The Last of Us - Parte II (04/01/2021)

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Terminei o jogo dia 31/12, após jogá-lo entre intervalos por praticamente 2 meses.

Estou dando uma pausa na revisão das minhas histórias à Amazon, para comentar a experiência.

Spoilers de toda a trama seguem abaixo.

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Como as pessoas que me seguem pelas redes sociais há mais tempo devem saber, eu não caio de amores pelo primeiro "The Last of Us".

O maior motivo foi o hype. Joguei o game no final de 2014, pouco mais de um ano após o lançamento. Tanto se falava sobre o quão revolucionário ele era, elencado até mesmo a um dos melhores jogos já criados, que o iniciei com a expectativa bem alta.

O resultado foi considerar o game muito bem feito, mas muito aquém da tal trama extraordinária esperada. Explicando: o primeiro jogo tem seu enredo centrado num trope (elemento / arquétipo narrativo) comum a várias obras de ficção: o protagonista de passado doloroso que se associa a uma criança, cria com ela uma relação paternal e é transformado no processo (sua jornada pessoal, geralmente, torna-se indissociável da jornada da criança, inclusive no sentido de protegê-la). Recentemente, "The Mandalorian" usou essa mesma premissa. Aposto que de cara você consegue se lembrar de várias outras obras que também fazem isso.

O problema, a meu ver, é que o roteiro do primeiro jogo não sai do feijão-com-arroz. Claro, é um feijão-com-arroz muito bem temperado e saboroso, mas não há nada de muito ousado ou provocador ali, em termos de enredo – e fui ao jogo justamente com essa sede. Ele executa o trope principal e outros tropes comuns a mundos pós-apocalípticos de maneira competente, e tem sua força realmente na questão técnica de como a narrativa é contada – harmonicamente atrelada ao gameplay, tendência que a Naughty Dog trouxe dos games da série "Uncharted". Porém, pela história em si contada, não consegui me envolver emocionalmente com muita profundidade – nem ser cativado como outros games já haviam conseguido.

Há algum tempo, joguei a primeira temporada de "The Walking Dead" da Telltale, e cheguei a postar que ele executou o trope do protagonista que se redime através de uma criança bem melhor que The Last of Us, além de ter uma ambientação pós-apocalíptica bem parecida.

A única virada mais marcante no primeiro jogo é o final. Ao invés da redenção, o Joel escolhe o caminho de privar a humanidade de uma cura, e realizar um massacre dos Vaga-Lumes, para salvar a Ellie. Respeito muito esse desfecho porque ele parte de um baita dilema utilitarista: manter viva a criança que deu novo sentido à sua vida, em detrimento de toda espécie humana, ou criar a vacina ao fungo que dizimou o mundo às custas da vida da menina. É um baita conflito moral, que inclusive já utilizei em aulas de Filosofia (alguém conhece o Dilema do Bonde?). E o melhor: a escolha de Joel não fica sem consequências. Elas finalmente vêm na continuação.

E que continuação, senhoras e senhores. Depois do feijão-com-arroz, é hora do filé mignon. Todo meu desafeto pelo primeiro jogo é totalmente convertido em admiração pela Parte II.

Em primeiro lugar, o jogo deve ser apreciado sem nunca perder de vista o ponto principal de seu argumento: quão destrutivo pode ser um ciclo de vingança entre duas pessoas; e o quão a violência é desumanizadora e capaz de gerar perdas, tornando cada vez mais difícil aos personagens se manterem íntegros diante da tentação de recorrer a ela num mundo devastado em que a sobrevivência exige seu uso.

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