Capítulo 51 - A criança ensanguentada

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AVISO: Flashback da história de Hong Shaoran.

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Era madrugada e Hong Shaoran não conseguia dormir.

Como estava com seu rosto um tanto machucado pelos golpes de Hu Long e sua mão agora sangrando por conta do soco que dera na frente do espelho de seu quarto, seus pensamentos tranquilos não apareciam e só os mais angustiantes voltavam à tona.

Encostou seu corpo na parede próxima a cama e aproveitou para levantar sua mão, olhando a condição em que estava. Não havia feito tantos cortes, o que era bom. Poderia escondê-los mais tarde com bandagens e colocar uma luva.

Ninguém saberia de tal acontecimento, apenas ele.

Já estava acostumado a esconder os cortes e deixar o tempo levá-los, cicatrizando-os. Porém, por mais que omitisse a situação e achasse que poderia levar consigo sozinho, tinha vezes, no final da noite, que não aguentava. Não eram apenas "cortes". Eram memórias que poderiam ser consideradas facas, que rasgam a única coisa que o mantém vivo. Seu coração.

Ao olhar para o sangue escorrendo de seus dedos, sua mente, já cansada e devastada, levou o jovem de cabelos escuros para suas lembranças e para onde tudo havia começado.

Hong Shaoran, desde pequeno, era uma luz dentro do clã Hong. Seu sorriso era o que fazia todos os funcionários esquecerem de suas obrigações e se divertirem com o pequeno. Madame Tao tinha um imenso orgulho de seu filho, amado por todos e tão corajoso. Lembrou-se de um dos dias em que foi à floresta para treinar e mostrar ao seu pai, o grande líder Hong, como conseguia ter grande força, mesmo possuindo um corpo infantil.

"Droga... Eu só tenho mais duas flechas...", murmurou enquanto caminhava mais adentro da floresta e não encontrava nada por lá, o que já estava achando bem estranho, pois toda vez que caçava ou treinava por essa área via pelo menos algum pássaro. Mas nem isso havia.

Porém, Hong Shaoran, por mais que fosse apenas uma criança, tinha ouvidos aguçados graças a genética vinda do lado de sua mãe, uma grande cultivadora, que viera de partes mais frias da região. Então, foi extremamente fácil para ele ouvir novos passos dentro da floresta. A criança ergueu seu arco e o apontou para onde ouvia tal barulho, mas queria descobrir o que era antes de soltar.

Dentro de minutos, sua dúvida se foi. Uma criança, ensopada de sangue, apareceu. Chorando e tremendo.

O mais alto entre os dois chegou perto do outro, mas ainda não havia abaixado seu arco com medo de que pudesse ser um yaomo disfarçado.

"O que você está fazendo aqui?", perguntou Hong Shaoran, um pouco ansioso pela situação, já que isso jamais tinha acontecido consigo.

"E-Eu... Não sei...", o garotinho ensopado de sangue disse, parecendo realmente estar perdido e não sabendo o que fazer.

"Por que você está manchado de sangue?"

"Eu também não sei..."

"Você sabe alguma coisa?"

O pequeno balançou a cabeça, deixando claro que não sabia de absolutamente nada e muito menos algo relacionado a si mesmo. Hong Shaoran suspirou decepcionado, mas decidiu ajudar o outro garoto, pois aparentemente fora abandonado e maltratado.

Como sua mãe sempre o ensinara, devia-se ajudar os outros e não os menosprezar pela aparência. Sendo assim, o mais alto largou o arco no chão e estendeu a mão direita para que o outro pudesse pegá-la.

"Venha. Não precisa ter medo. Eu vou levar-lhe para minha casa. Tem uma senhora que faz uma sopa deliciosa... Você está com fome?"

"Estou...", o garoto pegou a mão de Hong Shaoran e abriu um leve sorriso, mas com os olhos assustados. "Obrigado..."

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now