Capítulo 25 - Departamento de Fiscalização

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Capítulo na terça? Bem, sim. Hoje é dia dos namorados, e como estamos no meio daqueles raros ciclos de capítulos em que o Pavel aparece, achei que eles mereciam essa homenagem — apesar de não estar dando tudo certo para o ship. Assim já alegra quem — como eu — sempre amarga a solidão no dia 12 de junho (oh vida). A propósito, hoje também é Dia da Rússia, então nada mais justo que liberar capítulo em Dias Vermelhos.

Espero que tenham gostado da surpresinha.

***

Eu me virei para Pavel.

– E agora?

Ele encolheu os ombros.

– Acho que você vai ter que dormir lá em casa – disse.

– Sua mãe não vai achar muito transtorno? – eu perguntei, torcendo as mãos. Ele inclinou a cabeça para um lado.

– Ela vai ficar um pouco surpresa – disse, – mas não há o que fazer. Não se preocupe – tranquilizou. – Não vai ter problema. Vamos, agora até eu estou ficando com sono – bocejou.

Realmente, 'surpresa' foi uma caracterização exata da reação de Anna Anatolievna. A hora que chegamos em casa, apenas ela estava acordada, esperando o filho voltar. Ao me ver entrar junto dele, não conseguiu conter um levantar de sobrancelhas, e a expressão levemente consternada, quando explicamos o que tinha acontecido, aquela que a gente faz quando nos obrigam a lidar com um problema que não estava nos planos. Mas ela logo superou essa etapa e se propôs a arrumar um cantinho no quarto para mim.

– Não precisa, eu durmo aqui mesmo – obstei, apontando o divã perto da poltrona da sala. – Não quero incomodar.

– Não, filha, aqui não dá – Anna descartou minha solução com um aceno. – Gente transita por essa sala – acrescentou, certamente se referindo aos vizinhos. – Já damos um jeito nisso.

E ela rumou para o quarto, e eu fiquei esperando, sentada no divã. Dali a pouco, Anna Anatolievna apareceu na porta e me chamou.

Toda a família dormia naquele recinto, e ele era bem amplo, com duas janelas. O extremo mais distante estava ocupado por um sólido guarda-roupa de madeira, que provavelmente encerrava a totalidade das roupas da casa, ainda mais que homens não se vestem com muita variedade. A cama do casal fora encostada na parede ao lado da porta. Ivan Petrovitch ressonava baixinho ali. No espaço entre as duas janelas na parede oposta via-se um berço, já pequeno para a menina Dúnia, que ainda dormia nele, com o dedo na boca. De frente para a cama do casal se enfileiravam duas de solteiro, a mais próxima da porta, ocupada por Andriusha, e a outra vazia, já que Pavel fora ao banheiro, se preparar para dormir. Entre essa cama e o berço, embaixo da primeira janela, Anna Anatolievna improvisara um leito de cobertas. Eu me dirigi para lá, mas ela segurou meu pulso, e redirecionou meu trajeto.

– Não, não, você é uma moça, nada de dormir no chão – repreendeu.

– Eu nã-

– Rapazes precisam aprender a fazer concessões. Ele não vai se incomodar, fique tranquila.

Aparentemente, Pavel trouxera o problema, e por isso perdera o direito à cama. Ainda tentei discutir, mas Anna Anatolievna não me deu nem espaço para sair dali, então me resignei a tirar os sapatos, o casaco, e me acomodar na cama de Pavel. Anna Anatolievna seguiu para seu próprio leito, então, removendo o roupão de cima da camisola, antes de deitar-se com um gemido resultante de um dia cansativo.

Eu fiquei lá, com os olhos arregalados na escuridão. Era tão estranho estar na cama dele. Eu não sabia o que pensar a respeito, apenas sentir. Vi Pavel entrar, os cabelos despenteados, de calça e uma regata branca que lhe acentuava a estreiteza do tronco. Não sei se ele sentiu meus olhos em seus ombros angulosos, quando se abaixou para guardar a trouxinha da roupa diurna embaixo do travesseiro, mas virou a cabeça para o meu lado, e sorriu ao ver que eu ainda estava acordada.

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