O Menino que Queria ser Rei (03/05/2020)

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Tive uma apreensão muito grande com esse filme quando ele foi anunciado e vi os trailers, por ele ter uma proposta absurdamente parecia com a dos meus livros "O Legado de Avalon", publicados antes de seu lançamento (ocorrido no começo de 2019).

Hoje finalmente assisti.

Sem entrar numa questão de falta de modéstia, mas falta de mérito do próprio filme, creio poder ficar tranquilo, já que ele é bem ruinzinho - e meus livros, mesmo com a proposta bastante similar, conseguem desenvolver o tema de forma bem mais complexa e atraente.

Resumindo:

- O roteiro é todo cheio de furos e executa a Jornada do Herói da forma mais preguiçosa e burocrática que se possa imaginar;

- Os personagens não têm carisma algum, do protagonista aos coadjuvantes. Há um conflito forçado entre dois núcleos (o do protagonista + melhor amigo vs. bullies da escola) que não funciona a princípio e ainda é resolvido de forma bem porca;

- Para evitar que as pessoas comuns tenham contato com os elementos mágicos da história, o roteiro inventou uma regra em que sempre que lacaios da Morgana aparecem, as pessoas comuns desaparecem num campo indefinido de distância, só permanecendo quem houver sido sagrado cavaleiro pelo "Arthur" (no caso, o Alex, protagonista). Esse é o tipo de solução que mais odeio em histórias de fantasia, não é explicada direito e cria muitíssimos mais furos do que pretenderia resolver;

- Usaram o elemento pouco abordado da lenda de que o Merlin vive "de trás para frente", ficando mais novo conforme o tempo passa. Ponto a favor. O problema é a execução: o Merlin adolescente não consegue cativar. Nem as aparições do Patrick Stewart como a versão idosa do mago conseguem salvar;

- Os diálogos são em sua maioria péssimos, com referências de cultura pop jogadas sem propósito por toda parte e criando um ritmo que torna assistir ao filme uma experiência extremamente arrastada;

- As lendas arthurianas são riquíssimas em criaturas, apoiadas pelo folclore celta e elementos sincretizados, e o roteiro coloca uns esqueletos mortos-vivos como os ÚNICOS seres usados pela Morgana o filme inteiro;

Poucos pontos bons:
- A cena em que a Dama do Lago é revelada pela primeira vez, que por sinal nem é tanto mérito , pois ela é quase inteira copiada do filme Excalibur (1981), até mesmo na trilha sonora;
- A forma harpia da Morgana ficou bacana visualmente;
- A batalha final é levemente inventiva, embora a conclusão seja extremamente anti-climática.

Melhor coisa do filme: a animação nos primeiros minutos recontando a lenda do Rei Arthur.

Filme extremamente Sessão da Tarde até para os padrões de Sessão da Tarde. Recomendaria apenas a crianças pequenas que queiram conhecer a lenda, e ainda assim com ressalvas - mesmo um filme que mire crianças menores não precisa ter desleixo com a mitologia que aborda ou ser mal escrito.

Dá para entender a razão de não ter feito sucesso...

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