Resident Evil: Infinite Darkness (08/07/2021)

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Acabei de assistir ao "Resident Evil: Infinite Darkness" da Netflix.


Minhas impressões estarão permeadas de SPOILERS. Então recomendo ver antes de lê-las.


- O melhor e um dos únicos pontos positivos dessa produção: a trama central e o pano de fundo. O enredo traz uma ambientação de intriga política muito boa envolvendo os EUA, a indústria da guerra, as intenções escusas por trás de intervenções em outros países, e a "Guerra ao Terror" da Era Bush (que está ali nas entrelinhas. Só eu pensei nisso em relação ao "real terror" de que o Jason falava?). O país "Penamstan" da história é uma clara versão fictícia do Afeganistão. Ponto também para a trama, mesmo situada em 2006, retratar uma escalada de tensões entre EUA e China numa 2ª Guerra Fria, algo que vivemos na atualidade.


Aliás, a Netflix tentou dar uma de "streaming sem partido" e instruiu os resenhistas que viram a série antes do lançamento a "não falarem de política" em suas impressões. Fora essa atitude sem cabimento que cai no velho debate de "tirem a política do meu entretenimento" (e como ele não faz sentido!), o roteiro é afiado e tem momentos bem interessantes.


Esse, inclusive, é o único fator que salva o enredo no geral, pois em termos de encaixe na série, ele pouco contribui, assumindo a EXATA função do filme em CGI "Resident Evil: Degeneration", de 2008 (que, por sinal, a série ignora): foco em Leon e Claire, a revelação que armas biológicas continuam sendo negociadas ilegalmente mesmo após a queda da Umbrella, e o gancho à Tricell do jogo RE5. Não haveria como encaixar esse contexto tão interessante num momento menos explorado da linha do tempo da franquia?


- O formato de "seriado" simplesmente não funciona. Com 4 episódios de basicamente 20 minutos cada (excluindo abertura e créditos), fica explícito que Infinite Darkness nasceu como filme em CGI, e foi então adaptado como série à Netflix. A cadência da trama não acompanha essa mudança, os ganchos de fim de episódio são fracos... Talvez a decisão tenha sido por conta de haver a intenção de fazer novas temporadas no futuro, mas teria sido bem melhor lançar como filme mesmo.


- Existe realmente a intenção de tornar o Leon o personagem mais insuportável da franquia. Ele está extremamente chato na série, disparando frases de efeito a cada momento e resolvendo as situações da forma mais obtusa possível. Desenvolvimento de personagem ou coerência não existem. Um exemplo: em certo diálogo, ele afirma que o trauma de ouvir os gritos das pessoas se tornando zumbis em Raccoon sempre estará consigo (isso porque na altura do RE2, Raccoon inteira já era zumbi, mas OK) – sendo que cenas antes, ele reagia com um "Descansem em paz, babacas!" ao liquidar vários funcionários da Casa Branca recém-transformados em zumbis. Maneira interessante de lidar com o trauma.


- Em contrapartida a isso, ocorreu o que alguns cogitavam: a Claire realmente está mais apagada e pouco faz de interessante no enredo, fora alguns poucos momentos de investigação que não se prolongam. Deram muitas poucas oportunidades de ação a ela – no Degeneration, por exemplo, isso era melhor equilibrado.


- O roteiro está cheio de buracos, e alguns momentos causam risos involuntários – não combinando com o aspecto mais realista proposto pela animação (que, no visual, está muito boa, aliás). Destaco dois: o zumbi sendo arremessado para cima de um lustre (!?) e o "duelo" entre Leon e Jason com a expectativa de quem atirará primeiro no apartamento. Essa sequência toda, desde o submarino, é toda errada – mas não vou me prolongar, se quiserem perguntem minhas impressões a respeito nos comentários.


Terminando de assistir, fico dividido. Eu esperava um enredo bem simples e "chapado" na abordagem da conspiração política e subtexto crítico da série, sendo que isso me surpreendeu. Porém, personagens, ação e desenvolvimento foram no geral bem fracos e pouco empolgantes. Resident Evil merecia uma produção melhor destinada a um serviço de streaming de grande público. Ela é "meh" aos fãs, e acho que pouco impacto vai causar a quem é jogador casual ou não conhece a franquia.


Minha esperança, com enorme risco de quebrar a cara, está agora no reboot live-action do final do ano. Veremos.

GOLDFIELD - Nerdices e análisesOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz