Capítulo 80 - A solidão do cultivador

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Aos 19 anos, Fai Chen fugiu e começou seu cultivo.

Sozinho.

Na tradição do taoísmo, o ato de cultivar é chamado de Xiu Lian, que significa "rever a sua própria imortalidade", deixando claro que deve-se melhorar sua saúde, aumentando assim, sua força.

Para Fai Chen, a vida, por mais que seja sofrida, merece ser vivida; e esse pensamento maduro e íntimo foi o suficiente para fazer com que achasse o propósito para viver, mesmo que em constante dor e tortura.

E essa frase, martelou sua mente por volta de anos.

Mas, de todo modo, sua maior inspiração para seguir esse caminho estava ligado ao sentimento de ajudar outras pessoas, porém apenas quando fosse necessário.

Esses momentos de necessidade sempre ocorriam nas noites mais frias, quando o mundo está em silêncio e o único barulho que os homens escutam é o som dos animais noturnos esperando a melhor hora para atacar a pobre presa. São nessas noites que saía para cultivar e conquistar, pelo seu esforço, gratidão. Momentos onde os homens não sentem medo, raiva ou nojo dele e sim gratidão, por retirar alguma maldição da família, aniquilar algum espírito ou até mesmo, combater jovens cultivadores demoníacos, que causam certos problemas.

Por mais que os registros de sua presença no clã Fai foram apagados, ainda tinha um certo receio, graças aos seus traumas, do contato humano e que sua identidade fosse revelada. Se isso acontecesse, certamente passaria por torturas como as quais foi obrigado a passar por prazer de seu próprio pai ganancioso e louco.

Deixando esses momentos de nostalgia e melancolia de lado, em uma noite agitada, enquanto andando pela terra já pisada e graças a chuva da tarde, sujando um pouco suas botas de cano baixo, Fai Chen decidiu seguir o som mais pesado da floresta, indicando a presença de seres vivos.

Enquanto andava, chegou ao ponto de ouvir um barulho extremamente alto, bem próximo do local que estava indo ao encontro. De início, estranhou, então chegou mais perto, levantou um pouco a sua venda e viu do que se tratava: um imenso yaomo em frente a homens de diferentes idades. Esse yaomo era um dos comuns e não tão difíceis de eliminar, visto que Fai Chen sabia como combater perfeitamente bem.

O jovem levantou dois dedos, o indicador e o do meio, da mão direita e com a mão esquerda, pegou sua espada. Após recitar um versículo do cultivo de Xiu Lian, tocou a espada com seus dois dedos e imediatamente, um som simbolizando o poder, foi escutado. Na noite tão barulhenta e cheia de caos, a espada de Fai Chen brilhava, como a luz da lua, querendo iluminar tudo que havia vida. E assim, o cultivador atacou.

Como um raio de luz, a velocidade dos movimentos do jovem era rápida demais para que os olhos nus dos outros homens cultivadores pudessem acompanhar e até mesmo, os do yaomo.

A partir do momento que a espada tocou no corpo do espírito maligno, em um único corte na barriga, o desfez no meio, jorrando um líquido preto na frente dos mais velhos.

Depois que matou a criatura de Diyu, os homens que o cercaram, agradeceram com um imenso louvor por ter salvado suas vidas. Em compensação, um senhor de idade começou a mencionar sobre uma Deusa Curandeira que muitos líderes famosos estavam em busca pelo que diziam sobre ela.

A Deusa Curandeira do Rio Amarelo podia curar qualquer que fosse a enfermidade de uma pessoa.

Fai Chen, enquanto andava de volta a sua cabana, começou a pensar seriamente sobre tudo que havia escutado.

Existiria mesmo uma mulher com o poder de curar os enfermos? E o caso de Fai Chen, seria considerado enfermo?

Várias perguntas martelavam a mente do jovem, que se sentia um tanto ansioso e esperançoso pensando nelas. Graças a essa mudança de humor, quase que Fai Chen não escutou um barulho estranho vindo às suas costas.

O jovem se virou rapidamente, tocando a bainha da espada, pronto para atacar quem fosse.

Porém, algo lhe surpreendeu. Seu manto foi pego e puxado por uma mão humana e suspirou, decepcionado.

"Sou cego. Não está percebendo? Não posso ajudar um homem", ele disse, apontando para a venda em seus olhos.

Fai Chen não sabia como reagir e apenas esperou as próximas ações da pessoa que o agarrava. Logo, escutou lamentos pesados e uma frase, que nunca havia ouvido sair da boca de um homem antes, foi escutada claramente e o pobre coração abandonado, não pode deixar de sentir.

"Eu quero viver."

Fai Chen levantou a venda, olhando um homem derrubado perante seus pés, com os olhos já fechados e suspirando fraco. O jovem cultivador se sentiu na obrigação de ajudá-lo, por mais que um receio preenchesse sua mente.

Desde que saiu de seu clã, correu para longe de qualquer contato humano mais íntimo e próximo. Ele apenas salvou algumas vidas quando via a necessidade de interferir, mas jamais se aproximou novamente e de uma forma tão afetuosa com outro humano. Era deprimente sentir essa solidão batendo no peito, mas era algo necessário para que nunca descobrisse sua verdadeira identidade.

De todo jeito, em segundos, já havia colocado o homem desmaiado e misterioso em suas costas, caminhando o mais rápido ainda para sua cabana.

Mal sabia Fai Chen que esse homem mudaria toda sua linha do destino novamente.

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- ale yang on -

E finalmente acabou o flashback do nosso querido Fai Chen! O que acharam? Conseguiram entender melhor o protagonista dessa novel cheia de emoções?

Aliás, o próximo capítulo será o último da Segunda Parte de The Cultivation of the Gaze. Estou muito ansiosa para começar a Terceira Parte e a última da minha história. Espero que continuem ao meu lado e me apoiando!

Obrigada por tudo!

Até domingo!

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now