Capítulo 45 - A dor da verdade

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Quando Fai Chen ouviu Wei Huli o chamando daquela forma tão íntima e delicada, sentiu uma fisgada em seu coração. Sabia que seu antigo amigo era um bom observador e certamente iria conectar todos os pontos, ou seja, se lembraria facilmente que o "cultivador vendado" era na verdade, esse tempo todo, o Jovem Mestre Fai.

Depois de olhar para Fai Chen, Wei Huli percebeu a segunda presença, a qual Hong Shaoran encarava fixamente. No caso, era Hu Long, o incrível assassino que matava quaisquer que fossem os inimigos em fração de segundos, como um animal selvagem. Porém, o Jovem Mestre Wei não estava nem um pouco interessado naquele homem, e sim no outro, que tinha olhos azuis escuros e continuava com a cabeça abaixada sem emitir uma resposta para sua pergunta.

"ChenChen... Eu sei que é você. Não é?", Wei Huli perguntou pela segunda vez, recitando em seguida um encantamento que fez seu arco desaparecer, a fim de ter ambas as mãos livres.

"ChenChen? O que caralhos é isso?", Hong Shaoran virou seu rosto para o homem de cabelos acinzentados, que olhava tão carinhosamente para o cultivador de vestes roxas. "Você o conhece?"

"Como não o conheceria? Ele é...", antes que Wei Huli pudesse terminar sua frase, uma risada dolorida foi escutada por todos e que vinha justamente do Assassino de Olhos Sanguinários, que ainda estava olhando para seu Daozhang, sem saber como reagir de fato.

Hu Long queria andar e ficar frente a frente ao jovem que ele acabara de descobrir que enxergava, mas, por conta de suas emoções, suas pernas não se mexiam e sua mente havia bloqueado todos os outros homens que haviam naquele local. Com os olhos lacrimejados, ele disse com total ênfase:

"Fai Chen. Você sempre foi Fai Chen", Hu Long abaixou seu rosto, tentando manter sua calma e não desabar pelo sentimento de ter sido enganado por todo esse tempo pelo homem por quem nutria tantas emoções. "Cegueta... Como você pode fazer uma coisa dessas comigo?"

O corpo inteiro de Fai Chen dava espasmos conforme ouvia a voz trêmula de Hu Long. Ele entendia o sentimento que o assassino estava transbordando por conta dele e era isso o que mais o machucava.

A confiança quebrada, pela segunda vez.

"Hu Long... Eu ia lhe contar tudo...", Fai Chen pronunciou baixinho, percebendo que cada palavra que saía da sua boca era como farpas indo diretamente no coração do outro. Mas o que ele poderia fazer? Ficar em silêncio não era uma boa opção para esse momento, de qualquer maneira. Então, o jovem tinha que tentar passar as mensagens para o outro. "Porém... Nós acabamos nos empolgando e..."

"Empolgando? Eu lhe mostrei meus sentimentos e você... Simplesmente continuou a mentir...", Hu Long retrucou, mordendo seus lábios. "Depois de tudo o que eu disse. Você não conseguiu entender o que significa confiança para mim? E como eu menosprezo mentirosos?"

Aquela última frase mencionada pelo assassino foi como um balde de água gelada sendo jogado diretamente no rosto de Fai Chen. O cultivador se lembrou bem dessa frase, que Hu Long já havia dito quando estavam na casa do humilde costureiro Xiao Yan.

"Acabei de dizer que iria lhe contar a verdade depois e..."

"VOCÊ É FAI CHEN!", o assassino gritou, sem ligar para absolutamente mais nada. "COMO VOCÊ PÔDE ESCONDER ISSO DE MIM?"

O medo que o cultivador sentia antes sobre esconder a verdade em troca de uma vida mais segura não era nada comparado ao medo que corria em suas veias nesse momento. O medo de que Hu Long não o entendesse e o julgasse para sempre. E esse medo certamente seria a única coisa que poderia derrotá-lo.

"Hu Long... Por favor, me escute...", Fai Chen tentou voltar a dizer, mas as lágrimas já escorriam pelas suas bochechas tão vermelhas, mas agora por outra razão. "Eu sempre tive medo de ser feliz porque toda vez que conseguia sentir pelo menos uma fração de felicidade dentro da minha vida, algum coisa ruim acontecia. E... Você..."

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now