Capítulo XXXV

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Sarah ficou sob os cuidados de Daniele, enquanto eu me uni a Mariana, que observava o céu afastada das barracas. Ao me aproximar, perguntei:
— Podemos conversar, ou ainda deseja me exterminar?
Mariana, em silêncio, fixou seu olhar na mesma direção.
— Mari, sei que pensa que não sou adequada para a Sarah, mas isso não é verdade. Você já esteve na minha posição, deveria compreender.
— Qual será o próximo acidente? Vai cortar? Queimar? Me diga, Ema. Como pode ser boa para a Sarah, se quase quebrou o nariz dela?
— Em vez de me criticar, por que não me ajuda? Me treine. – sugeri.
— Você não vai conseguir fazer o que precisa ser feito. Melhor aceitar isso antes de machucar a Sarah. – afirmou Mariana.
— Me treine. – posicionei-me à frente dela. — Eu vou aprender de um jeito ou de outro. Facilite as coisas, Mari. Ajude-me a ser uma boa dominatrix.
— Ok. – Mariana tocou meus ombros. — Onde está seu kit de primeiros-socorros?
— Na minha casa. – respondi.
— Se Sarah precisar de cuidados, como fará isso? Vai terceirizar? Nem sempre estarei por perto.
— Sarah sugeriu algo quando estávamos sozinhas, eu topei e deu tudo errado. – esclareci.
— Pare de agir como uma submissa. Pegue as rédeas da relação com Sarah. Quer ser a senhora dela ou não? É ela quem deve te obedecer, entendeu? – Mariana apertou meus ombros.
— Eu sei disso.
— Ótimo, agora cuide dela. Amanhã começa seu treinamento. – Mariana saiu andando.
— Ela tem prática em dar ordens. – murmurei.

***

Adentrei a barraca onde Sarah estava, vendo-a sentada em um colchonete com um pote de Yakisoba. Daniele estava ao lado, desfrutando de outro pote.
— Tudo bem aqui? – perguntei.
— Sim. – Sarah sorriu, suas narinas estavam desobstruídas do algodão.
— Parou de sangrar? – sentei-me ao lado dela.
— Sim, minha dermatologista preferida fez o curso de primeiros-socorros. Além de linda, é muito habilidosa.
— Obrigada, Daniele. E desculpe pela discussão com a Mari. – me desculpei.
— Tudo bem. Mari é controladora às vezes, mas sempre bem-intencionada. – defendeu Daniele.
— Prove isso, amor. – Sarah ofereceu um pouco de macarrão com vegetais.
— Pedi para a Mariana me treinar. Quero ser boa para você, Sarah. – falei, olhando para ela.
— Você já é boa para mim, bobinha. – Sarah me deu um selinho. — Agora prove. – ela levou o garfo de plástico à minha boca.
— Eu já vou. Se precisarem das minhas outras habilidades, estou à disposição. – Sarah saiu da barraca.
Mastiguei antes de falar.
— Quais são as outras habilidades dela?
— Consegue prender a respiração por mais de 5 minutos e faz contorcionismo.
— Nossa... – abri mais olhos e a boca. Sarah riu.
— Eu sei o que você pensou.
— Tem alguma habilidade que queira compartilhar comigo? – indaguei a Sarah.
— Hmmm... Beber uma garrafa de vinho inteira e ainda saber o próprio nome se enquadra como habilidade? – disse ela, me fazendo sorrir.
— Sarah, eu aceito. – toquei o rosto dela, fazendo uma leve carícia na bochecha. — Quando posso me mudar?
— Eu nem precisei apelar? – Sarah brincou.
— Algo me diz que você é diferente das outras mulheres.
— Você também, Ema.

***

O acampamento não transcorreu conforme o planejado, pelo menos para alguns de nós. Os gemidos provenientes da barraca de Mariana e Daniele indicavam que, pelo menos para elas, a noite estava seguindo conforme o esperado. Enquanto isso, Sarah adormeceu com a cabeça apoiada no meu ombro e os pés resguardados por meias brancas sobre os meus. Fechei os olhos, aguardando o sono se fazer presente.
Com a chegada da madrugada, saí silenciosamente do colchonete, tentando não despertar Sarah, que ainda repousava ao meu lado. A urgência de esvaziar a bexiga me conduz para fora da barraca, guiado pela luz de uma lanterna que desafia a escuridão e o frio noturno. Para minha surpresa, encontro Nicolas sentado em uma cadeira próxima à extinta fogueira. A luz do luar pinta o chão, criando uma atmosfera digna de filmes de suspense. Fecho a barraca e me aproximo de Nicolas.
— Não conseguiu dormir?
— Um pouco, mas estou de vigília agora.
— Por quê?
— Ouvi sons estranhos. – revelou Nicolas.
— Provavelmente, ouviu Mariana e Daniele transando.
— Talvez.
— Vou ao banheiro, depois me uno a você por um tempo. – comunico, afastando-me na escuridão.
A experiência de urinar atrás de um arbusto não foi nada agradável. Os insetos eram implacáveis, e tudo o que eu queria era um banho reconfortante e lençóis macios. Ao retornar para perto de Nicolas, me sentei na cadeira ao lado da dele.
— Encontrou um banheiro? – ele perguntou.
— Prefiro não falar sobre isso. – respondi, lembrando-me do contratempo.
— Raspei as bolas à toa. – disse Nicolas, e eu tentei conter o riso, mas a noite tinha sido tão peculiar que não resisti.
— Eu dei um soco na Sarah. Sem dúvida, não vou ganhar o troféu de melhor namorada do ano.
— Eu convidei uma lésbica para sair comigo. – disse Nicolas.
— Parece que nenhum de nós vai transar hoje. – ri novamente.
— O nariz da Sarah parou de sangrar?
— Sim, mas de qualquer forma, vou levá-la ao médico antes de deixar a cidade. – comentei.
— Pronta para pedir demissão e mandar o Pedroso ir se danar?
— Estou. – respondi.
— Tivemos bons momentos nessa cidade, né?
— Sim. – concordei.
— Espero encontrar um lugar onde as mulheres apreciem minha masculinidade peculiar.
— Você é um sujeito decente, Nick. Alguém terá a sorte de namorar você.
— Uau. – Nicolas me olhou surpreso. — O ar puro está te deixando sentimental.
— Eu vou dar outro socar, e dessa vez será por vontade própria. – ameacei.
— Ema.
— Hm. – olhei para cima, observando as estrelas.
— Acha que se eu não conseguir um novo emprego na polícia, consigo um emprego como gogo boy?
Olhei para Nicolas, semicerrando os olhos.
— Quem pagaria para te ver de cueca?
— Espero que muitas mulheres carentes. Eu preciso unir o útil ao agradável. Ganho dinheiro e dou uns amassos.
— Você precisa dormir, está começando a delirar. – murmurei.

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora