Vingadores: Guerra Infinita (13/05/2018)

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Vi ontem.

Já havia praticamente visto spoilers do filme todo na Internet antes de assistir, voluntária e involuntariamente.

Pode ter influenciado minha experiência? Certamente, embora isso não costume afetar minha apreciação de cenas de ação, diálogos e outros elementos que costuram o filme.

HAVERÁ SPOILERS PULVERIZADOS AO LONGO DO TEXTO.

Não pretendo me estender muito. Antes dos pós e contras, algumas questões gerais:

- É o melhor filme dos Vingadores (comparando com o primeiro e o Era de Ultron). Não é o melhor filme da Marvel. Ainda acho o Guerra Civil melhor, em comparação, falando de filme de equipe. De filme geral, o Capitão América 2 ainda leva.

- É preciso reconhecer o trunfo que esse filme tem em amarrar outros filmes e personagens elaborados ao longo de 10 anos do universo compartilhado que até hoje melhor funcionou no cinema. Porém, entendo que esse filme antes de tudo seja um evento, justamente por unir tantos heróis (e todos já terem um pano de fundo razoavelmente bem elaborado para que tenham peso e nos preocupemos mais com eles e suas trajetórias - ponto que até o momento tem tornado a Marvel superior à DC em matéria de universos compartilhados, por exemplo). No entanto, por mais que funcione excelentemente como evento, algo para o qual tudo convergiu nos filmes anteriores, isso não quer dizer que funcione perfeitamente como filme.

PONTOS POSITIVOS:

- O VILÃO É BOM: A Marvel tem dificuldade em acertar em vilões. Conseguiram acertar no Thanos. A motivação dele é razoavelmente simples, mas cabível num filme como esse. E melhorada em relação aos quadrinhos, até onde conheço o personagem. Suas ações têm peso, realmente gera ameaça aos heróis e é uma figura tridimensional, por questão da sua relação com a Gamora e pelos sacrifícios que se dispõe a fazer em nome de uma atrocidade - mas que em sua visão de mundo pragmática seria necessária. É possível fazer análises malthusianas e utilitaristas das ações do Thanos, até o quanto hoje pessoas se vêem dispostas a usar discursos semelhantes de arbitrariedades e eliminação de pessoas "por um bem maior". Claro que isso não é explorado a tal nível no filme, mas gera discussão - isso já é um ponto positivo em relação a todos os vilões (com a justa exceção ao Killmonger do Pantera Negra, que também tem certa profundidade) apresentados até agora. Acrescentando: gostei de como ele usa as joias no filme também. Não é um mero implemento para ele ficar mais forte: ele usa bem o poder de cada uma em cada situação.

- HÁ BOAS INTERAÇÕES ENTRE OS PERSONAGENS: O filme cumpre satisfatoriamente bem a premissa da maioria dos heróis de filmes separados finalmente se encontrarem. Há diálogos bacanas, ótimas sacadas (como o Starlord e o Homem-Aranha trocando referências pop, ou o Rocket querendo o braço do Soldado Invernal) e boas contraposições (ponderação do Doutor Estranho vs. impulsividade do Homem de Ferro, ciência de Wakanda superando a ciência do Banner e do Stark, etc.). É triste outros personagens não terem se encontrado ainda, o que é compreensível pela escala do filme e futuras interações que provavelmente teremos no futuro.

- A AÇÃO É LEGAL E TEM UMA BOA ESCALA: No geral, as cenas de ação e luta foram todas muito boas - algo que tenho visto ser constante nos filmes da Marvel que os irmãos Russo dirigiram. Há uma boa variação de situações no filme também: apesar do clima geral de urgência, lutas se intercalam com partes aventurescas ou de infiltração, e em algumas partes parece que temos vários filmes em um. Pela inventividade e contribuição de cada parte ao todo, é positivo, mas há alguns problemas que destacarei adiante.

PONTOS NEGATIVOS:

- IMPÉRIO CONTRA-ATACA NAS QUALIDADES E NOS DEFEITOS: Tenho visto diversas análises comparando esse filme ao "Império Contra-Ataca" de Star Wars por ser um filme em que o "mal vence" e há aquele amargo clima de derrota contribuindo para a vitória do bem no próximo. Não poderia concordar mais. Porém, Guerra Infinita passa por alguns problemas narrativos parecidos de Império Contra-Ataca, mas ligeiramente piorados pela escala ser maior.

No filme de Star Wars, há alternância nos núcleos narrativos de Luke + Yoda e Han + Leia, sendo que ambos no final convergem para o clímax na Cidade das Nuvens. Porém assistir ao filme mais de uma vez evidencia um problema: há discrepância cronológica entre os 2 núcleos. Há a impressão de que a aventura de Han + Leia dura algumas horas, no máximo uns poucos dias. Para ser congruente com as partes de Luke + Yoda, entendemos que o Jedi treinou pouquíssimo tempo com Yoda, mesmo se considerarmos ter chegado depois à Cidade das Nuvens - seriam dias de diferença (o que, aliás, não nos torna aptos a criticar em quase nada a Rey nos filmes novos, que treinou praticamente o mesmo tempo :P ).

Isso não chega a incomodar em Império Contra-Ataca, pois a escala é menor. Em Guerra Infinita, são mais núcleos (Homem de Ferro + Doutor Estranho + Homem Aranha + Guardiões, Thor + Rocket + Groot, Thanos + Gamora, Visão + Feiticeira + Cap. América e regenados + Wakanda - esqueci algum?) e a discrepância de tempo fica muito mais evidente. Tive a impressão do filme todo transcorrer em no máximo 2 dias, talvez um só. Isso abre brechas: quanto tempo o núcleo do Homem de Ferro ficou na nave do Thanos, e depois matando tempo até ele aparecer em Titan? (e por que raios não houve explicação sobre o Doutor Estranho não poder criar um buraco de teletransporte para se escafeder com a Joia do Tempo dali, furo - e conveniência - de roteiro que a Ana Carolina Silva, minha namorada, notou?). Acabamos com a impressão que os eventos no espaço transcorreram muito mais rápido que os da Terra, em que os personagens se deslocaram bem mais (EUA, Escócia, EUA de novo, Wakanda...) - sendo que no espaço Thanos fez as coisas praticamente uma após a outra, no que parecem horas. Efeito do deslocamento na velocidade da luz, talvez?

Vocês podem dizer que estou caçando defeitos no filme, mas essa questão de temporalidade dos núcleos narrativos nos leva ao próximo problema...

HÁ POUCO TEMPO PARA MUITOS PERSONAGENS: Isso já é esperado de um filme nessa escala, mas não deixa de incomodar. E o núcleo da Terra (Cap. América + companhia) de longe é o mais prejudicado, pois pouco faz e não tem um arco muito bem construído dentro do filme e não ser proteger o Visão. Digo isso porque o tempo de outros personagens é melhor aproveitado. O Homem de Ferro, mesmo em cenas rápidas e mais sutis, tem seus medos e fraquezas explorados. O núcleo dos Guardiões realmente dá um salto e diante de todos os problemas com o Thanos, há material a ser explorado em outros filmes, principalmente no relacionamento do Starlord com a Gamora. Pela primeira vez vi algum peso dramático no personagem do Thor, e o filme realmente passa a ideia de ele ter perdido tudo - a ponto de vibrarmos com ele quando ressurge na última batalha. Mas o núcleo do Capitão está muito ali só para constar, e nem pontos que pensei que poderiam ser explorados, como a desilusão dele com o sistema ou o Stark, foram trabalhados - tirando uma só cena com o general Ross. Espero que isso seja repensado num quarto filme, mas por falar em personagens subaproveitados...

O QUE FIZERAM COM O HULK? Não entendi bulhufas do porquê o Banner não consegue mais se transformar nele. Ainda mais conseguindo fazer isso na primeira cena. Os Russo estão falando que faz parte do "arco do personagem". Eu digo que é conveniência de roteiro pelo Hulk ser forte demais e acabar roubando espaço dos outros personagens nas lutas ou diminuindo o senso de urgência das mesmas. Poderíamos ter tido ao menos Hulk no clímax? Poderíamos. Seria melhor do que enganar o público com os trailers? Sim. Seria ainda mais doido o Hulk simplesmente tomar uma coça do Thanos quando ele já está com a manopla completa para termos uma noção do nível da situação? Seria. Sem contar que, de uns filmes para cá (leia-se o Thor: Ragnarok), transformaram o Banner num personagem tonto, que só faz piadas sem graça ou parece perdido o tempo todo, e que tem um "romance" com a Viúva-Negra jamais desenvolvido. Enfim, tá osso.

AS MORTES DE PERSONAGENS TÊM REALMENTE PESO? O ponto mais discutido do filme tem sido as mortes de personagens, principalmente no final quando Thanos erradica metade do universo. É certo que, conhecendo o mundo de quadrinhos, nenhuma morte é definitiva. Mas ver uma cena tocante do Homem-Aranha se esvaindo nos braços do Homem de Ferro sabendo que já há um Homem-Aranha 2 agendado, ou que já está confirmado um Guardiões 3 com o elenco original, faz pensar o quanto de impacto esses "fins" realmente causam. No geral, o filme impressiona pelo tom - creio ser o filme mais sombrio da Marvel até hoje, embora ainda haja excesso de piadinhas (em certas cenas elas ficam desconcertantes, perdem o timing e dá quase vontade de mandar os personagens pararem). Esse tom mais pesado e carregado já torna o filme em si mais interessante - mas considerando as mortes em massa ocorridas no fim, com ou sem spoilers, não creio terem gerado qualquer impacto mais duradouro, ou qualquer dúvida de que tudo se resolverá.

Talvez eu esteja ficando velho, ranzinza e esses filmes já não sejam mais para mim. Precisamos deixar os mais novos se impressionarem com coisas que não nos impressionam mais. É válido :)

E que venha o Deadpool 2 - pelo qual estou muito mais animado do que estive pelo primeiro filme.

GOLDFIELD - Nerdices e análisesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora