Capítulo 93 - Livros de romance

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Em um certo dia, Li Ming-Yue mentiu para seu Shizun pela primeira vez. Ela disse que estava com uma dor de cabeça infernal e se fosse treinar, poderia falhar miseravelmente ou até machucar seus amigos. Hong Wu, sabendo que o cultivo de sua discípula requer uma saúde perfeita, deixou a jovem descansar.

Graças a sua mentira, a garota correu para seus aposentos e deitou-se na cama, olhando para o teto e analisando sua situação atual.

Desde que pousou seus olhos escuros em Xia Ling, seu corpo e mente se tornaram fracos quando a via. Isso incomodava Li Ming-Yue, pois não conseguia se concentrar em absolutamente nada quando a falsa concubina estava por perto. Nem mesmo suas palavras saiam de sua boca.

De início, Li Ming-Yue achou que poderia ser alguma alergia e em um dos seus primeiros pensamentos foi procurar imediatamente uma serva curandeira. Mas, não faria o mínimo sentido ser alérgica a um outro ser humano e ela apenas passaria vergonha. Então, optou por um outro lado. Não o físico, mas sim o psicológico.

A guerreira, antes de encontrar com seu Shizun essa tarde, foi de manhã na grande biblioteca e pegou cinco livros de romance, aqueles que um dia Hu Long perguntou se tinha lido. Ela nunca foi fã de narrativas com esse gênero literário, pois sempre os achou fantasiosos demais. Não tinha como uma mulher achar um homem como nos livros. Sem defeitos.

Mesmo assim, os pegou para ler, pensando que poderia achar alguma resposta a suas perguntas. Mas, por mais que se passassem horas lendo, Li Ming-Yue não encontrava. Aqueles livros eram todos iguais. Romances entre casais que podem ser aceitos pela sociedade sem dramas. E ela não estava em busca desse tipo de romance.

Até que o último livro que pegara, continha fragmentos interessantes sobre o que buscava de certo. Um romance proibido.

Enquanto lia, Li Ming-Yue prestava atenção a cada detalhe. A história era sobre uma mulher que, para salvar seu pai idoso de uma futura guerra, tomou seu lugar como guerreiro. Ela teve que passar por mudanças físicas para enganar a todos e isso, por mais que fosse fácil aos olhos dos outros, para a mulher, era uma tortura. Ter que cortar seus longos cabelos, esconder seus peitos, criar uma doença para justificar o sangue saindo pelo meio de suas pernas todo mês e entre outras situações foi muito difícil para a personagem.

Depois de uma longa guerra, a mulher havia perdido uma perna e estava com um corte pequeno na garganta. Em um momento de colapso e sabendo que iria morrer de qualquer forma, ela estava a gritar sobre a verdade a todos, se não fosse a presença divina que apareceu diante de seus olhos. Uma cultivadora.

E, a partir do momento que ambas se olharam pela primeira vez, elas sentiram que seus corações foram tomados pelo amor.

A cultivadora a salvou e tratou de todas suas enfermidades. Esse cuidado durou muito tempo e as duas mulheres mostraram seus sentimentos, criando diversos juramentos que infelizmente nunca foram cumpridos, pois, guerreiros inimigos as encontraram dentro de uma pequena cabana.

Enquanto machucavam a cultivadora na frente da guerreira, gritavam palavras esdrúxulas, como:

"VOCÊ É NOJENTA! UMA GUERREIRA MULHER E AINDA MORANDO COM UMA CULTIVADORA! QUE OS DEUSES LHES CONDENEM!"

Entre tantos gritos e tapas, a guerreira ergueu o rosto ensanguentado, olhou para uma última vez à sua amada cultivadora, que não expressava mais uma única reação em seu corpo, e disse:

"Assim como homens amam mulheres, as mulheres... podem amar mulheres..."

Quando Li Ming-Yue terminou a leitura, sentiu seu rosto esquentar.

Era isso que tanto procurava. Mas, por mais que tivesse as respostas, sabia que jamais deveria deixar suas faíscas por Xia Ling amostra. Pois, a sociedade é crítica e mesmo que o que aconteceu com a guerreira e a concubina estivesse apenas dentro de um livro de romance, a realidade pode ser ainda mais torturante.

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now