Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi (17/12/2017)

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Vi ontem.

Adorei o filme. Creio ser o melhor Star Wars em muito tempo, superando seu antecessor (O Despertar da Força) e proporcionando uma jornada épica e imprevisível - este provavelmente sendo seu ponto mais forte - que ao mesmo tempo reverencia a saga e prepara o terreno para algo novo. Se O Despertar da Força era um Episódio IV repaginado e um grande "filme homenagem", "Os Últimos Jedi" brinca com os limites a que a saga pode chegar, e ao mesmo tempo diverte e intriga ao fazer isso.

Vamos aos pontos mais relevantes:

- Apesar de ser um filme inovador para a franquia, claramente "O Império Contra-Ataca" (Episódio V) é inspiração, assim como o Episódio IV foi base do anterior. Em comum com o Império, há vários elementos: o tom sombrio do filme (muito mais que o Despertar da Força, e tanto o Império quanto os Últimos Jedi são filmes em que tudo parece dar errado para os rebeldes até o último momento), o conflito de alinhamentos (Kylo Ren faz o papel de Darth Vader agora, e apesar de não ter relação sanguínea com a Rey como os fãs especularam, cria com ela uma ligação que a tenta ao lado sombrio - tanto que um diálogo climático de Kylo é quase igual ao de Vader quando revela ser o pai de Luke em Império), a dinâmica mestre/pupilo (com o Luke tomando o lugar do Yoda, embora a relação dele com a Rey se desenvolva de um jeito bem inesperado) e até um conflito muito parecido com a Batalha de Hoth, com vários elementos e até cenário similares, só que estando no final do filme, ao invés do começo. Talvez o Rian Johnson tenha imaginado gravar um Império Contra-Ataca ao contrário. Em muito ele conseguiu, mas não apenas na ordem dos acontecimentos...

- Isso nos leva ao segundo ponto: este filme quebra expectativas a quase praticamente cada cena. Para começar, ele subverte TODAS as teorias que os fãs criavam desde o Despertar da Força propositalmente, e ainda assim entrega um ótimo roteiro. Desde o começo, quando Luke recebe seu sabre de luz da Rey e simplesmente joga-o fora, saquei a que o diretor se propunha. Ao longo do filme, nossas hipóteses são frustradas e até a mitologia de Star Wars fica muitas vezes na berlinda: Luke tornou-se cético, rancoroso e rejeita o que os Jedi representam; Rey não possui pais importantes nem qualquer ligação com o passado da franquia; até a trama dos vilões, que prometia algo maior envolvendo o líder Snoke, sofre uma reviravolta e toma uma direção totalmente diferente. Os planos dos rebeldes ao longo do filme são frustrados lance a lance, e quando algo dá certo, é por via inesperada e geralmente exigindo grandes sacrifícios. Ponto muito positivo o filme ter essa ousadia e explorar conceitos e dúvidas até então não existentes na franquia. Se houve muitas queixas quanto ao Despertar da Força não investir no risco, aqui vários riscos são abraçados, e muito bem aproveitados.

- Outro ponto interessante é que Os Últimos Jedi não conta apenas a história dos protagonistas: ele se divide em vários núcleos, valoriza seus personagens coadjuvantes e ainda assim consegue amarrar tudo de maneira satisfatória. A trama da Rose me surpreendeu, desde a morte trágica de sua irmã, até o ponto em que sua personagem cresce e se torna importante no filme; a almirante Holdo, que no começo parece uma vilã dentro da própria Rebelião, é complexa e tem um final marcante (aliás, o filme também é positivo em mostrar como até a Rebelião tem seus personagens cinzentos e ambiguidades). O Decodificador, que se encaixa um pouco mais num arquétipo de personagem, também tem um caminho interessante e traz bons questionamentos às motivações dos heróis (e como o fim desse personagem não é mostrado, espero que ele volte no Episódio IX). Sem contar toda a subtrama do planeta-cassino, que faz críticas sociais bem contundentes e traz para Star Wars até a discussão sobre a indústria de armas.

- Gostei da maneira como trabalharam e encerraram a história do Luke, e todas as referências envolvidas (o horizonte com os dois sóis é uma das cenas mais marcantes da saga, e terminando com ela, o ciclo do personagem também se fechou). O gancho final com a retomada da Rebelião cumpre a função de gota de esperança depois de todo o drama que o filme traz até esse momento - além de construir o tema de maneira bem melhor, que, por exemplo, o Rogue One, o qual tinha uma tônica similar, mas que achei ter deixado bem a desejar justamente pela pouca força de seus personagens. O poder da Rey, as dúvidas do Kylo Ren, a persistência da general Leia, a volta da crença no Luke... Todos nesse filme emocionam e fazem que nos envolvamos com suas jornadas, vibremos com eles (incluindo nas excelentes cenas de luta e batalhas de naves, algumas das melhores da série, aliás) e temamos por eles.

- Há ótimas sutilezas espalhadas pelo filme, como a aparição do Yoda ser baseada no boneco dos filmes clássicos, alguns trechos de trilha sonora remeterem a situações familiares (só eu percebi o tema do Imperador tocando enquanto o Snoke torturava a Rey?), a Millennium Falcon despistando caças inimigos por cavernas similares aos asteroides do Império Contra-Ataca, dentre outras.

- Para não falar que o filme é perfeito, há alguns problemas. Primeiro, uma mesma questão do Despertar da Força: falta de contexto para algumas tramas e situações. Continuei insatisfeito quanto a não saber mais sobre a origem da Primeira Ordem. E o líder Snoke, quem era? Como ficou tão poderoso? Repito, assim como na época do Despertar da Força, que não me basta o universo expandido (livros, HQs, etc.) responder essas questões: devia haver melhor construção delas no filme, ainda que de modo sutil. Com a morte do Snoke, por exemplo, é bem difícil voltarem nisso. Alguns personagens, também, são pouco aproveitados. É quase certo que a Capitã Phasma não voltará. Por mais que ela seja concebida como uma espécie de Boba Fett, queria ter visto mais de seu desenvolvimento e interações. Enfim, ficarei na vontade.

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De modo geral, achei o filme fenomenal, e ele leva Star Wars a uma ótima direção. Fico imaginando como determinados pontos serão trabalhados no Episódio IX, tais quais a participação da Leia (tendo em vista a lamentável perda da Carrie Fisher), e de que maneira o conflito Rey x Kylo Ren terminará. Entendo, ao mesmo tempo, porque muitos não gostaram do filme, pois provavelmente esperavam algo dentro dos moldes de um SW e que confirmasse teorias elaboradas pelos fãs, ao invés de romper as linhas do esperado que a saga costuma estabelecer. Em suma, algo mais nos moldes do Despertar da Força.

Bem, se há algo que achei ótimo sobre esse filme, é que ele não nos leva apenas a admirar o horizonte conhecido.

Ele nos projeta além dele.  

GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now