Capítulo CXXXIX

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Acordei em um galpão que parecia ser uma fábrica abandonada, encontrando-me suspensa pelas mãos por uma corrente grossa. Minha cabeça latejava de dor, e eu estava completamente perdida quanto à forma como havia acabado ali. Entretanto, não era difícil imaginar quem estava por trás do meu rapto.
— Ema! – ouvi meu nome e virei-me para trás. Nicolas estava suspenso a menos de dois metros de mim, seu rosto banhado pelo suor e suas roupas sujas.
— Nick. – chamei, observando-o atentamente. — Há quanto tempo você está aqui?
— Sei lá. Me atacaram no estacionamento da boate e me trouxeram até aqui. – explicou ele.
— Me perdoa, Nick. Isso é culpa minha. – respirei fundo, preocupada. — Alguém veio falar com você?
— Um cara me deu água e comida. Ele não vai me matar, né? Se fosse fazer isso, por que me alimentaria? – perguntou ele, visivelmente tenso. — Estou me sentindo como um peru de Natal.
— Não sei, Nick. Sinceramente, não sei. – olhei ao redor, buscando uma saída.
— Eu disse para você não mexer com o Tony, não disse? Mas você tinha que insistir nisso. E agora, Ema? Vão nos matar e enterrar no meio do nada. Espero que esteja satisfeita com isso. – Nicolas disse, sacudindo as correntes que prendiam seus pulsos.
— Eu havia desistido, Nick. Eu juro. Mas pelo visto foi tarde demais.
— Eu vou acabar como o Alfredo. – Nicolas respirou fundo.
— Não, não se depender de mim. – retruquei, determinada.

***

Não sei se adormeci ou perdi a consciência novamente, mas despertei ao sentir uma mão em meu cabelo. Diante de mim estava Júlio Vélaz, com um sorriso discreto nos lábios.
— Queria me ver? – perguntou ele.
— Seu cretino! – agarrei os elos da corrente e me balancei para trás, fazendo Júlio soltar meu cabelo. — Como pode ser tão mal-caráter?
— Eu sou mal-caráter? – Júlio cruzou os braços, seu terno azul era ajustado ao corpo. Estava sem gravata, com uma camisa branca, seus sapatos tilintando ao meu redor. Tentei manter meus olhos fixos nele.
— O que pretende fazer comigo? – perguntei.
— Nada. – ele parou na minha frente e se aproximou um pouco mais. — Eu prometi para Sarah que não tocaria em você, mas... – ele olhou sobre meu ombro. — Eu não prometi não tocar no seu amigo.
— Não toca nele! – dei uma cabeçada em Júlio, e após o impacto, ele recuou, levando a mão à testa.
— Você tem um gênio bem ruim, Ema. Assim não consigo gostar de você.
— Não se atreva a machucar o Nick! O seu problema é comigo, seu corrupto desgraçado.
— Acha normal tratar o seu sogro com tanta hostilidade? – ele indagou com um tom irônico.
— Eu havia prometido para a Sarah que não me meteria em problemas. Eu tinha desistido de investigar você, seu babaca. – cuspi as palavras.
— Tarde demais, Ema. Você não soube aproveitar a oportunidade que te dei, e agora vai pagar caro por isso. – disse ele. — Este lugar é significativo para mim. Foi aqui que seu parceiro implorou pela vida. Mas como eu poderia atender à súplica dele, quando ele espancou meu sobrinho? Ele não teve piedade, o Alex era apenas um garoto. E você, tão covarde, apenas observou. – ele segurou meu queixo. — Já que gosta tanto de observar, vai gostar de ver seu amigo ser morto diante de seus olhos.
— O quê?! – exclamou Nicolas. — Eu nem conheci esse tal de Alex, cara.
— Não se atreva a tocar no Nicolas, seu cretino! – esbravejei, furiosa.
— Não sei se percebeu, mas não está em posição de exigir nada. – disse Júlio, assobiando logo em seguida, fazendo três brutamontes surgirem por entre as máquinas.
— Ok... Que tipo de acordo você quer? – indaguei, nervosa, temendo pela vida de Nicolas.
— Um acordo? Por que eu faria um acordo com você? – Júlio estreitou os olhos.
— Você teve a oportunidade de me matar, mas não o fez. Você não me quer morta, você me quer viva e pagando pelos meus erros. Eu posso assumir a culpa pelo assassinato do Alex. Eu vou ser presa, isso não basta para você?
— Não, seria muito pouco, Ema. Você merece sofrer até o último dia da sua vida. E vou garantir que isso aconteça. – ele olhou para trás e, com um gesto, chamou os capangas.
— NÃO! – berrei. — O Nick não pode pagar pelos meus erros! Isso é injusto, Júlio. Por favor, não o penalize por minha causa. – implorei.
— O que faria para proteger o seu estimado amigo? – Júlio me encarou.
— Qualquer coisa.
— Hm. – Júlio se aproximou novamente de mim. — Eu soube que a Sarah deseja casar com você, mas lamento te informar que isso não vai acontecer. — ele sorriu. — Seu amigo vai ficar bem, mas você vai ficar bem mal. – ele se afastou de mim. — Podem dar uma lição nessa vagabunda, mas tentem não matá-la, minha filha tem certo apreço por ela.

CONTINUA...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now