Capítulo 32 - Boatos

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Capítulo novo etc etc?

Sim. Porque hoje é dia do escritor, e eu escrevi 4k de palavras em DV hoje e terminei um capitulozão, e também faz exatamente dois anos que eu me formei (terminar a faculdade é sempre algo a se comemorar, mesmo se você tem conflitos com relação à sua área), e outras coisinhas aconteceram pra me deixar bem felizona hoje, então pensei, por que não adiantar capítulo? Melhor forma de comemorar dia do escritor do que essa não há.

E pensei de novo "É só você que vai se ferrar mesmo se ficar sem capítulo pra postar, então toca a ficha, Érika". E aqui estou eu tocando a ficha.

Espero que apreciem a surpresa. Ah, e a propósito: se você escreve, feliz dia do escritor.

***

Silêncio.

Foi a reação do estádio quando todos receberam a mensagem que os ucranianos de duras faces queriam passar.

Em seguida veio a polícia. Ainda em silêncio, sem rebuliço, tiraram a equipe do pódio e a conduziram para fora do Dínamo. Eles foram sem resistir. De certa forma, aquilo era um ato político, e sabiam que teria consequências.

O clima animado e esportivo meio que se estragou, a despeito dos esforços do apresentador para mantê-lo aceso e apagar o incidente da mente dos expectadores. Via-se que a equipe bielorrussa tinha vontade de perguntar se passariam a ter direito ao primeiro lugar, já que os oponentes acabavam de ser presos, mas não tiveram coragem de fazê-lo naquele momento. Tentariam depois por meios burocráticos.

Sem mais nada a fazer para salvar o espírito da tarde, o apresentador dispensou a todos com algumas palavras vazias.

Os ucranianos tinham conseguido seu intento: agora havia uma multidão pensando no problema deles.

Com a cabeça cheia de interrogações, pensando em eu mesma interrogar meus colegas brasileiros mais tarde – afinal, eles tinham ido para a Ucrânia no verão – ainda tive que me preocupar em me esconder de Ivan, que vi saindo do estádio pelo lado aberto, junto de outros rapazes, quando as arquibancadas finalmente começaram a vomitar gente. Para minha sorte, ele também parecia estar pensando no protesto que acabara de testemunhar, e não me notou.

Não tive chance de falar com os rapazes naquele dia. Eles também tinham saído para compromissos particulares e não voltaram até a hora que eu fui dormir. E fui cedo. Às vezes, quando algo te incomoda, o melhor é dormir para afastar os pensamentos por um momento. De manhã, você lida com os que ainda restarem.

Acontece que quando os pensamentos são sobre pessoas famintas, a tendência é que reapareçam logo no café da manhã.

A mesa do café não era o momento que eu teria elegido para tratar de um assunto tão sensível, com colegas de várias nacionalidades nos cercando, e a consciência de que, dentre eles, havia dezenas de policiais ideológicos, ávidos para denunciar qualquer desvio alheio, como as experiências após o Dia da Revolução no ano anterior tinham comprovado. Por isso, me escudei no português. Eles ficariam curiosos para saber do que conversávamos, mas – tirando os falantes de espanhol mais atentos – teriam que se contentar com a curiosidade.

– Rapazes, acredito que nunca cheguei a perguntar – comecei, cautelosamente – mas o que vocês acharam da Ucrânia?

Os três me olharam com cara de paisagem.

– A Ucrânia em que sentido? A natureza, o povo, a comida...? – Silo perguntou, incerto.

– Sim, a comida – eu respondi. – Mas não a culinária – adicionei quando José Maria fez menção de responder. Eles continuaram a olhar para mim com cara de quem não tinha entendido. – Se eles estão mesmo passando fome! – expliquei, impaciente.

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