Assassin's Creed - Filme (22/01/2017)

7 0 0
                                    

Assisti ontem.

É tão ruim quanto as críticas estão dizendo? Não. Mas é um filme bom, fazendo jus aos jogos? Também não.

Filme bem mais ou menos, com alguns pontos positivos, mas muito mais pontos negativos. É assistível e diverte em algumas partes, mas vai pouco além disso. Vamos aos pontos principais:

- Os visuais são belíssimos, principalmente as tomadas pela visão da águia que voa pelos cenários, a escala e as paisagens (principalmente nas partes da Andaluzia em 1492). Porém, vê-se que o filme tentou se calcar muito nisso ao invés de investir mais satisfatoriamente no roteiro. O filme não consegue se firmar só em visuais deslumbrantes.

- Como a Ana Carolina Silva (minha namorada) bem comentou comigo após a sessão, o filme é todo "plano". Não se tem clímax ou empolgação genuína em momento algum. O que chega mais perto disso são as sequências no passado (falarei mais delas já já), mas no geral é uma experiência rasa, sem expressão. Vejo a origem disso em 2 problemas: roteiro ruim (com diálogos péssimos e quase sempre expositivos) e má atuação do elenco (Fassbender interpretando o "esquentado que não se importa" o tempo todo, a Cottilard muitas vezes até caricata, o Irons mais do mesmo e etc.). Em alguns pontos houve a intenção de simpatizar pelos demais Assassinos que estão presos na Abstergo, mas o roteiro também não os explora satisfatoriamente para que isso se concretize.

- O roteiro é interessante na proposta de se passar no universo dos jogos (e usa diversos elementos deles fielmente) e querer criar uma história inédita passada nele - mas, ironicamente, ao mesmo tempo em que é tão expositivo, em nenhum momento situa bem quem não conhece os jogos na mitologia toda. Isso é mais grave na questão da Maçã do Éden, cujo poder poderia ser facilmente explicado em 2 cenas a mais que fosse para deixar mais claro ao espectador, mas cuja importância, da maneira como foi feita, fica bem confusa e até exagerada.

- As sequências no passado de longe são a melhor coisa do filme. Se ele se passasse mais na Andaluzia de 1492 ao invés de ficar cortando para o desinteressante presente, inclusive, o filme teria ficado bem melhor. Pouco sabemos do Aguilar e sua vida (ao contrário dos jogos, em que a contraparte do passado do protagonista é sempre bem explorada) e quando as tomadas do passado começam realmente a empolgar, o filme destrói a experiência com a Animus sendo desligada. Uma pena, já que os visuais, lutas e parkour dessas sequências ficaram realmente bons - e o Torquemada, nas poucas falas que tem, já consegue ser um vilão melhor que toda a Abstergo no presente.

- A censura baixa prejudica o filme, principalmente nas cenas de ação. Os cortes rápidos já dificultam saber o que acontece e, para piorar, toda vez que um golpe letal é aplicado (com as lâminas, por exemplo), ou a câmera desvia para um ângulo que oculta a ferida ou corta para o Fassbender do presente na Animus, impedindo distinguir exatamente o que houve e ainda por cima quebrando o clima das cenas. Provavelmente foi uma decisão para o filme entrar no mercado chinês - mas que é ruim tanto para fãs (os jogos têm censura alta, embora adolescentes joguem) quanto para o público leigo.

- O filme diverte razoavelmente até uns 85% de projeção, quando termina a última sequência do passado e os Assassinos se rebelam na Abstergo. Essa parte do filme foi a que mais conseguiu me animar, principalmente quando o Cristóvão Colombo apareceu recebendo a Maçã do Éden do Aguilar (aproveitando ganchos históricos tão bem como os jogos fazem). Se o filme houvesse terminado com o Cal (Fassbender do presente) vendo o helicóptero dos Templários indo embora e depois com uma cena adicional deles chegando em Sevilha e não encontrando nada no túmulo do Colombo, o filme teria terminado MUITO BEM.

Por quê?

A lógica de entregar a Maçã ao Colombo, para mim, foi levá-la ao local mais distante possível, pois ele estava indo para a América. Isso daria um baita gancho à continuação, com um outro antepassado do Cal, mais recente, tendo escondido a Maçã na América depois da chegada do Colombo e colocando a continuação em algum outro período histórico do continente (Guerra Civil dos EUA? Velho Oeste?), com Templários x Assassinos lutando para ver quem encontra seu paradeiro primeiro.

Só que o filme resolve colocar a Maçã no túmulo do Colombo em Sevilha (por que então colocar o Colombo na história para desaparecer com ela, em primeiro lugar?), os Templários a encontram e ocorre aquela sequência final ridícula de conferência dos Templários, os Assassinos a invadindo com a maior facilidade, o personagem do Irons sendo morto sem nenhum contratempo e aquela promessa de vingança sem sal da personagem da Cotillard no final.

Eu até entenderia essa decisão por um final abrupto e mal trabalhado se os produtores não quisessem arriscar e assim fizessem um filme fechado, sem gancho para continuação. Mas se eles quiseram ganchar continuação de qualquer jeito, por que não usar um gancho muito melhor, e por que a decisão de estragar um elemento de trama tão interessante quanto o Colombo dessa maneira?

Enfim, é uma adaptação de games razoável, no mesmo nível do primeiro Mortal Kombat, do primeiro Resident Evil ou de Terror em Silent Hill. Quebra a maldição de filmes meia-boca desse gênero? Não. E ainda se vê que produtores, roteiristas, diretores e elencos ainda precisam entender exatamente que tipo de material têm em mãos para realmente fazerem filmes de jogos que saiam desse padrão de "OK, mas podia ser melhor".

GOLDFIELD - Nerdices e análisesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora