Resident Evil: Welcome to Raccoon City (23/12/2021)

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Assisti hoje.

Review um pouco mais detalhada, horas depois de passar a euforia de conferir a adaptação de algo que gosto muito.

Há SPOILERS no texto, mas sinceramente, não acredito que seja de todo mau saber deles no caso deste filme, mesmo se você for fã e não houver visto ainda.

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Em tópicos:

- Acredito que a intenção central do diretor foi adaptar RE1 e RE2 como um filme trash. Isso pode ter passado despercebido a muitas pessoas, que esperavam entretenimento mais sério e centrado na narrativa, servindo para aumentar seu desagrado. Daí as cenas bregas com música dos anos 1990 ao fundo, zumbi flamejante ou escrevendo com sangue num vidro. Eu abracei a ideia e curti boa parte do filme por conta disso, já que a essência de Resident Evil está justamente no cinema trash – algo nunca escondido e ainda mais forte no arco de Raccoon City.

- Aliás, notei que o Johannes Roberts provavelmente leu o roteiro que o falecido George A. Romero (pai dos filmes de zumbis modernos) escreveu a um filme de Resident Evil nos anos 1990, e usou certas premissas dele em sua criação, desde a Raccoon cidadezinha esquecida até sua interpretação do que seriam e como agiriam os STARS. Eu adoro esse roteiro, e notar elementos dele em Welcome to Raccoon City foi mais um ponto a favor para mim.

- Vi muita gente reclamar que este filme tem problemas de ritmo. Confesso que, nos dois primeiros atos, achei que ele se sai razoavelmente bem. Digam o que for, mas Welcome to Raccoon City tem a melhor atmosfera dos 7 filmes de Resident Evil, e isso anda em conjunto ao enredo se desenrolar lentamente. O terror é construído aos poucos, junto com a epidemia atingindo gradativamente a cidade. O suspense também é bom, embora seja quebrado por algumas falas que despejam exposição demais em quem assiste – resultado de querer espremer muita informação em pouco tempo de filme. Aliás, a experiência é comprometida de vez quando este, para cobrir tudo o que precisa, acelera demais a narrativa.

- O maior problema do filme é, justamente, o terceiro ato: e é nele que a ideia de adaptar dois jogos ao mesmo tempo, que vinha se saindo até "OK" antes desse ponto, desce ladeira abaixo. A transformação e batalhas contra o William Birkin acontecem num piscar de olhos (e, apesar de eu adorar a referência em ele ser aniquilado com o lança-foguetes, o doutor precisava ter se tornado uma ameaça mais constante e genuína por uma maior duração do filme); a Sherry sequer tem seu nome mencionado (até onde percebi), e não tem tempo para criar vínculo emocional algum com os demais personagens – tornando sua presença totalmente desnecessária; sem contar o final apressado a Raccoon City (saudades do míssil nuclear – não engoli o conceito da "cidade que afunda" e nem a vaca como provável referência a "Twister"). Boa parte disso teria sido evitado se o arco do Wesker não fosse ligado ao do Birkin, fazendo o atentado ao doutor ocorrer mais cedo na trama (talvez por soldados da Umbrella infiltrados na cidade – já que o negócio é referenciar, poderiam ter mencionado o Hunk), o que deixou a reta final excessivamente corrida, incoerente e sem impacto.

- Gostei do elenco todo no geral – todos atuaram bem a partir do roteiro questionável que lhes foi dado. Adorei em particular o Leon do Avan Jogia (e saquei que boa parte do rage dos fãs de RE em cima do filme foi por curtirem a personalidade do Leon dos jogos e não aceitarem esta reinterpretação do personagem – embora ele seja um novato no RE2 e muitas das falas supostamente sérias dele no jogo soem fora de lugar também) e queria mais tempo dele em tela. Também gostei do Tom Hopper como Wesker, considerando-o o único personagem com arco "completo" no filme, e realmente queria vê-lo mais numa continuação (dada a promissora cena pós-créditos que, considerando o fracasso do filme, infelizmente levará a nada).

- Achei interessante como o Wesker receber da Ada um microcomputador com os mapas da Mansão Spencer e a solução aos "puzzles" seja um elemento vindo dos livros da S. D. Perry baseados nos jogos. Neles, o personagem Trent (que quer derrubar a Umbrella) cede um aparelho idêntico a Jill Valentine, para guia-la através da mansão. Como curto os livros, achei bem bacana essa referência.

- Sem dúvidas minha parte favorita foram os STARS tentando sobreviver na Mansão Spencer. Além de alguns dos melhores zumbis já vistos nos filmes (com a maquiagem remetendo diretamente aos clássicos dos anos 1970 e 1980, aliás), Chris no escuro tentando repelir os zumbis, contando com a ajuda do isqueiro e no final ser salvo pela Jill me fez pensar "Esperei 25 anos para ver isso num filme". Uma pena que o conjunto seja prejudicado pelo excesso de conteúdo e, principalmente, pelo final.

É triste e ao mesmo tempo interessante pensar que, entre os acertos do Paul Anderson (sua Raccoon City, montagem de cenas, representação da Umbrella e o uso mais coeso de elementos dos jogos, mesmo num filme tão corrido quanto o RE Apocalypse) e os acertos do Johannes Roberts (reverência ao trash, tom e ambientação), existe, em algum lugar, o filme de Resident Evil ideal.

Até lá, teremos de aceitar mais uma tentativa que não será continuada (apesar dos promissores ganchos apontando a uma adaptação do Code: Veronica ou RE4) ou um retorno a versões menos fiéis aos jogos – sem considerar a própria autossabotagem da Sony ao divulgar e lançar o filme, que rende uma história à parte e foi também responsável pela má recepção do público.

Veremos o que o futuro nos proporcionará.

GOLDFIELD - Nerdices e análisesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora