Capitão América 3: Guerra Civil (01/05/2016)

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ATENÇÃO: Ainda gosto bastante deste filme, mas meu conceito estava um pouco alto demais pela empolgação com que saí do cinema.

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Vamos então comentar um pouco sobre o melhor filme da Marvel Studios.

É perfeito? Não, tem seus problemas. Mas até agora, foi a produção que, embora fuja muito de seu material original, mais se aproximou da mesma. E, junto com Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia (na ordem), encabeça agora meu Top 3 de filmes do estúdio.

- Primeiramente, é admirável como este filme se propõe a bastante coisa, mas consegue entregar satisfatoriamente tudo que promete. É uma continuação do Capitão América 2 (direta, aliás, continuando com os arcos abertos nesse filme), e um filme dos Vingadores ao mesmo tempo. Tem o peso de ser aqueles filmes decisivos que definem e direcionam todas as demais histórias a partir dele. Está apinhado de personagens. E sim, consegue contar uma história coesa e trabalhar razoavelmente bem seus arcos. A profundidade maior, porém, fica com o Capitão e o Homem de Ferro - como era de se esperar pela proposta do filme.

- Anthony e Joe Russo são OS CARAS para dirigir cenas de ação com super-heróis, como já vinham mostrado em Soldado Invernal, e se consagram agora. Lutas claras e bem filmadas, fáceis de acompanhar em cada lance. Realismo às tomadas e impacto a cada golpe recebido - dá quase pra sentir dor junto com os personagens quando eles despencam de parapeitos ou batem em obstáculos. Algumas das lutas, como a final entre Capitão, Bucky e Homem de Ferro, são inclusive bastante brutais e empurram a censura de PG-13 até o limite. Mas com certeza o destaque fica para a sequência de vários minutos com os dois times se enfrentando no aeroporto na Alemanha. Ponto alto da trama.

- A história do filme é boa e bem amarrada. O Barão Zemo, BEM modificado quanto à sua versão das HQs, tem um plano bem interessante e que funciona, mas como vilão em si é fraco - problema do universo da Marvel no cinema, que não sabe bem trabalhar vilões (e esperemos que, com o Thanos, isso finalmente mude!). Nesse caso, poderiam ter mostrado mais do Ossos Cruzados, que toca o terror nas primeiras cenas, porém some rápido do filme.

- No entanto, os motivos e envolvimento emocional dos personagens ficaram bem trabalhados. Destaque para o clímax, com o Homem de Ferro descobrindo a verdade sobre a morte dos pais. Achei a sequência bem forte (inclusive para os padrões da Marvel), e dá para sentir a dor de ver aquilo junto com ele. Aliás, melhor interpretação do Downey Jr. em todos os filmes até agora. Resolveram investir no lado dramático do personagem, e ficou muito bem feito. Um pouco menos importante, soubemos de quebra que Homem de Ferro 3 realmente conta no cânone dos filmes (não referenciado em Era de Ultron, estranhamente, mas referenciado neste filme). Só queria, talvez, ter visto a Pepper Potts e uma solução melhor para esse arco. Maldito cachê.

- Destaque, também, para a sequência de flash-back com o Tony Stark - e o rejuvenescimento digital que me fez levar vários instantes para reconhecer o ator/personagem.

- Temia que o contexto político da história não seria tratado, mas para minha surpresa, foi até bem trabalhado e dedicou-se boa parte do filme a ele, mostrando as ideologias e pensamentos de cada personagem. Para alguns, isso pode ter deixado o filme mais lento em seu primeiro terço, porém achei um trabalho fantástico. A coisa toda da ONU e a discussão sobre soberania, inclusive, deram mais verossimilhança ao filme. Depois a coisa se desvia muito para o foco no Bucky, poderiam ter voltado nisso algumas vezes - mas ficou legal mesmo assim.

- PANTERA NEGRA: Um dos destaques do filme. Muito bem-encaixado, e no geral foi uma ótima apresentação ao personagem. Tem boas motivações e as pontas soltas deixadas quanto a ele também são boas. Só poderiam, talvez, ter mostrado um pouco mais de Wakanda - que pela estrutura geograficamente fragmentada dos filmes, até agora só é referenciada com paisagens da África do Sul ou da Nigéria (ainda assim, só se faz alusão ao país), sem ser mostrada em si. E sim, a cena pós-créditos poderia ter sido mais generosa nisso.

- HOMEM-ARANHA: Melhor versão do personagem. Ótima interpretação do Tom Holland. Muito legal ver que, após anos e anos de experiências e percalços, finalmente acertaram com um Peter Parker adolescente e piadista. Vê-lo em ação é um primor - sua participação na batalha do aeroporto, sozinha, vale pelo filme todo. Só uma pequena reclamação: meio forçado o motivo para sua entrada no filme. O Stark viajaria mesmo até os EUA para recrutar um rapaz que tinha "suspeitas" de ser um vigilante mascarado só para facilitar o cerco ao Capitão no aeroporto na Alemanha? Parte mais fanservice do filme. Mas valeu por toda a sequência do apartamento na cena de recrutamento. Quero ver mais deste Homem-Aranha.

- Das personagens femininas, a Feiticeira Escarlate é a melhor trabalhada e que tem um arco mais coeso (em conjunto com o Visão - bem explorado igualmente). Como a minha namorada falava comigo após o filme, e concordo, as demais personagens têm alguns problemas:
* Por mais que as sequências de luta da Viúva-Negra sejam sensacionais, já está cansando vê-la nos filmes como uma personagem basicamente "porrada". Seria legal mostrar mais de seu passado, além das memórias vagas de "Era de Ultron". Este filme teve todo um sub-contexto soviético envolvendo o Bucky que poderia ter sido aproveitado para explicar uma ou duas coisas da Natasha. Oportunidade perdida.
* Sharon Carter parcamente desenvolvida e com o romance meio forçado pra cima do Capitão. De certo apressaram por conta do tempo de filme, mas enfim - ficou estranho.
E que venha "Miss Marvel" para vermos uma heroína solo ser trabalhada com mais contexto e profundidade. Nisso a DC está na frente em relação à Mulher-Maravilha - se souber administrar.

- Martin Freeman roubando a cena nas poucas vezes que aparece. Espero que retornem com este personagem em filmes futuros.

- Talvez a única reclamação mais séria que eu tenha sobre o filme: ousar mais no arco dramático. Não adianta investir mais no desenvolvimento dos personagens se as consequências de suas ações são tão artificializadas. O mais próximo que chegamos disso no filme é a queda e paralisia do Máquina de Combate, porém amenizados nas cenas finais com a tecnologia do Stark sendo usada para sua recuperação. Se o filme acerta em trabalhar a destruição causada pelos Vingadores e o mundo tentando contê-los por isso, entre os heróis a expectativa e apreensão por seus embates fica comprometida pela certeza de que, no final, todos ficarão bem. Se por um lado isso produz o conforto de manter filme a filme as figuras carismáticas que tanto gostamos, por outro afeta a seriedade e impacto que a história poderia ter, reforçado justamente por já termos estabelecido laços emocionais com esses personagens. Trocando em miúdos, o Capitão América deveria ter morrido como na HQ (pelas mãos dos Ossos Cruzados, do Zemo ou por algum acidente naquele combate final nas instalações). Sabemos que, assim com nos gibis, ele voltaria - mas ao menos um arco seria encerrado de maneira mais intensa. Batman Vs Superman (em relação ao qual, aliás, Guerra Civil é em muita coisa superior - e as temáticas são parecidas) falhou em ter, sim, matado o Superman, mas não causado impacto no espectador por não termos nos apegado àquele personagem. Nos filmes da Marvel, os personagens já geram esse tipo de carisma. Uma perda poderia ser trabalhada de forma trágica e instigante, inclusive criando melhor pano de fundo a filmes futuros.

- Como reflexão final, esse filme, pela primeira vez, mostra a vastidão do universo cinematográfico da Marvel, e quantos personagens ele já tem. É um mundo de possibilidades, e este é um filme que já consegue referenciar menos as HQs e utilizar sua própria mitologia. Contando os Vingadores, Homem-Aranha, os personagens urbanos da TV (Demolidor, Justiceiro, etc. - que aliás, em algum ponto DEVERIAM fazer pontas nos filmes) e todos os demais já sob direitos de cinema, a coisa já está bem ampla e rica. Abre-se caminho para muitas boas histórias a serem contadas.

Esperemos que o nível continue alto, e os próximos filmes solo e dos Vingadores mantenham a qualidade deste. Ninguém quer outro Thor no nível do 1 e do 2, por exemplo.

Que venha X-Men: Apocalipse.  

GOLDFIELD - Nerdices e análisesTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon