O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (26/01/2020)

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Finalmente assisti ontem.

Confesso que até então, minha percepção sobre esse filme era ser o "Terminator: Genisys do James Cameron": um filme propondo uma nova continuidade à série e resgatando antigos personagens, mas com baixo retorno de crítica e público, o que inviabilizaria uma continuação. Como na prática ele se tornou isso, foi algo que me desestimulou a ver no cinema, mas agora, assistindo em casa, pude constatar...

O filme é ótimo, e com certeza é a melhor continuação do 2 dentre todos os filmes feitos antes dele.

Ou seja, é uma pena que, pelo desgaste da franquia, esse reboot tenha sido abortado, porque de fato ele é BOM.

Abaixo, mais impressões com spoilers.

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- O filme parte basicamente da mesma premissa de "O Exterminador do Futuro 3", e que se formos pensar, é uma das poucas viáveis para continuar a saga depois do fim muito bem fechado do 2: as máquinas vão se revoltar contra os humanos de qualquer maneira (ao invés da Skynet, agora é a "Legion"), e sempre haverá um líder humano responsável pela "virada" que as máquinas tentarão matar enviando Exterminadores ao passado. A diferença é que John Connor não é mais o "salvador", e seu mito é desconstruído neste filme, junto à morte do próprio personagem (fazendo direito algo que o Genisys tentou e não conseguiu). Porém, o peso de "aquele que deve ser salvo" é transferido à personagem Dani Ramos, equilibrando a gravidade da perda de John (muito bem sentida pela interpretação da Linda Hamilton como a Sarah Connor) com a nova personagem que assume o posto e em si se torna quase uma nova "filha" para Sarah, num arco central emocionante e que funciona muito bem – talvez só prejudicado em alguns pontos pela atuação da Natalia Reyes como Dani, que não convence em certos momentos;

- Fiquei pensando após o término, e depois concluí: o maior acerto desse filme é o tom. Todas as continuações do segundo filme da série falharam em criar tramas com o senso de urgência, sentimento de não ter para onde correr e, acima de tudo, aura sombria que os dois primeiros têm. Talvez por aspectos dos próprios roteiros e, também, pelo excesso de autorreferências em tom de humor (principalmente o 3 e o Genisys). Apesar das autorreferências ainda existirem neste (em cenas bestas como o T-101 decidindo não levar os óculos escuros), elas estão muito bem dosadas, havendo uma preocupação muito maior com a história e o estabelecimento das novas personagens. O resultado é que este é o filme mais tenso da série desde os originais, da perseguição pelo Exterminador ao que está em jogo. E era isso que, percebo agora, impediu as outras continuações de funcionarem;

- Curti muito a Grace, personagem da Mackenzie Davis, e o conceito de "humanos aprimorados" que ela traz, mais atualizado ao nosso avanço tecnológico em comparação aos primórdios da série e que ainda assim casa com ela muito bem. Adorei sua introdução, inseguranças, falhas, e como só lentamente desvendamos seu passado, até ela revelar-se o "Kyle Reese" deste reboot, embora talvez com um arco bem mais completo e interessante que o original;

- Linda Hamilton unindo sua dor pela morte do filho com o ódio pelos Exterminadores é de longe a melhor atuação do filme e um retorno memorável à franquia;

- A ação do filme é excelente, repetindo o acerto do segundo em não criar muitas sequências paralelas, mas algumas poucas distribuídas ao longo da história e que duram bastante. A sequência final, que vai do avião em queda à usina hidrelétrica, é sensacional, com tensão muito bem construída e cenas muito bem estruturadas. Destruir um Exterminador jogando-o na turbina de uma usina é com certeza o tipo de coisa pela qual esses filmes existem, hauahauaau!

- Depois de todos esses pontos altos, ainda destaco que o melhor arco do filme é o do personagem que aparece mais tardiamente: o T-101 do Arnold Schwarzenegger. Temos uma versão tão boa (e em alguns pontos, até melhor) de seu arco de "humanização de uma máquina" quanto a apresentada no segundo filme, a subtrama da família construída pelo robô muito bem inserida e marcante. Também senti um tom de despedida muito forte em sua atuação ("I won't be back"), que transcende a trama do filme e realmente cria um peso muito maior ao seu sacrifício no final. Para ser melhor, talvez (e era algo que cheguei a pensar ter sido feito antes de assistir ao filme, quando soube que haviam criado uma "linha do tempo paralela"), só se esse T-101 fosse o mesmo do segundo filme, salvo do metal derretido num final "E se?" e com isso, talvez, provocando justamente a sobrevida da Skynet – o que justificaria ainda mais o ódio da Sarah por ele. Digo isso porque a única coisa impedindo uma empatia maior com o novo T-101 é sua aparição abrupta e não explicada para matar John Connor no começo do filme (voltarei a isso depois);

- Achei muito interessante a nova salvadora da humanidade, Dani Ramos, não ser nem estadunidense (muito bacana, inclusive, a crítica à situação dos imigrantes latinos ilegais feita pelo filme, ainda que bem sutil) e nem homem (o que o filme explora muito bem até certo ponto da projeção, com todas as personagens julgando que o salvador seria o filho de Dani, não ela mesma – embora fosse uma virada previsível). Esses detalhes enriquecem a trama e também demonstram como o mundo mudou, e continua mudando, desde a época dos primeiros filmes. E que você não precisa ser um Connor (nem um Skywalker) para ser de vital importância ao meio que te cerca, como certo filme recente – lançado depois – falhou em demonstrar;

- Notas rápidas:

* O CGI para rejuvenescer a Linda Hamilton e mostrar a morte do John Connor adolescente no início do filme é simplesmente sensacional (só ficaria melhor ainda se a cena tivesse melhor contexto). Impressionante o quanto se pode e se consegue fazer com esses efeitos na atualidade, e em breve é provável termos usos bem mais ousados, e críveis, dessa tecnologia;

* O maior furo do filme se relaciona ao seu começo: o roteiro estabelece que o T-101 responsável pela morte de John Connor foi enviado pela Skynet. Como, se o futuro em que ela existia já havia sido apagado no segundo filme? Ele foi enviado antes desses acontecimentos e ficou vagando até achar o John? Notem que esse T-101 não foi mandado pela Legion, já que ninguém desse futuro conhecia o modelo. Sem explicação, e tira um pouco do sentido da morte do John (embora não comprometa o conjunto). A solução de deixar vivo o T-101 do segundo filme (que minha expectativa construiu) teria sido melhor;

* O novo Exterminador não se destaca tanto, mas cumpre seu papel de perseguidor e ameaça inabalável, o que é suficiente. O conceito de o robô conseguir "se dividir" e atacar com o endoesqueleto e cobertura de metal líquido como entes separados é muito interessante, porém, e gera alguma inovação ao problema de dificilmente poder se imaginar Exterminadores superiores ao T-1000 do 2.

Enfim, um ótimo filme, excelente adição à franquia, mas que infelizmente fará parte do rol dos reboots que não emplacaram e foram esquecidos, sendo que este merecia MESMO ao menos uma continuação.

Dificilmente veremos novos filmes da saga por um bom tempo. Isso se vermos.

GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now