Capítulo 48 - Uma amizade passada

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Wei Huli era um jovem diferente dos demais e que sempre chamava a atenção de todos, tanto por sua boa eloquência quanto por sua aparência, que parecia ter sido concebida pelos deuses. Cabelos longos acinzentados que lembravam o pelo de um animal indomável, olhos tons de púrpura que deixavam clara a sensação de tristeza, por mais que fosse um jovem de elite e tivesse uma boa condição de vida, e que Fai Chen nunca conseguiu compreender. Esse mesmo jovem, que tinha completado seus 28 anos, estava diante do cultivador, mostrando uma imensa calmaria com suas palavras e realmente desejando conversar com o outro.

Entretanto, Fai Chen se sentia envergonhado e se recusou a levantar o rosto, não olhando em seus olhos. Ele sabia que seu amigo de infância se sentiria abalado com aquilo, mas Fai Chen não gostaria de ver as dores que marcaram aqueles olhos tão únicos.

"ChenChen... Podem passar anos, mas você ainda sente receio em me olhar?", Wei Huli o questionou, puxando um pequeno banquinho de madeira que estava perto de uma mesa baixa e o colocando bem perto da cama, na qual Fai Chen estava sentado. Ficando frente a frente com o mesmo.

"Sabe que não é isso. Eu apenas não desejo descobrir alguma coisa que você não tenha me contado. Todos nos escondemos nossas maiores angustias, dores e...", Fai Chen tentou continuar a dizer, mas seu lábio foi pressionado pelo indicador do maior. "Huli..."

"Não desperdice palavras, ChenChen. Eu... Realmente estou magoado. Como você pode ter confiado em um assassino e não em mim?"

Fai Chen balançou a cabeça, confuso com aquelas palavras vindas de seu amigo. O que ele estava querendo dizer com aquilo? Seria porque havia andado ao lado de Hu Long por todo esse tempo ou por algum outro motivo? Eram inúmeras hipóteses, então, o cultivador ousou perguntar como uma maneira de tentar entender as emoções que perturbavam Wei Huli.

"Como assim? Hu Long não sabia quem eu era até... Bem, você viu."

"Não estou falando sobre isso. Quero dizer, também. Mas, diante de todo aquele caos, você levantou seu rosto para olhá-lo nos olhos, sem medo nem receio de mais nada. Achou mesmo que eu não perceberia?", Wei Huli respondeu, usando um tom de voz gracioso, deixando duvidoso se ele realmente estava magoado pelo ato de Fai Chen com Hu Long.

Em outras palavras, Wei Huli estava falando sobre o momento no qual Fai Chen, diante do conflito entre ele e Hu Long, levantou seu rosto e desejou olhar para o assassino, mostrar que confiava nele e não era por isso que estava mentindo todo esse tempo, e sim pelo medo de perder a única coisa boa que a vida lhe dera desde o começo de todo o caos em sua linha do destino. Porém, no momento em que escolheu tomar essa decisão, Hu Long estava com a cabeça baixa, negando-se a vê-lo por conta de seus sentimentos de confiança terem sido amassados como uma folha de papel que, mesmo se fosse aberta novamente, continuaria danificada.

"São situações diferentes, Huli...", Fai Chen mencionou, tentando manter seus sentimentos firmes e não desabar na frente de seu antigo amigo, que agora só queria respostas. "Você se lembra quando eu saí do clã Wei e voltei ao meu? Depois de alguns anos, meu pai comprou Hu Long como um servo e..."

Fai Chen engoliu seco. Ele deveria dizer a verdade para Wei Huli e porque existiam tantos sentimentos em relação a Hu Long. Mas, ao mesmo tempo em que pensava em se justificar, não sabia se o outro homem estava interessado em saber sobre sua relação amorosa com um assassino.

"De qualquer forma, eu confio nele e em você também. Só que são... Situações diferentes... Eu realmente não sei... Me desculpe... Mas eu não posso olhar para você."

O mais velho entre os dois homens abriu um sorriso leve e passou sua mão, principalmente as pontas dos dedos, na bochecha do cultivador, que agora tinham curativos.

"Não quero mais falar sobre isso. Agora me diga, quem fez isso com seu delicado rosto? ", Wei Huli mudou de assunto, soltando a bochecha de Fai Chen e cruzando seus braços. "A-Ran sabe disso?"

"Sim... Disse que mataria os guerreiros... Ele estava brincando, certo?"

Um silêncio entre os dois jovens se instalou, deixando Fai Chen entender claramente a resposta para sua pergunta.

"Oh... Hong Shaoran é..."

"Bem violento. Mas gosto do jeito dele. Age como um verdadeiro líder. É mais temido do que amado", disse Wei Huli por fim.

Um segundo silêncio se iniciou, deixando a mente de Fai Chen entrar em inúmeros pensamentos. Ele sabia, desde que Hu Long havia contado a ele, que Hong Shaoran e Wei Huli tinham uma relação extremamente complicada. Seus pais haviam desfeito a aliança de irmandade entre si, porém os filhos não se desgrudaram. E por mais que parecesse ao público que não se suportavam, Wei Huli permanecia neutro às ações de Hong Shaoran. Este sempre explodia e se tornava uma pessoa agressiva perto de Wei Huli, provavelmente a fim de esconder seus reais sentimentos. Era de fato bem complicado.

"As servas que vieram cuidar de seu rosto?", Wei Huli voltou a dizer, questionando o menor.

"Sim. O Jovem Mestre Hong que pediu."

"Certo. Pedirei o retorno delas para mudarem suas roupas. O sangue manchou o tecido de seus ombros. Você deve ficar limpo e bem cuidado", Wei Huli, assim, levantou-se do banquinho de madeira e o colocou de volta perto da mesinha. "Eu até convenceria Shaoran a me deixar levá-lo ao meu clã, mas... Meu pai está terrivelmente doente."

"O líder Wei? Mas... Ele sempre foi um homem tão forte. Se me permite perguntar, o que aconteceu com sua saúde?"

"Nem os médicos sabem. Seus pulmões estão falhando e sempre está cuspindo sangue. Além disso, grita feito um... Lunático. Mal me reconhece", um suspiro saiu dos lábios de Wei Huli, deixando nítida sua preocupação pelo seu pai e uma certa amargura pela situação. "Acredito que os deuses estejam o punindo."

"Punindo?"

"Pelos males que fez a povos distintos."

Fai Chen não ousou mais perguntar. Sabia o básico da história de líder Wei. Tanto ele quanto seu próprio pai, Fai Xin, dizimaram diversos povos para a conquista de territórios e há lendas que diziam que ambos os líderes atacaram até mesmo certos grupos de bestas demoníacas. Entretanto, nem Wei Huli e muito menos Fai Chen acreditavam nas lendas, pois se tivessem realmente destruído as bestas, estariam se vangloriando sobre isso.

"Bem, de qualquer forma, agora eu realmente preciso voltar. Mas antes, preciso lhe dizer duas coisas, ChenChen", o jovem de cabelos acinzentados disse, virando-se de costas e caminhando lentamente até a porta. "A primeira coisa que devo lhe dizer é sobre a Deusa Curandeira. Eu e Shaoran fomos ao local onde ela deveria estar. Achamos uma casa abandonada, nenhuma pessoa por lá. Entretanto, havia uma energia forte dentro da mesma. Era como se o ambiente estivesse sob a proteção de algo. Me compreende?"

Fai Chen assentiu, pensando um pouco a respeito. Provavelmente, existia uma certa criatura com um poder sobrenatural no local, mas que o estava protegendo de olhos mundanos.

"A segunda coisa é que você estava lindo no Festival da Raposa, ChenChen."

"...", os olhos azuis escuros de Fai Chen se arregalaram. Ele até pensou em levantar seu rosto, mas segurou sua emoção. "Você..."

"Desde as águas termais, eu já sabia quem era o "cultivador vendado". Porém, dei-lhe espaço, já que não queria minha ajuda e ainda continuou ao lado do Assassino de Olhos Sanguinários."

Um riso gentil se soltou dos lábios do mais velho, que já estava pronto para sair da sala, mas que parou com uma única palavra de Fai Chen, que ainda estava perdido sobre tal comentário vindo de seu amigo.

"Desculpe."

Wei Huli, como resposta, apenas sorriu e saiu do cômodo, encontrando algumas servas que estavam por perto e pedindo a elas um novo conjunto de roupas para Fai Chen. Em seguida, se retirou do clã Hong e caminhou em direção ao seu clã murmurando uma melodia.

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- ale yang on -

Nos futuros capítulos, haverá mais conversas entre Fai Chen e Wei Huli. Essa foi apenas a primeira interação deles "cara a cara".

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The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now