Logan (05/03/2017)

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Assisti ontem.

O principal comentário que tenho sobre o filme é: depois de 17 anos da leva atual de filmes de super-heróis (iniciada, dentre outros, pela própria série X-Men), finalmente estamos diante de um "filme graphic novel".

Não estou contando adaptações como SinCity, V de Vingança ou o Watchmen porque, por terem sido já concebidos desde os quadrinhos para esse tipo de formato, os filmes logicamente seguiriam o modelo. Falo, no caso, o primeiro filme "graphic novel" usando personagens de séries regulares de quadrinhos.

O sentido de "graphic novels" que estou utilizando aqui são aquelas histórias mais fechadas, podendo ou não se encaixar na continuidade normal dos personagens, e por isso tendo pouco compromisso com cronologia ou eventos anteriores. Daí o autor ter uma liberdade maior para matar/introduzir personagens, criar os famosos "universos alternativos" ou contar histórias e explorar os personagens a um nível que os quadrinhos regulares geralmente não permitem. Por isso mesmo, graphic novels costumam ter um tom mais adulto/denso que os quadrinhos normais, e um aspecto mais autoral do roteirista.

Pois bem, "Logan" foi basicamente isso, mas em formato de filme.

Tudo no filme tem um tom diferente do que já vimos até aqui: violência explícita (parte do "efeito Deadpool", com a Fox percebendo que filmes de heróis com censura alta também geram bilheteria, e resolvendo arriscar mais), personagens que realmente morrem e têm o peso de suas mortes sentido na narrativa, até mesmo a metalinguagem de usar HQs no enredo e Wolverine negá-las a todo momento como "invenção" (de certa forma também transpondo isso aos filmes anteriores, sendo que o mundo real - e cruel - seria o mostrado nesse novo filme).

Também não se prende a amarras de cronologia (ainda mais considerando a cronologia tão confusa dos filmes dos X-Men, e fazer inserções para encaixá-lo nela com certeza diminuiria a qualidade do filme), deixando ao espectador interpretar o futuro mostrado pelo roteiro como um cenário possível a qualquer das cronologias dos filmes que se considerar; e deixar apenas subentendido os acontecimentos que levaram a ele, sem longas explicações ou flashbacks, também foi um acerto excelente da história, que é coesa e bem amarrada.

Vamos a alguns pontos mais específicos...

POSITIVOS:

- Interpretação mais condizente do Wolverine em 17 anos, com o Hugh Jackman mostrando como amadureceu bem no papel e como finalmente entenderam o personagem e o universo que o cerca. A violência, que é bastante gráfica e chocante (definitivamente NÃO É um filme para crianças, nem mesmo indo assistir com os pais) também se insere nisso. O triste: termos esse acerto apenas no último filme com o Jackman como o personagem, devido a decisões de produtores e lógica de bilheteria que impediram tudo isso nas adaptações anteriores.

- Todos os demais personagens são bons e funcionam: o Xavier (ótima interpretação do Patrick Stewart, que nos faz rir e chorar mostrando todo o declínio do Professor Xavier, embora ainda mantenha sua serenidade e esperança), a X-23 (muito bem inserida no roteiro e com uma cativante interpretação da atriz), o Caliban, os vilões (só notei um aparente erro de continuidade entre a cena pós-créditos do X-Men Apocalipse e esse filme, já que no primeiro era a "Corporação Essex" que havia se apoderado do DNA do Wolverine, e no Logan essa corporação é citada como Alkali ou Transgen, mas isso dá pra relevar - até porque é bom o filme ignorar essas amarras), a família na fazenda (perda que eu mais senti no filme todo!), e as demais crianças mutantes.

- O filme fecha muito bem o clico do Wolverine visto no cinema até aqui, sem pontas soltas (nem cena pós-créditos o filme tem), sem medo de ousar matando personagens queridos e o próprio protagonista. Aliás, as cenas finais, deixando claro o desgaste físico do Wolverine e em como ele é incapaz de liquidar inimigos que antes liquidaria facilmente, foi o ponto que mais me marcou. Ao final, foi o filme que mais humanizou o personagem, inclusive em sua morte.

NEGATIVOS:

- Não gostei do modo como o Charles Xavier morreu - embora entenda que se encaixa muito bem na temática do filme: trágica, crua e realista - e não poderia ter sido muito diferente. No meu caso é reclamação de fã querendo um fim mais digno ao personagem.

- Geralmente não gosto de roteiros que coloquem o personagem principal enfrentando um equivalente maligno com os mesmos poderes - acho uma coisa meio preguiçosa e forçada. No caso, estou falando do clone do Wolverine que há no filme. Ele serviu, porém, para mostrar o contraste que o Logan tinha no auge da forma e como ele decaiu envelhecendo - coisa que fica evidente principalmente no final do filme. Até funcionou, mas me pergunto se não haveria outra opção aí - embora entenda que eles devem ter pensado 100 vezes antes de fazer algo que imitasse a Lady Lethal, o Dentes de Sabre ou, pior, o Deadpool do Wolverine Origins.

Enfim, ótimo filme, despedida digna do Hugh Jackman (que só deixa a sensação triste de que poderíamos já ter visto algo tão bom anteriormente) e aula para outras produtoras e cineastas sobre como fazer filmes alternativos envolvendo super-heróis.

Fica a esperança de, no mesmo estilo, ver um dia filmes beberem em universos alternativos como "Marvel 1602" ou "Superman: Entre a Foice e o Martelo" e criar boas histórias, descompromissadas quanto a cronologia ou restrições criativas, para dar novas faces aos personagens de que tanto gostamos.  

GOLDFIELD - Nerdices e análisesWhere stories live. Discover now