Capítulo LXXV

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Após o jantar, Mariana me convidou para conhecer o que ela chamava de “dark room”.
— Preparada? – Mariana parou diante da porta e pôs a mão sobre a maçaneta.
— Não, mas pode abrir. – respondi, um pouco nervosa.
— Aqui dentro não há nada demais, Ema. São apenas correntes, ganchos, suportes. Nada demais. – disse Mariana ao abrir a porta. O ambiente era escuro, com um tom avermelhado. Mariana entrou na minha frente e a segui de perto. — Como eu disse, nada demais.
Observei o local com curiosidade. O espaço era pequeno e possuía isolamento acústico nas paredes. Uma cama redonda com colchão vermelho e travesseiros pretos estava ao centro, com uma cabeceira de ferro sobre a qual pendia uma corrente. Eu podia imaginar que Daniele já havia sido pendurada ali algumas vezes.
Mariana avançou calmamente em direção a um armário de duas portas e o abriu, revelando uma infinidade de acessórios, incluindo chibatas, algemas, lubrificantes e plugs.
Havia uma poltrona posicionada estrategicamente na frente da cama, como se estivesse ali para um observador. Me aproximei dela e pus minha mão sobre o apoio das costas, percebendo que havia pulseiras metálicas saindo dos encostos de braço. Mariana retornou até mim.
— Perguntas? – ela perguntou.
— A Angelina vai participar? – indaguei.
— Vai. – Mariana respondeu naturalmente.
— Como isso funciona? Ela não é como você? – questionei.
— Sim, eu vou deixá-la tocar a Daniele, entre outras coisas.
— Ela vai te obedecer? – questionei.
— Sim, porque a Daniele é minha submissa. E a Lina só pode tocar nela com a minha autorização.
— Entendi. – murmurei, cruzando os braços. — Eu posso me retirar se algo me incomodar?
— Claro, mas faça isso discretamente, não deve interferir no andamento da cena.
— Certo. – concordei.
— Como não planeja participar, então, agirei como se não estivesse aqui, tudo bem para você? – Mari perguntou.
— Tudo bem. – respondi.
— Lembre-se, mantenha a calma, aconteça o que acontecer. – Mari tocou meu ombro. — Tudo o que faço, até mesmo a dor que causo, é calculado. A dor e o prazer são faces opostas da mesma moeda, e a linha entre eles leva ao êxtase.
Quando Daniele entrou no cômodo seguida por Angelina e Sarah, me encostei perto da parede, deixando o centro livre. Sarah se aproximou com um sorriso e me deu um selinho, tocando meu rosto com ambas as mãos.
— Eu já estava com saudade de você. Mariana tentou te roubar de mim quase a noite toda. – disse Sarah, me abraçando e apoiando a cabeça em meu ombro. Eu não pude retribuir o gesto de carinho. Estava nervosa, meu corpo tenso, como se quisesse deixar aquele cômodo, talvez fosse o meu senso de autopreservação agindo.
— Eu senti o mesmo. – respondi baixo.
— Ema, o que está acontecendo? –  Sarah afastou-se e me olhou nos olhos. — Está pálida. Está se sentindo bem?
— Estou bem.
— Amor, não precisa fazer algo que você não quer fazer. – disse Sarah.
— Sarah... Eu só preciso de um pouco de ar fresco. Vou me recompor. – respondi.
— Então, vamos lá fora. – Sarah ofereceu a mão direita.
— Algum problema? – Angelina perguntou, aproximando-se com sua imponente armadura.
— Está tudo bem, Lina. Ema só precisa de um pouco de ar. – Sarah respondeu, segurando minha mão esquerda. — Vamos, amor. Eu vou pegar água para você.
— Ema, nem todas têm o sangue frio necessário para exercer a função de dominar. Isso não é uma brincadeira. Você não pode fingir ser algo que não é. – discursou Angelina.
— Eu não estou fingindo ser nada. – respondi.
— Lina, a Ema não está se sentindo bem, então pare de dar lição de moral para ela. – defendeu-me Sarah.
— Meninas... – Mariana se aproximou, tocou o braço de Angelina e olhou para mim. — Tentem não usar as espadas, certo? Estamos entre amigas.
— Sem problemas, Mari. Só estou tentando evitar uma situação desconfortável. – disse Angelina.
— Lina, vai cuidar da sua vida. Eu lido com a minha namorada. Eu a conheço melhor do que você. – disse Sarah um tanto exaltada.
— Eu só estou tentando poupar a sua namorada. Ela está fingindo ser algo que ela não é para te agradar. – disse Angelina.
— Eu vou descer, podem continuar discutindo sobre mim, talvez cheguem a consenso. – falei antes de deixar o quarto. Sarah me seguiu pelo corredor.
— Ema... Ema, por favor. Eu peço desculpas. Eu não sabia que a Angelina estaria aqui.
— Ela está certa. – interrompi os passos e olhei para trás. — Acho que isso não é para mim, Sarah. – respirei fundo. — Lamento. – voltei a andar.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now