Impressões sobre o Monsterverse (26/02/2021)

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Por conta do hype em torno de "Godzilla vs Kong", acabei animando a assistir aos três filmes do "Monsterverse" da Legendary Pictures que antecedem o encontro – já que não vi nenhum à época de lançamento, por não ter me interessado (temi serem filmes genéricos de desastre como muitos saídos recentemente). Porém, a curiosidade venceu, e eis abaixo minhas impressões.


PONTOS POSITIVOS COMUNS A TODOS OS FILMES:

- Elementos de worldbuilding que continuam a cada filme e os interligam, como a organização Monarch, a "Terra Oca" e os monstros usarem ecolocalização para se comunicarem;

- A ideia geral de que os monstros gigantes, chamados de "Titãs", eram os deuses das civilizações antigas e inevitavelmente retornarão, havendo pouco que possamos fazer para nos salvar. Remete inclusive a H.P. Lovecraft;

- Ligado à ideia anterior, o conceito de que os "Titãs" foram ressurgidos pela Era Atômica, numa metáfora dos horrores aos quais as armas nucleares sujeitaram à humanidade. É, inclusive, uma boa referência ao conceito original do Godzilla.


COMENTÁRIOS ESPECÍFICOS DE CADA FILME:


GODZILLA (2014)

É um filme de altos e baixos. Ele começa MUITO bem: a sequência no Japão envolvendo o acidente nuclear é ótima, e empolga pelo restante da história. Tudo segue legal até a primeira aparição do Godzilla no Havaí. É aí que tudo degringola: todo o meio do filme é uma sequência anticlímax, com as batalhas do Godzilla ou as aparições dos demais monstros cortadas de súbito. Há construção para uma luta no aeroporto do Havaí, e segue-se um corte já para o dia seguinte e as consequências. Um Titã a mais desperta em Las Vegas, e só temos relances do que acontece.

Para piorar, essas quebras de expectativa ocorrem para dar foco ao casal principal (interpretado pelo Mercúrio e Feiticeira Escarlate da Marvel), que é desinteressante e não gera envolvimento. Se houvesse algo legal a ser contado, seria compreensível, mas não é o caso.

A história só melhora na reta final, a partir do salto dos paraquedistas em São Francisco e o plano para deter os monstros. Alguns conceitos, como os Titãs usarem uma ogiva nuclear de "chocadeira" aos seus ovos, são excelentes. A ambientação é realmente incrível em vários pontos, e o final satisfatório.

Filme de início e final bons, mas um meio arrastado e desinteressante. Se houvessem colocado uma batalha mais longa do Godzilla com os inimigos nessa parte, ao invés de ficar cortando a vários locais rapidamente, teria ritmo muito melhor e empolgaria mais.


KONG: A ILHA DA CAVEIRA (2017)

De longe o melhor dos três. Eu adoro o trope de "ilha perdida e misteriosa com criaturas monstruosas", e até o usei num livro que republiquei recentemente. É o filme de roteiro mais redondinho, melhor ambientação e o mais divertido. As cenas de ação são extremamente criativas e bem filmadas – ao contrário dos dois filmes do Godzilla, em que frequentemente não se consegue ver bem o que acontece. Os personagens são ótimos, o contexto de Guerra do Vietnã e anos 1970 é excelente como pano de fundo, e o Kong fica muito bem apresentado ao universo.

Dessa série, até agora é o único filme que sinto vontade de reassistir. E só me deixa mais empolgado saber que o diretor, Jordan Vogt-Roberts, vai comandar a adaptação do Metal Gear.


GODZILLA II: REI DOS MONSTROS (2019)

Pior dos três. Mas isso não significa que não tenha pontos positivos.O roteiro é uma bagunça. Personagens de motivações confusas que mudam de opinião a toda hora (como o protagonista que odeia monstros mas ajuda o Godzilla o tempo todo; ou os vilões que em certo ponto são extremistas, depois não tão extremistas assim, e então extremistas de novo), personagens caricatos e humor fora de hora (a piadinha do "biscoito da sorte chinês" depois de um diálogo sério quase me fez parar de ver!) em certos momentos me causaram um péssimo déjà-vu de Transformers. Curiosamente, nem o elenco de peso (como a Millie Bobby Brown e o Charles Dance) consegue melhorar a narrativa. Aqui ou ali existem boas cenas dramáticas, mas curtas, como o sacrifício do personagem do Ken Watanabe para salvar o Godzilla.

O filme vale unicamente pelas lutas entre os monstros, já que a premissa é basicamente usar todos os vilões clássicos do Godzilla de uma vez (e até com uma justificativa interessante, mas mal trabalhada). Corrigindo o erro do filme de 2014, há neste uma boa batalha na metade do filme (quando Rodan aparece), e a batalha final com o "Godzilla termonuclear" é simplesmente SENSACIONAL, compensando boa parte dos problemas e encerrando o filme com um bom clímax.

Só foi pena ele ser tão extenso e arrastado em todos os momentos em que se propôs a ter enredo, de uma luta à outra entre os Titãs.

P.S.: A música dos créditos e o gancho aos filmes seguintes também funcionam bem.


No aguardo de GODZILLA VS KONG.


GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now