GOLDFIELD - Nerdices e análises

Liga da Justiça (10/12/2017)

Vi sábado.

Tenho muita coisa para falar desse filme, e infelizmente a maioria delas não é boa. Então vou procurar resumir:

- Primeiramente, dá pra ver que esse filme sofreu muito com as refilmagens e os cortes, fruto da saída do Zack Snyder da direção e da entrada do Joss Whedon. Achei-o corrido demais, com poucas cenas de ação (justamente o que faltava ao Batman v Superman, por exemplo - são praticamente só três sequências, e uma delas dos heróis contra o Superman, nem envolvendo os vilões), e o desenvolvimento dos personagens é super raso e malfeito. A ideia de criar um filme com todos os heróis para depois fazer os solo, contrário do que a Marvel fez, não deu certo aqui justamente pelo filme ter sido retalhado e deixar com a sensação de que ele não desenvolveu nada. Quem sai com menos dano disso são a Mulher-Maravilha e o Superman, justamente porque eles tiveram filmes anteriores para seus próprios personagens. Os demais apenas ocupam papéis clichê com um fiapo de trama de origem. O Flash entra no arquétipo do piadista, o Cyborg é o personagem trágico com um trauma a superar, o Aquaman é o "badass" que fala pouco e o Batman... parece outro personagem e fica totalmente deslocado ali. Mas vou falar mais do Batman daqui a pouco.

- Dá pra ver que a Warner cedeu ao modelo Marvel e fez um filme bem mais "leve" e cheio de piadas/frases de efeito. O problema é que, além desse tom contrastar completamente do que vinha sendo desenvolvido até então, mais atrapalha do que ajuda a contar uma boa história. O Superman acaba de voltar dos mortos e quase mata a Liga por achá-la uma ameaça, e é só trocar algumas palavras insossas de encorajamento com a Lois Lane que depois já está rindo, zoando o Flash e brincando que "preferia morrer de novo" a fazer esforço. O Batman, no meio disso tudo, é o personagem mais fora de si e contraditório até à atuação anterior do Ben Affleck, fazendo piadas e comentários engraçadinhos e, quando se torna "sombrio", é porque entra numa discussão totalmente sem sentido com a Mulher-Maravilha. O personagem é legal apenas pela sua cena inicial no filme, curta demais para salvar o que vem dele depois.

- O vilão Lobo da Estepe é péssimo, de CGI muito malfeito (nem os lábios são sincronizados com a fala dele, para começar) e seu plano não tem sentido algum a não ser servir de ameaça a ser detida. Nem mesmo ele mencionar o Darkseid é desenvolvido depois. Os parademônios que ele utiliza conseguem ser um pouco mais interessantes, mas mal usados. Salvam-se pela cena final em que liquidam o vilão, a qual ficou bacana e, à altura de todas as piadas que já tinham rolado, até ficou fora do tom do filme.

Algumas notas rápidas:

- CGI do rosto do Superman para cobrir o bigode do ator, que muita gente reclamou, não me incomodou, a não ser na cena inicial em que ele fala na TV;
- A batalha dos heróis com o Superman é a melhor parte do filme. A volta dele ficou um pouco melhor que a morte, que em Batman v Superman não teve impacto algum, já que mal pudemos nos apegar ao personagem. Aqui há um pouco mais de contexto e tal, mas o Super virando piadista logo depois desmereceu um pouco tudo isso;
- A cena em que o Lobo da Estepe rouba a Caixa Materna das Amazonas também ficou bacaninha. Seria melhor com um CGI mais competente, porém;
- JK Simmons bacana como Comissário Gordon, mas mal apareceu. Gotham toda, aliás, parece estar ali só pra constar. Nesses filmes é uma cidade com menos identidade até que a Gotham do Christopher Nolan, que era simplesmente "realista";
- Pra não falar que nenhuma cena de humor funciona, a parte do Aquaman sentado no laço da verdade e sendo sincero é engraçada e inteligente;
- Baseando-se ou não na Marvel, parece que o filme quis abandonar de vez as identidades secretas dos personagens, ou é roteiro ruim mesmo: o Batman visita meio mundo como Bruce Wayne, o Superman é chamado de Clark na frente da policia de Metropolis, etc., etc;
- Freud faria a festa analisando a galera desse universo de filmes, pois TODO MUNDO tem algum tipo de problema mal-resolvido com a mãe: além do Batman e do Superman (Martha!), o Flash e o Ciborgue têm contextos parecidos em que isso é frisado, o Aquaman tem uma história de abandono materno, além da própria obsessão do Lobo da Estepe em trazer de volta a "Mãe" com as Caixas MATERNAS.

Enfim, vi muitos fãs da DC irritados com as críticas a esse filme, julgando ser intriga de críticos, hate, e etc. Minha visão: não há apego à DC dos quadrinhos ou das animações que justifique se agarrar a um filme meia-boca desses. Os fãs da DC merecem filmes melhores, não apenas roteiros com mais profundidade, mas mais foco no simbolismo do que na história, como no caso do Snyder, ou histórias leves, piadistas e sem comprometimento do Whedon, podados ambos pelo mesmo vilão: o estúdio. Estamos caminhando para uma situação em que os filmes da DC estão se tornando cópias ruins dos filmes da Marvel (que também tem diversos filmes ruins e cuja fórmula também está me cansando, como no caso de "Thor: Ragnarok"), sendo que os personagens da DC têm um peso e imagem intensos na cultura popular, merecendo seu próprio caminho e chegar a um balanço em que agradem, nos filmes, tanto a fãs quanto ao público em geral.

Talvez a ideia já anunciada de focar mais em filmes solo do que num universo compartilhado funcione, mas com as mesmas más decisões de produtores da Warner sendo frequentemente tomadas, acho difícil que isso deslanche tão cedo.

Correndo o risco de ser chamado de alguém que vive do passado, mas... Que saudades do Batman do Nolan.