Capítulo 38 - O Nosso Vojd

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Olá, meus amados camaradas! 

A postagem fora de programação de hoje se deve à comemoração das 10.000 visualizações que Dias Vermelhos atingiu hoje — é a primeira vez que isso me acontece com um livro ainda em andamento! Então considerem-na um grande abraço em vocês por levarem a história tão longe. Um abraço um tanto espinhoso, mas ainda assim um abraço. Decidi adiantar o capítulo como forma de agradecimento; não se preocupem que sexta teremos capítulo também, até porque este é curtinho, em que pese importante, e isso vai fazer com que a Parte 1 termine em uma data bem conveniente, na verdade...

As pontas soltas começam a se juntar...

Sem mais delongas, vamos lá. 

***

Diante da minha ausência de resposta, e desconcertado pelo olhar atento que seguia cada um dos seus movimentos, Prestes entrou de vez na sala, e fechou a porta atrás de si.

Ele era pouco maior do que eu, e de compleição franzina. Trajava um terno cinza, surrado, provavelmente ainda trazido do Brasil, e que certamente ele precisava cobrir com um sobretudo para não morrer de frio na rua. Seu rosto, ainda jovem, tinha um ar de maturidade que se desprendia da expressão séria e quase tímida. O nariz afilado, a boca regular e os olhos pequenos e escuros cravados no rosto passavam uma sensação de sobriedade que inspirava confiança. A postura um pouco retraída equilibrava o orgulho latente que transparecia em cada um dos seus gestos, impedindo que essa autoconfiança repelisse. Pelo contrário, tinha-se a impressão de se estar diante de alguém responsável e em paz com os próprios objetivos, e não de um fanfarrão qualquer.

– Agora que já teve tempo de me analisar, camarada – ele pronunciou, após guardar silêncio por alguns minutos – podemos passar para o assunto que me trouxe aqui?

Eu anuí, ainda sem abrir a boca. Prestes gesticulou em direção a uma das cadeiras da sala de aula, puxando outra e colocando em frente a ela. Sentou-se na segunda, e me convidou a ocupar a primeira, o que eu fiz, abraçando protetoramente minha aprovação para o curso de mestrado.

Prestes cruzou as pernas, apoiou as mãos sobre o joelho, e pensou um minuto sobre como introduzir o assunto.

– Você é brasileira, não é, Camarada? – Silêncio. – Pode falar isso para mim, eu também sou, como você bem sabe. Até por eu estar falando em português. Não é quebra do sigilo revelar essa informação para um agente da Internacional.

O sigilo nem tinha me passado pela mente; eu estava apenas perplexa, e roubada do dom da fala. Fiz que sim com a cabeça. Prestes acenou em aprovação.

– Pois bem. Nosso país, segundo acreditamos, está à beira de viver o seu melhor momento. A população amadureceu politicamente de maneira extraordinária, nos últimos dez anos – ele discorreu. – Tivemos a movimentação dos militares, de uma forma bem ideologicamente confusa, é verdade; depois a falsa 'revolução' de Getúlio; o voto feminino; e, segundo as últimas notícias, acabam de promulgar uma nova Constituição. Os boatos são de que há instituições bem avançadas nessa Constituição. Foram incluídos até direitos sociais... Seguindo a constituição que fizeram em Weimar na Alemanha, em 1919.

– Reformista – eu lembrei. Prestes, que estivera com os olhos parados em algum ponto à sua frente, desviou-os para mim, animado por essa primeira reação da minha parte. Ele anuiu.

– Sim, reformista, é verdade. Como eu e você sabemos, a socialdemocracia não leva a nada definitivo e é apenas uma forma de tentar apaziguar e domesticar as massas trabalhadoras – concordou, – mas é uma fase necessária. Ela antecipa o despertamento final do proletariado, e é um dos recursos do capitalismo agonizante, que ele usa para tentar se manter respirando. Essa Constituição é um sinal de que o capitalismo no Brasil está respirando por tubos.

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