Capítulo 8 - O clã Wei III

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O cultivador estava curioso com esse jeito de Hu Long tratar seu antigo Jovem Mestre, apresentando tanto ódio e fúria pelo mesmo. Trazendo de certa forma uma lembrança vaga de sua irmã mais nova, quando foi enganada por um homem e o insultou até a madrugada.

"Então você tem raiva do Jovem Mestre Hong...", Fai Chen tentou iniciar uma frase sobre o que estava ouvindo, porém não demorou muito para ser cortado.

"Raiva é pouco. Aquele narcisista de merda só sabe pensar em si mesmo. Nunca sequer pensou em mim como um ser humano, e sim apenas como uma máquina de matar, a fim de não sujar suas próprias mãos. Na verdade, todo o clã Hong é dessa forma. Agem como se fossem os donos de todos e... É, certamente, o clã com mais torturas físicas. Só de lembrar já sinto vontade de vomitar toda essa sopa", Hu Long continuou a dizer sem querer parar. Aparentemente, o jovem assassino tinha bastante rancor das ações do clã em geral, despertando ainda mais curiosidade do ouvinte.

"O clã Hong e o clã Wei são inimigos?"

"Eles disputam por territórios, mas não chegam a se tornarem inimigos. Até porque o clã Hong precisa do clã Wei para a troca de mercadorias, matérias-primas e coisas do tipo", a explicação do jovem se tornava cada vez mais explícita, tornando-se mais fácil de compreender a relação entre esses dois clãs tão poderosos. "Wei Huli está sempre mantendo a calma ao lado de Hong Shaoran, que consegue implicar com ele a todo momento. Eles são completamente o oposto um do outro. Sinceramente, não sei como Wei Huli continua ao lado de Hong Shaoran sem ter batido nele sequer uma única vez."

"Espera. Hong Shaoran fica ao lado de Wei Huli a todo momento, mas o irritando... Isso..."

"Nem tente entender Hong Shaoran. Aposto que esse jeito de ser com o Jovem Mestre Wei é de acordo com alguma de suas estratégias para conseguir mais lucro ao seu próprio clã. Mas cá entre nós, esse ódio todo... na cama deve dar outra resposta". A frase final de Hu Long fez com que as bochechas de Fai Chen ficassem quentes. Aquelas palavras com duplo sentido não deveriam ser ditas em uma mesa e muito menos na frente do cultivador, que não suportava ouvir tais coisas tão chulas.

Por mais que Fai Chen desejasse saber mais sobre o clã Hong, decidiu se calar, pois sua mente estava tentando lhe trazer lembranças sobre esse clã e de acordo com suas memórias, esse nome não lhe era estranho. O clã Fai já entrou em uma aliança com o clã Hong, porém o jovem pensador não conseguia se lembrar ao certo sobre qual assunto era.

"Terminei minha sopa. Vamos pegar nossas coisas?", o cultivador questionou o homem à sua frente, diminuindo sua vergonha de antes e mantendo a classe.

"Cegueta, podemos antes tomar um banho nas águas termais? Eu consegui dinheiro justamente para passar um dia por aqui. Não podemos perder essa oportunidade dos deuses, não acha?"

Fai Chen sorriu, achando graça nos comentários de Hu Long e como ele conseguia agir como uma criança quando queria.

"Está bem. Mas antes de irmos para o andar de cima, posso lhe perguntar algo?"

"Hum? Claro, Cegueta."

"Por que ainda me chama de "Cegueta"? Eu lhe disse meu nome."

Hu Long não respondeu de imediato, levantando da cadeira e esperando que Fai Chen fizesse o mesmo. Então, o cultivador levantou e inclinou o rosto, um pouco confuso por ele não ter uma resposta na ponta da língua. Entretanto um arrepio percorreu o braço dele assim que a mão do outro apertou de leve a sua. Sem o mínimo de vergonha.

"Você prefere "A-Liang"? Não sabia que era tão delicado."

"Hu Zhuang, pare com isso", Fai Chen respondeu, friamente, mas sentindo suas orelhas queimarem a cada palavra e gesto vindo do outro. Para que isso cessasse, puxou sua mão para si mesmo, largando a mão de Hu Long. "Esqueça minha pergunta. Vamos subir logo."

"Claro, A-Liang."

"Não me chame assim."

"Prefere "Cegueta"? Estou ficando confuso."

"Apenas se cale, por favor", com um suspiro longo, o cultivador respondeu e começou a seguir para o andar de cima, caminhando com o maior cuidado do mundo para não tropeçar em suas próprias pernas, que estavam bambas graças a palavras tão irritantes vindas do outro, que continuava ao seu lado.

Enquanto subiam as escadas, Hu Long ria baixinho, deixando Fai Chen com uma vontade imensa de deixá-lo inconsciente. Porém esse sentimento foi parado graças a outras vozes, que quando finalmente chegaram ao piso superior, foram ouvidas.

"Cegueta... Venha aqui", o jovem assassino disse, pegando novamente sua mão e o puxando para o lado esquerdo do corredor. Um som de portas se abrindo foi escutado, deixando Fai Chen mais confuso do que antes. "Entre no armário, aquele narcisista de merda está aqui."

Sem discutir, Fai Chen obedeceu a Hu Long e os dois entraram no armário de roupas gerais de banho e ficaram bem próximos um do outro. Era estranho para Fai Chen estar tão próximo de um outro corpo masculino e escutando sua respiração bem próxima a seus lábios.

Um desespero começou a percorrer na mente e no corpo do cultivador, que prezava tanto o espaço físico. Hu Long pensou que Fai Chen estivesse com medo, graças aos arrepios de seu corpo e ainda confuso sobre sua ação repentina de entrar em um armário para se esconder da voz que tinha ouvido. Então, o jovem assassino, com peso na consciência, escorregou seus braços ao redor da cintura do cultivador e entrelaçou-os, abraçando-o.

"Não tenha medo, Cegueta. Vamos sair daqui em alguns minutos. Só espere Hong Shaoran..."

"WEI HULI, PARE DE ME IGNORAR!"

"Ir embora...", Hu Long terminou sua frase usando um tom de voz bem baixo, quase sussurrando dentro do armário.

A voz de Hong Shaoran se tornou mais nítida aos ouvidos de Fai Chen. A principal característica que o cultivador vendado conseguiu identificar foi a sua tonalidade. Era firme e grave, trazendo um aspecto de poder apenas com uma simples frase, que deixou tanto Fai Chen quanto Hu Long interessados em escutar mais. Porém, dessa vez, não foi Hong Shaoran que ousou dizer algo. Em seguida, ouviu-se o homem estrategista, Wei Huli.

"Shaoran, eu não estou te ignorando. Estou cansado de discutir com você". A voz de Wei Huli era suave e nem um pouco grossa. Era um tom que trazia a paz para qualquer um que a escutasse.

Apenas com a voz de ambos os homens era possível perceber que a frase de Hu Long sobre eles serem o oposto um do outro era bem verdadeira. Enquanto Hong Shaoran era violento, Wei Huli era quem trazia a paz.

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Observações:

- A-Liang: a letra "A" na frente do nome de uma pessoa, seria um jeito íntimo de tratar a mesma de uma maneira carinhosa. A maioria que utiliza essa forma de tratamento são os familiares, amigos próximos e namorados.

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- ale yang on -

O próximo capítulo mostrará melhor a "relação" de Shaoran com Huli. Espero que gostem deles!

Não se esqueçam de ajudar essa iniciante escritora com comentários e votos! Agradeço, com todo meu coração, cada gesto de carinho! Até sexta-feira.

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now