Capítulo 10 - Como mandar o antigo regime pelos ares

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"Capítulo de quarta para quinta?", vocês devem estar se perguntando, espantados. Como hoje (eita, ontem!) foi Dia Internacional das Mulheres - um feriado de origem proletária - e aniversário da nossa querida colega leitora Gabriella, e ela pediu um capítulo de presente, sequestrei o notebook da minha irmã para poder revisar e adiantar o capítulo dessa semana. Vamos cantar parabéns para a Gabriella!

Aproveito a oportunidade para avisar quem não soube por outro canal que eu estou sem computador já desde antes do Carnaval, e que, pelo celular, os comentários não estão carregando direito. Não desistam de mim! Se Deus quiser essa situação com o computador já estará resolvida no fim de semana, e sábado eu volto pra cair nos braços de vocês.

Até lá, viva nós, meninas, e cantemos parabéns para a Gabriella. Boa leitura a todas e todos.

***

Meu suspiro foi até sonoro quando, ao trazermos nossas malas para a sala do Tenente, com caras pálidas, ele explicou que apenas tinha se esquecido de vistoriá-las logo na chegada, como era praxe, por termos ido para lá de madrugada.

Não havia itens proibidos ou comprometedores nas nossas bagagens, então a revista foi relativamente rápida. A única coisa que o Tenente pegou com ar de desagrado foi o livro que Pavel tinha me emprestado.

– Bulgakov? – ele exclamou, em tom de censura, e eu mais uma vez me espantei, sem entender o que as pessoas viam de errado naquele autor. Certo que eu lera pouco até agora, mas do que tinha lido, não conseguia adivinhar o que causava essa agitação.

– É empre... – eu ia dizendo, mas ao ver que ele colocava o volume na mala de volta sem maiores comentários, mordi os lábios para me calar. Se havia algo de errado com aquele livro, declarar quem era seu verdadeiro dono poderia causar problemas ao meu amigo de Leningrado, o que eu de modo nenhum desejava.

Astrakhanov nos devolveu as malas, e meus colegas levaram as suas imediatamente. Eu, porém, me deixei ficar para trás um instante. Não sabia se ele tinha captado meu olhar de agradecimento mais cedo, e queria me certificar de que entendesse que eu apreciara o apoio.

– Muito obrigada por sair em minha defesa mais cedo, senhor – eu disse, timidamente. O tenente olhou para mim, intrigado, e eu esclareci. – No incidente a respeito do meu cabelo.

Pela primeira vez, o vi sorrir. Seu sorriso não me quebrava as pernas, como o de Pavel, mas o tornava muito mais simpático e humano. Ele encolheu os ombros mais uma vez – parecia ser um gesto comum seu – e disse:

– Minha noiva tem o cabelo bem longo também, e tenho certeza que isso não a impediria de ser uma excelente revolucionária, se quisesse. São miudezas que não têm nenhuma importância, mas a Major Bruntieva gosta de mostrar que manda – ele comentou, sem conseguir disfarçar certa dose de reprovação na voz.

Alarmou-se, porém – afinal, hierarquia era tudo por ali, e ele não podia ser pego minimizando sua importância – e, consultando o relógio de pulso, dispensou-me:

– Acho que você deve ir agora, ou vai acabar se atrasando para a aula.

Tudo o que eu não queria era levar um castigo por atraso logo no primeiro dia, então desci o corredor, joguei minha mala de volta no meu quarto de qualquer jeito e disparei escada abaixo e pelo pátio, até alcançar o ponto de encontro, e, ainda ofegando, postar-me no final da fileira de alunos, no exato momento em que a Major Bruntieva parava em frente a essa fileira.

Ela me olhou com o nariz torcido, mas não teceu comentário.

Maravilhoso, a primeira professora já estava pegando raiva de mim. Excelente trabalho, Maria Clara, excelente trabalho!...

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