Capítulo 66 - A loucura contaminante

1.2K 151 283
                                    

AVISOS: contém flashback da Fai Shuang no começo do capítulo; tortura física e psicológica.

---

Era uma manhã chuvosa. Não ouvia-se sequer algum som de animal subindo as árvores do grande jardim do clã Fai e muito menos os pássaros cantarolando para iluminar um novo dia. Além disso, as folhas estavam secas, o que acabou trazendo um aspecto sombrio no local que uma vez era repleto de belezas exuberantes da natureza. De qualquer forma, essa imagem começou a ser mais comum, já que haviam se passado alguns anos desde que o Jovem Mestre Fai havia desaparecido do clã de uma vez por todas.

Fai Shuang encontrava-se sentada em um banco próximo a janela de seu quarto, onde dava para ver os servos trabalhando, mesmo na chuva, para alimentar os cavalos tão bem cuidados.

Ela abaixou seu rosto, olhando para um pequeno pratinho que estava em suas mãos contendo pedaços de maçã que foram-lhe cortados justamente para se alimentar também, já que estava muito magra. Até mesmo os funcionários que conseguiam vê-la, sabiam da sua mudança física desde que fora abandonada pelo seu irmão mais velho e perdeu a mãe na sua frente, de uma maneira tão maléfica.

Quando nasceu, Fai Wen deu-lhe o nome "Shuang" por trazer um significado ligado à alegria. Sendo mais específica, queria que a comunidade se lembrasse de sua filha como uma mulher que contagiava a todos com seu sorriso deslumbrante. Porém, a vida sempre está disposta a contrariar os desejos mais sinceros do ser humano.

Fai Shuang não era conhecida por ser uma pessoa que desperta a animação dos outros e sim, o medo. E seu sorriso, que um dia poderia ter sido considerado como a cura de todas as torturas, agora se tornou a própria tortura.

A jovem decidiu levantar de seu banco e ir a frente de um espelho grande que se localizava em uma parte do canto de seu quarto. Ela começou a tirar suas roupas mais pesadas e deixou seu corpo apenas com o tecido fino branco o rodeando, dando destaque a todas as marcas roxas que perambulavam por sua pele pálida.

Essas marcas, quando eram deixadas expostas, assustavam a todos os funcionários. Alguns acreditavam que a pequena dama estava com pouca hemoglobina. Mas, a outra parte, tinha completa certeza que tais veias estouradas não poderiam ter sido feitas apenas como consequência de uma doença ou algo do tipo. E sim, por violência humana.

E esses servos, estavam mais do que certos.

Desde que Fai Chen abandonou seu clã de origem e decidiu deixar tudo para trás, apenas sobrou Fai Xin e Fai Shuang como governantes desse clã, já considerado como falido e sem riquezas. Por conta dessa reputação se espalhando por todos os quatro cantos do país, o líder Fai se esgotava e preenchia o estresse com bebidas fortes, a fim de dar a si mesmo um final de vida apropriado para um homem como ele, que pecou incontáveis vezes.

Por outro lado, toda vez que seu pai se embriagava em seu quarto, Fai Shuang aproveitava o silêncio da noite e tentava escapar de seu próprio lar, a fim de procurar seu único porto-seguro.

Seu irmão.

Fai Chen.

Mas, suas pernas eram extremamente fracas. Todas às vezes que tentava fugir para um outro lugar, ficava exausta e era pega por algum dos guerreiros mais fiéis de Fai Xin, que a levava para o quarto do líder e deixava-a sob seus cuidados carniceiros. Tinha vezes que o mais velho estava tão alterado, que ousou bater no peito de sua filha enquanto dizia para ela virar um homem e ser melhor do que Fai Chen, uma desonra.

Neste dia tão sangrento, Fai Shuang ficou com imensas marcas em seu peito, que por uma grande infelicidade já estavam em um tamanho que a machucava, por exemplo: caso deitasse de modo errado na cama. Então, essa agressão contra seu corpo tão frágil, deixou feridas tanto no físico quanto no psicológico da jovem, que ao se olhar no espelho, desejava chegar a um nível de guerreira na qual nenhum homem poderia ousar em combatê-la frente a frente.

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now