Mulher-Maravilha (05/07/2017)

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Só assisti hoje. Com um mês de junho meio corrido, acabei esperando ele estrear aqui na minha cidade.

Confesso que eu esperava mais. O filme é bom, um dos melhores dessa fase nova da DC, porém saí do cinema com a impressão de que podia ser melhor.

O maior ponto positivo do filme é a representatividade. Ter uma grande produção focada numa super-heroína é uma iniciativa excelente. Toda a produção do filme mostra ter consciência disso, e tanto o tema quanto a personagem são tratados com reverência. Gal Gadot está ótima no papel, assim como boa parte do elenco.

Ainda assim, não pude evitar sentir que o filme derrapou em diversos pontos.

Vou dividir os pontos positivos e negativos:

PONTOS POSITIVOS:

- Themyscira, a caracterização da ilha e das Amazonas ficaram excelentes. Aliás, o filme consegue encaixar partes expositivas no começo de maneira harmoniosa encaixando isso no contexto da infância e treinamento da Diana. Talvez elas pudessem ter aparecido mais durante o filme, e senti um pouco de falta de uma resolução, ao final, da questão da saída da Diana da ilha - embora eu acredite que eles voltarão a isso em continuações.

- A maneira como o filme brinca com clichês masculinos e mostra o choque de culturas entre a Diana e a sociedade fora de Themyscira ficou interessante - as piadas e críticas se entrelaçam num meio-termo sem ficarem nem forçadas e nem apagadas, e o contexto histórico em que o filme se passa (começo do séc. XX) foi uma boa escolha para trabalhar a questão do papel feminino na sociedade - com boas cutucadas quanto ao que ainda permanece. Só achei que, se houve acertos na contextualização e provocações, o desenvolvimento em si do enredo apresentou algumas falhas, mas vou explicar isso adiante...

- Cenas de batalha empolgantes, bem filmadas e idealizadas, principalmente no início e meio do filme. A invasão da ilha de Themyscira e a Diana transpondo a trincheira/conquistando o vilarejo, para mim, foram os pontos fortes.

PONTOS NEGATIVOS:

- Dá pra ver que a DC/Warner tem pisado em ovos para construir seus filmes devido aos erros que vem cometendo (Batman v Superman/Esquadrão Suicida). Um acerto de Mulher-Maravilha é investir numa história mais simples e fechada. Um ponto favorável é que agora vemos uma heroína passando pelos desafios de um arco de origem. Porém ao mesmo tempo senti que, mesmo esse sendo um passo seguro e capaz de envolver mais facilmente a audiência na história, a fórmula que o filme usa já está manjada e carregada de clichês. Mesmo trocando a Segunda Guerra pela Primeira, a trama lembra muito o Capitão América em diversos pontos (Guerra secreta travada em meio a uma grande guerra conhecida, vilão com agenda própria no meio da guerra, oficial de inteligência ajuda o protagonista e os dois vivem um romance aos tropeços, esquadrão de desajustados ajuda o protagonista, um Steve se sacrifica num avião, final agridoce com um "Dia da Vitória" cheio de perdas). O último ato do filme acaba previsível em diversos aspectos e nisso perde bastante de seu impacto.

- Por falar em último ato, nele temos a maioria dos problemas do filme. Para começar, a própria maneira como a relação Diana/Steve é construída vai contra a própria intenção do filme em fomentar empoderamento feminino. Primeiro, em caso menor, por causa do romance. Não quer dizer que uma protagonista feminina forte não possa se apaixonar, mas senti muito que o romance no filme existe para cumprir tabela e atrair público - mais como concessão a clichês do gênero do que, se trabalhado de outra forma, em sintonia com a quebra de padrões a que o filme se propõe. Mas o pior, para mim, é o segundo ponto: na batalha final contra o vilão (uma bagunça de CGI e desproporção de poderes que infelizmente é marca do Zack Snyder e tem sido um revés nesses filmes da DC), a Diana libera seu poder máximo e derrota o Ares porque o Steve morreu. OK, a metáfora ali é que ela se deu conta do "amor" da humanidade, da capacidade de sacrifício, e que por isso vale a pena lutar, mas ao final de tudo fiquei com a impressão que a Diana ainda precisou da ação de um homem como catalisador para terminar o seu arco - algo que vai na contramão de tudo que o roteiro vinha construindo até então, e que poderia ter sido trabalhado de outra forma. Solução fácil e decepcionante para um filme que, até certo ponto, mostrava-se mais interessante e complexo que o padrão.

- Implicância de historiador: na cena final com os Aliados comemorando a vitória em Londres, eu só consegui pensar: "daí vão impor um tratado de paz bem problemático em cima da Alemanha que a Diana ajudou a derrotar e causar outra guerra cinco vezes pior". Sei que peço demais quanto ao filme considerar isso, mas eu fico imaginando qual teria sido a reação da Diana, mais tarde, ao testemunhar Hitler e tudo mais.

DÚVIDAS:

- O que o personagem do Coronel Ludendorff era exatamente? Um humano comum possuído pelo Ares? Aquele gás que a Dra. Veneno dava para ele cheirar era como uma droga comum da qual ele dependia, ou fruto de algum vínculo com o Ares? Isso não ficou claro para mim no final do filme.

Enfim, é um filme bacana, tem vários méritos, e mesmo tendo falhas, torço para que abra caminho a mais produções protagonizadas por heroínas.

Aguardando a Liga da Justiça.  

GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now