Capítulo 121 - O lobo e a raposa

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AVISOS: Fim do flashback de Wei Huli. Retorno ao presente, narrado em terceira pessoa do ponto de vista do protagonista, Fai Chen.

A sombra escura que tinha levado os jovens a um passado cheio de traumas, conflitos e mentiras foi dispersa; e a sensação que os três tiveram quando encontraram-se novamente na realidade que os cercava foi a mesma. Uma onda de tontura. Como se estivessem em uma tempestade furiosa e o barco não aguentaria mais e, se mais uma onda os atingisse, o viraria sob aquelas águas escuras e sem fim.

Por causa dessa impressão, cada um deles tinha um traço de expressão diferente no rosto. Hu Long revelava uma face inconformada, sem entender como tantos acontecimentos passaram despercebidos por baixo de seu nariz e ele não pode fazer nada para impedi-los; Hong Shaoran demonstrava um olhar irritado, por descobrir tantas coisas a respeito do companheiro mais leal e que jamais poderia imaginar que faria; e Fai Chen mostrava um olhar de mágoa, por perder mais uma vez a fé em uma pessoa que tanto confiou e sentir que, todos aqueles momentos entre eles, não se passou de uma farsa e, se examinados melhor, nunca sequer tiveram um valor.

Wei Huli, por outro lado, não mudou seu semblante. Continuou do mesmo jeito que estava antes de todas aquelas sombras entregarem seu passado àqueles jovens, no caso, com um pequeno sorriso no rosto e deixando uma sensação de irrelevância nas suas atitudes.

Percebendo aquela futilidade, o cultivador de dons da verdade cerrou os punhos e olhou diretamente para aqueles olhos roxos, que encobriram tamanha crueldade durante anos. Sem esconder seus sentimentos, o Jovem Mestre Fai levantou sua voz e quebrou o silêncio.

"Huli...", Fai Chen pousou as mãos sob sua cabeça e pressionou-a. Ele agiu assim como uma maneira de tentar segurar todo aquele desespero que sua mente compartilhava por todo seu corpo. Mas, era impossível impedir um desvio em um momento como esse, o qual a natureza humana retornava em sua face mais destrutiva. "Você piorou tudo em minha vida."

Wei Huli deu de ombros.

"Eu intensifiquei os acontecimentos dentro dela. Isso é óbvio", o maior respondeu de uma forma apática, não demonstrando interesses ou sentimentos ao menor.

"Intensificou?", Fai Chen soltou sua cabeça e cerrou os punhos. Ele não estava aguentando ver tamanha insensibilidade à sua frente. "Você fez muito mais do que isso, Huli."

O jovem de olhos azuis escuros estava com uma preocupação excessiva a respeito de suas próprias palavras e consequências. Eram diversos pensamentos involuntários, antecipando acontecimentos ou preocupações futuras que poderiam nem acontecer. Por causa desse desespero, ele começou a sentir um formigamento em seus pés e tremores nas mãos. Se o cultivador não se acalmasse, teria certeza que seu coração poderia parar de bater a qualquer momento pela tamanha ansiedade em seu sangue.

"Como você pode esconder tanta maldade dentro de si, Huli?", Fai Chen indagou a hulijing, que ao escutá-lo, lambeu os beiços. "Todos esses feitos com a finalidade..."

"Com a finalidade de te machucar. É claro", Wei Huli respondeu enquanto descia, outra vez, daquele monte de ossos de cadáveres. "Eu sofri muito ao ver o massacre da minha família. Então, não podia ver o filho do humano que acabou com a minha vida tendo tanta sorte. Era injusto demais."

"SORTE?", o cultivador bateu no próprio peito e segurou suas roupas com força, começando a ficar irritado. Aquele sentimento de frustração ou desapontamento era intenso e sem perceber, desencadeou uma reação explosiva. "EU VIVI UMA VIDA INFERNAL DESDE O COMEÇO, HULI!"

A raposa branca arregalou os olhos, um pouco surpresa por aquela reação. Então, sem intervir, deixou Fai Chen continuar seus dizeres.

"Desde pequeno, meu pai queria usar meu dom para seus próprios benefícios e quando cresci, foi justamente isso que fez. Por causa dessa atitude, vi cenas que uma criança jamais deveria chegar a sequer presenciar", o cultivador explicava, já com lágrimas em seus olhos. "Minha mãe, a mulher que mais amei nesse mundo, foi morta pelas mãos de seu próprio marido, que uma vez confiou seu coração naquelas mesmas mãos. E depois... Minha irmã sucumbiu à loucura..."

The Cultivation of the GazeWhere stories live. Discover now