Capítulo 13 - A melancolia de um nome

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Desde pequeno, Fai Chen treinou seus ouvidos para diferenciar quaisquer mudanças sonoras. Esse treinamento foi feito às custas do medo que sua mãe sentia de o menosprezarem por ter olhos diferentes dos habituais, aos quais toda a população já estava acostumada. Então, desde que a esposa de Fai Xin, a Madame Fai Wen, descobriu o dom dos olhos de seu filho e o tanto que os mesmos estavam trazendo males a família, para que no futuro ele não sofresse tanto, deu a ele vendas para se acostumar com o mundo em meio aos sons.

Nas horas que o líder Fai Xin não estava por perto, Fai Wen, como uma ex cultivadora, ensinou seu filho a cultivação, mostrando a ele que se fosse possível, poderia um dia usar seus olhos na forma de cultivo. Porém, esse método nunca mais foi pensado desde a primeira perda de dinheiro e território do clã Fai, que foi consequência de um uso errado dos olhos de Fai Chen.

Nesse momento, o cultivador estava querendo abrir a porta do quarto, fingir que não tinha escutado absolutamente nada e seguir seu caminho normal. Mas a curiosidade era maior. Sendo assim, não abriu de imediato a porta e na verdade aproveitou para escutar um pouco mais da conversa entre a misteriosa senhora e Hu Long que, a cada frase, parecia que iria desmoronar com tantos sentimentos drásticos.

"A-Yue? Não poderia me esquecer da dama Li Ming-Yue. Mas... Oh querido... Você ainda está em busca dela?", a senhora respondeu entre suspiros, deixando à mostra uma certa compaixão.

"Como poderia não estar? Eu sei que ela ainda está viva", a voz de Hu Long estava tão cheia de angústia que, por um momento, Fai Chen pensou que entendia muito bem essa sensação.

"Hu Zhuang... Não há nenhum vestígio sobre ela desde... Bem, você sabe..."

"Ela se escondeu, tenho certeza disso."

"Você continua tão teimoso..."

"É um charme", após Hu Long ter dito essa frase tão única, do lado de fora do quarto, Fai Chen esboçou um sorriso. Era incrível como o jovem assassino conseguiu mostrar um pouco de humor até quando sua alma estava um completo desastre. "Então, A-Yue não veio para cá? "

"Não. Sinto muito por lhe decepcionar..."

"Não há porque sentir muito por mim."

"Hu Zhuang, você é um homem bom. Pare de dizer esse tipo de frase."

"Um homem bom teria deixado sua parceira no campo de batalha?"

O cultivador lá fora, que estava com um sorriso estampado no rosto, mudou de feição logo que ouviu a última frase de Hu Long. Seu coração bombardeava e sua mente explodiu. O assassino realmente tinha histórias bem pesadas e que provavelmente, se Fai Chen não estivesse ouvindo agora, nunca seriam mencionadas a ele.

"Aquilo não foi sua culpa, querido. Você sabe muito bem o que aconteceu."

"Eu sei e é por isso que me culpo", essa foi a última frase relacionada a mulher que tinha o nome como Li Ming-Yue. Depois, Hu Long mudou completamente de assunto, deixando o ambiente um pouco menos cheio de amargura. "Senhora, o que achou do meu lindo companheiro?"

"Quem? O cultivador vendado? Parece ser um homem calmo e respeitável. Espero que não esteja dando trabalho a ele."

Um riso rápido escapou dos lábios de Hu Long, deixando o cultivador, que finalmente tocou na maçaneta da porta, um tanto envergonhado por aquele comentário vindo do assassino e também da senhora desconhecida. Seguidamente das risadas, Fai Chen abriu a porta e como de costume, voltou a sua postura tranquila e agradável para quem o visse.

"Cegueta, você chegou em uma boa hora!", Hu Long mencionou, levantando-se da cama e em uma pequena fração de tempo, a senhora também estava de pé, já caminhando para ficar próxima do cultivador que mencionaram a segundos atrás. "Eu estava dizendo a Senhora Mei, dona do estabelecimento, o quanto você é lindo e gracioso."

"Pare de bobagens, Hu Zhuang", o homem mais alto respondeu, abrindo um sorriso fraco e tentando não lembrar da conversa ouvida entre ambos.

Fai Chen virou seu rosto para que ficasse mais ou menos frente a frente a dona da pousada, que foi tão gentil com Hu Long e com ele. Afinal, se não fosse pelo desconto da senhora em relação ao quarto, era bem provável que o assassino não teria conseguido pagar apenas com apostas e jogos de mesa.

"Muito obrigado pelo desconto do quarto, Senhora Mei", o cultivador agradeceu, realizando uma breve reverência a senhora a sua frente.

"Não tem por que agradecer, Daozhang. Conheço o jovem Hu Long, foi apenas uma contribuição pelos bens que ele me fez."

"Hum? Contribuição pelos bens? Hu Zhuang é bondoso?", Fai Chen respondeu ironicamente, soando engraçado aos ouvidos do assassino, que não aguentou aquela forma de falar sobre o mesmo e soltou risadas que, desta vez, nos ouvidos do cultivador, eram gostosas de escutar.

"Eu posso ser bonzinho quando eu quero, Cegueta."

A Senhora Mei deu uma rápida despedida, deixando-os sozinhos no quarto, que agora estava ainda mais cheiroso do que antes. O cultivador pegou suas vestes que tinham sido deixadas na beirada da cama e caminhou lentamente ao pequeno banheiro que lá havia, colocando os robes superiores e trocando a calça fina por uma mais grossa.

"Já está pronto, Cegueta?", Hu Long perguntou, esperando Fai Chen perto da mesinha de encosto que havia no quarto.

"Sim, já estou saindo", depois que Fai Chen o respondeu, saiu do banheiro e andou um pouco, estendendo sua mão a procura de sua espada, que tinha deixado perto da mesinha também.

"Cegueta, sabia que você é incrível?"

"Um elogio... Você está bem?"

"Não fale assim, até parece que eu não te elogio", um tom debochado saiu das cordas vocais de Hu Long, trazendo um sorriso ao rosto de Fai Chen. "O que eu queria dizer é que você é incrível por saber vestir suas roupas mesmo não enxergando. Se eu tentasse fazer isso, não teria bons resultados."

Fai Chen soltou uma risada, imaginando o assassino tentando colocar seus robes de olhos fechados. Realmente, não seria uma boa ideia.

"Estou com uma curiosidade. Por que suas roupas são puxadas ao tom de roxo?"

"Apenas gosto da cor", Fai Chen gostava da cor roxa, porém o verdadeiro motivo para escolher essa cor para suas vestes estava dentro de uma certa lembrança carinhosa de sua infância. Um jovem servo que foi comprado pelo clã Fai disse que as cores do clã não combinavam com o garoto que tinha o dom da verdade, pois o azul que predominava na família era uma cor muito fria e o mesmo tinha dito para Fai Chen que a cor roxa combinaria com sua personalidade, por ser um garoto cheio de mistérios e, ligando a um lado mais espiritual, essa cor representaria a libertação de todos os seus medos. Então, desde que o cultivador atribuiu essa cor às suas vestes, algo dentro de seu coração mudou por completo, tornando-se mais forte em qualquer situação.

"Tem bom gosto, combina perfeitamente com você", Hu Long respondeu por fim, entregando a espada de Fai Chen para o mesmo e logo caminhando para a porta do quarto. "Vamos?"

"Claro... Mas antes... ", Fai Chen queria ter conseguido finalizar sua frase, mas algo dentro de si fez com que parasse imediatamente. O cultivador desejava e adoraria perguntar sobre a garota que deixou Hu Long tão melancólico, porém, pelo tom de voz de Hu Long no momento que conversou com a senhora sobre a mesma, foi devastador só de lembrar de seu passado relacionado a ela. Então, para o bem emocional do assassino, o cultivador preferiu se calar por enquanto e apenas mudar a frase. "Esqueça. Vamos logo."

Deste jeito, ambos saíram do quarto de hóspedes e se dirigiram para uma nova caminhada pela floresta imensa que os levaria para o destino que Fai Chen tanto precisava. O caminho para o Rio Amarelo.

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- ale yang on -

Agora as coisas vão começar a esquentar... Só não posso dizer em que sentido.

Até domingo!

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now