta — Parece que Dylan é seu maior ponto fraco, não é? Não consegue tirá-lo da cabeça, não consegue superar a existência dele...

Vidal riu. E eu tive certeza de que estava coberta de razão.

— É claro, vou deixá-la pensar que sim. — respondeu ele, então voltou a caminhar em seus passos excessivamente apressados.

Ele terminou de descer as escadas, deu a volta nelas, para chegar até a cozinha, onde a senhora Velásquez cozinhava e acenou animada, e saiu pela porta dos fundos que dava no deque. Prosseguiu pelo jardim em direção a um grande galpão construído com tijolos a vista no qual ainda não tinha reparado antes, porque ficava em uma baixada depois da quadra de tênis. Aquele lugar era surreal.

Quando chegamos ao galpão, Vidal tirou uma chave do bolso do terno e destrancou a porta. Lá dentro havia uma academia, um tatame e, ao fundo, um aquário para prática de tiros. Mesmo do lado de fora pude constatar a enorme coleção de armas dispostas na parede. Estremeci. Ninguém tinha dito nada sobre armas e lutas. Eu não tinha nascido para disseminação da violência.

— Olha só, acho que não vai acontecer, não.

Vidal virou para mim com as mãos na cintura. Tinha um sorrisinho de desafio no canto dos lábios.

— Não é negociável.

— Ninguém falou que eu teria que fazer isso... — Apontei para o aquário — Para ser a dona da máfia.

Desvio de CondutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora