Mulher-Maravilha 1984 (29/12/2020)

2 0 0
                                    

Vi ontem em casa.


Em primeiro lugar, está insuportável a onda de hate em cima desse filme apenas pelo pressuposto de ser protagonizado por uma mulher e abordar o enredo por esse ponto de vista - a dita "lacração" (ódio desse termo) - e com isso gerar um efeito manada de críticas sem fundamento até de quem não viu.


Se um filme não deve ser isento de crítica ou considerado perfeito apenas por ser protagonizado por uma mulher ou contribuir a outras representatividades, usar essa característica como pressuposto para detonar tudo no filme sem um pingo de análise é ridículo - e só tem me mostrado como a comunidade nerd anda insuportável.


Vou manifestar o que achei do filme em tópicos.


Spoilers ao longo do texto.


*********


- A escolha dos anos 1980 como ambientação não foi apenas estética, mas temática: este é um filme que retrata o tom ingênuo e simplista dos filmes de super-herói dessa década. Em muitos momentos me lembrou os filmes do Superman do Christopher Reeve (mais o III e o IV que o I e o II), e a própria série original da Mulher-Maravilha com a Lynda Carter. Há um flerte com o "campy" em diversas partes, destacando a sequência inicial no shopping.


- Essa escolha serve à mensagem esperançosa que o filme quer passar, contribuindo ao arco maior da Diana em ter sua crença na humanidade restaurada (algo que não ficou bem definido no primeiro filme). Por outro lado, acaba tornando a história "boba" e forçada em diversos momentos, além de tratar certas nuances do roteiro de forma superficial demais.


- Um desses elementos "soltos" é a Mulher-Leopardo, que fica extremamente avulsa na história e tem apenas a função de representar as pessoas insatisfeitas consigo mesmas e que por isso não abrem mão da Pedra dos Sonhos. Além de o roteiro seguir quase naturalmente sem a presença da personagem, sua forma conhecida dos quadrinhos existe apenas em uma cena, e seu arco simplesmente não fecha - talvez com a intenção de utilizá-la em outros filmes. A própria reflexão sobre a condição da mulher que tenta ser passada através da personagem (como o assédio que ela sofre) acaba desconjuntada devido a isso.


- Pedro Pascal como Maxwell Lord faz um bom trabalho e tem um desenvolvimento bacana como vilão.


- O retorno do Steve Trevor, um elemento que eu via com ressalvas no filme, ficou interessante também - e o romance dele com a Diana soa mais natural nesse do que no primeiro (sendo algo que, lembro, inclusive critiquei). O ápice emocional ao qual o relacionamento dos dois conduz o filme em determinado ponto também funciona.


- Pode-se considerar ser um filme "parado". Isso não é um problema em si, mas entendo não ser bem assimilado em produções do tipo (mesmo problema de filmes como "Homem de Ferro 2", mas que você não vê ser apontado com tanta veemência). Há praticamente 3 sequências de ação no filme todo, razoavelmente bem feitas - e se há uma sensação de cansaço, creio ser mais pelas tramas secundárias sem rumo (Mulher-Leopardo) e o excesso de "campy" do que propriamente por haver pouca ação.


- Em questão de estrutura, é inegavelmente superior ao primeiro, porque trabalha o mesmo tema do início ao fim e o resolve de maneira condizente - ao contrário do desastroso final com o Ares no anterior que inutilizou toda a trama que vinha sendo contada.


É um filme divertido, se propõe a uma mensagem positiva (ainda que com forçações e buracos pelo caminho) e, apesar de haver outras produções muito superiores dentro do gênero, não é esse desastre todo que estão pintando.


Vale a pena assistir para ter a própria opinião. Mas vejam em casa.

GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now