Capítulo IV

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Entrei na delegacia acompanhada pela estranha do motel. Eu havia recolhido cada item que, segundo ela, pertencia à "mestra", e guardei-os no porta-malas da viatura. Apesar de vasculhar o quarto, não encontrei o revólver ou qualquer pista que levasse ao paradeiro da segunda mulher. Convoquei o gerente do motel e o porteiro para depor na delegacia ao amanhecer. E conduzi a mulher do motel para a sala do delegado. O local estava vago, pois ele descansava em casa alheio ao grande problema que tínhamos para resolver.
— Sente-se. – apontei para a cadeira em frente à mesa de ferro.
— Poderia ser um pouco mais gentil? – a jovem me olhou.
— Não estou sendo gentil o suficiente? – arqueei uma sobrancelha.
— Olha... – a jovem se colocou à minha frente. — Sei o que pensa sobre mim.
— O que penso sobre você? – indaguei, encarando-a.
— Que sou uma maluca.
— Hm. – cruzei os braços. — Você alega não conhecer a pessoa com quem foi para o motel, mas confiou sua vida a ela. Isso não parece a atitude de alguém são.
— Ela conhece os meus limites.
— Sente-se e espere o delegado chegar. – apontei novamente para a cadeira. Em seguida, saí da sala e fechei a porta. Nicolas estava no corredor.
— O que houve, Ema? – seus olhos estavam curiosos.
— Não houve um homicídio.
— Que bom. – Nicolas respirou aliviado.
— Mas temos um problema. – dirigi-me à recepção, e meu colega me seguiu.
— Qual?
— A suposta atiradora escapou do motel antes da minha chegada.
— A moça que você trouxe não é uma testemunha? – Nicolas indagou.
— Não tenho tanta certeza da inocência dela, talvez seja cúmplice da outra mulher. Ela alega não saber nada sobre a suposta atiradora. – respondi.
— Isso é possível?
— Eu a encontrei acorrentada na cama, com uma venda nos olhos e uma mordaça na boca.
— Uau. – Nicolas abriu mais os olhos, surpreso.
— Eu preciso de um café bem forte para começar esse dia. Já percebi que vai ser logo. – respirei fundo.

***

O delegado chegou apressado, e prontamente me ergui da cadeira na recepção.
— Bom dia, Sr. Pedroso.
— Não parece um bom dia, Ema. – ele percorreu o corredor sem me dirigir um olhar, destacando-se com seu porte alto e robusto no terno cinza. Seus cabelos castanhos apresentavam rarefação na parte de trás da cabeça, revelando sinais de calvície.
Ao avistar Pedroso, Nicolas abriu a porta da sala onde estava a jovem do motel. Pedroso adentrou sem proferir uma palavra a ele. O mau humor do delegado estava visivelmente aflorado naquela manhã.
Caminhei em direção ao meu colega e, quando ele fechou a porta da sala, cochichei.
— Se não encontrarmos a atiradora nas próximas horas, o Pedroso vai arrancar nossos corações e comê-los no almoço.
— Não faço ideia de quem seja ela. Posso pegar a grelha para o delegado assar nossos corações? – Nicolas brincou.
— Diga adeus para a Megan Fox. – esbocei um pequeno sorriso.
A porta da sala do delegado se abriu abruptamente, revelando a jovem do motel diante de mim, com um sutil sorriso nos lábios.
— Com licença. – ela murmurou antes de seguir pelo corredor. A observei, incrédula. Pedroso a havia liberado?
— Ema. – o delegado me chamou, e imediatamente entrei em sua sala.
— Oi, senhor. – me aproximei da mesa, ficando de pé.
— Você me ligou às 3 da manhã por causa de uma brincadeira de casal?
— Brincadeira? Senhor... – Pedroso me interrompeu.
— Cale-se, Ema. Dirigi por quase duas horas por conta da sua tolice. – permaneci em silêncio, e Pedroso continuou seu sermão. — Você sabia que os tiros foram disparados por uma arma de festim?
Franzi a testa, abrindo levemente a boca.
— Não, senhor. Vi as perfurações de bala no teto do quarto.
— Encontrou algum projétil? – o delegado cruzou os braços, inclinando a cadeira para trás, seu olhar era severo.
— Não, senhor. Certamente a atiradora os recolheu. – respondi.
— Céus, Ema! Pare de assistir tantas séries hollywoodianas. – seu tom de voz denotava irritação.
— Permita-me investigar o caso, descobrirei onde estão as balas.
— Não, pare de bancar o Sherlock Holmes. Troque-se e vá para casa, está suspensa por três dias. Agora, saia da minha frente. Eu vou resolver o problema que você criou. – ele gesticulou, expulsando-me da sala.
— Não entendo. – minha confusão mental se refletia em meu olhar. — Não vamos investigar o caso?
— Não, eram apenas jovens se divertindo. Se você fosse competente, teria percebido que não ocorreu nada ilegal no motel. Foi apenas uma brincadeira que causou um mal-entendido. – o olhar do delegado desceu para a mesa, e sua mão alcançou o telefone fixo.
— Senhor...
— Ema, pare de insistir nesse assunto. – seu tom de voz firme me fez silenciar. Saí da sala com uma sensação de injustiça. Eu não estava louca. Algo de errado estava acontecendo. Por que ele não queria que o caso fosse investigado? O gerente adotou uma postura semelhante, o que me fez cogitar que eles estavam sendo influenciados por alguém.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now