Capítulo LXXXV

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5 anos antes...

Me aproximei da viatura, ansiosa para conhecer meu novo parceiro. Ao entrar no carro, dei de cara com um homem sisudo, que não parecia satisfeito com a minha companhia.
— Oi, eu sou a policial Ema Campos. – ofereci a mão.
— E daí? – ele pegou um saco de papel sobre o painel do carro e retirou um sanduíche. Mordeu-o, olhando pela janela.
— Senhor...
— Senhor? Sou seu pai? Ou seu superior? Me chame de Alfredo. – ele disse de boca cheia.
— Ok... – me ajeitei no banco. — Olha, você tem problemas com mulheres? Ou odeia todo mundo igualmente?
— Não gosto de novatos. – ele voltou a morder o sanduíche.
— Você já foi novato. Todos começam de algum ponto. Eu treinei, me preparei para estar aqui. E não vou permitir que você me trate mal. – retruquei. Ele me olhou por um breve momento e esboçou um sorriso.
— Você é durona, novata?
— O que isso significa? Quer saber se vou te apoiar? Sim, eu vou. E espero o mesmo de você.
O rádio da viatura começa a chiar, sinalizando uma transmissão.
“Viatura 214, aqui é a central. Temos relatos de um assalto em andamento na lanchonete RapidLanche na Rua das Flores. Precisamos que vocês respondam imediatamente.”
Alfredo imediatamente pegou o rádio e respondeu:
— Recebido, central. Estamos a caminho da lanchonete RapidLanche. Qual é a situação?
“Dois assaltantes armados entraram na lanchonete e estão exigindo dinheiro do caixa. Eles ameaçaram clientes e funcionários. Precisamos que vocês ajam com rapidez.”
— Entendido, central. Estamos indo para lá agora mesmo. – Alfredo colocou a viatura em movimento. — Novata, olha o GPS. Encontra a rota mais rápida até a lanchonete.
— Claro. – digitei o endereço e verifiquei o trajeto, repetindo em minha mente: “Rua das Flores”. – Apontei para fora do carro. — Vira à direita. Pega a Avenida Pires. Vai.
— Mantenha os olhos abertos e esteja pronto para agir assim que chegarmos. Se eu levar um tiro, reza pra eu morrer, senão mato você. – disse Alfredo, me pressionando.
A viatura seguiu em alta velocidade pelas ruas da cidade, a sirene piscando anunciando a urgência. Eu mantive os olhos atentos, pronta para agir ao lado do meu novo parceiro.
Paramos bruscamente em frente à lanchonete. As luzes intermitentes da sirene piscavam freneticamente, iluminando a fachada do estabelecimento com flashes vermelhos e azuis. Saltamos da viatura, prontos para agir. Trocamos um olhar rápido e determinado antes de nos prepararmos para entrar.
As janelas da lanchonete estavam embaçadas, dificultando a visibilidade do que estava acontecendo dentro. As sombras dos assaltantes podiam ser vistas se movendo de um lado para o outro, enquanto mantinham o atendente e dois clientes como reféns.
Alfredo colocou a mão na arma, preparado para atirar se necessário, enquanto eu verificava a área ao redor em busca de possíveis rotas de fuga dos assaltantes. Nossos rostos estavam sérios e concentrados, prontos para enfrentar qualquer situação que se apresentasse.
Entramos pela porta da lanchonete com determinação, nossas armas estavam empunhadas e nossos olhos fixos nos assaltantes que mantinham os reféns sob ameaça. Alfredo liderava a investida, enquanto eu seguia logo atrás, pronta para dar cobertura a ele.
O interior da lanchonete estava impregnado de tensão, com os clientes e o atendente encurralados. Os assaltantes expressavam um misto de surpresa e desespero. Um deles segurava uma arma apontada para Alfredo, enquanto o outro mantinha um dos reféns sob sua mira.
— Abaixa a arma. – Alfredo ordenou. No entanto, nenhum dos assaltantes atendeu. — Acham que estou de brincadeira? Eu vou enfiar uma bala na cabeça de cada um, se não largarem as malditas armas.
— Não, você vai atirar na gente assim que abaixarmos as armas. – disse o assaltante que apontava o revólver para o atendente.
— Ei, cara, quantos anos você tem? Vinte e poucos? Por que acabar com sua vida indo para a cadeia por atentar contra a vida de alguém? – indaguei. — Eu garanto que se vocês abaixarem as armas, serão conduzidos até a delegacia, vão chamar um advogado e resolverão isso com a justiça. Estamos aqui para proteger as vítimas, não para matar ninguém. – argumentei.
Os dois assaltantes se entreolharam, suas expressões revelavam desconfiança. Antes que eu pudesse impedir, um estampido ecoou pela lanchonete, cortando o ar tenso. Alfredo agiu com determinação, disparando contra a cabeça do assaltante que mantinha o refém na mira.
O outro assaltante, ao ver seu cúmplice cair, tentou desesperadamente escapar da lanchonete. No entanto, mal teve tempo de correr, pois um tiro certeiro atingiu seu tórax, derrubando-o no chão em agonia.
— Eu disse pra abaixar a arma, cretino. – Alfredo se aproximou do assaltante atingido no tórax e apontou a arma para o rosto dele. — Vai encontrar o seu amigo.
Abaixei minha arma, atordoada e incrédula com o desfecho violento da situação. A gritaria dentro da lanchonete tornou-se ensurdecedora, misturando-se ao som das sirenes das viaturas que se aproximavam.
— Meu Deus... – respirei fundo, guardando minha arma e avançando em direção ao assaltante caído. Recolhi sua arma e a prendi em meu cinto. Ajoelhei-me ao lado dele e tentei estancar o sangramento, mas o sangue continuava jorrando. O rapaz balbuciava algo incompreensível, sua voz fraca e angustiada misturava-se ao caos ao nosso redor. — Chama uma ambulância, Alfredo. – pedi, mantendo as mãos sobre o ferimento do rapaz.
— Saiam daqui. Vamos. Andem logo. – Alfredo expulsou o atendente e os clientes da lanchonete, que atenderam a ordem, saindo do estabelecimento.
— Alfredo, chama uma ambulância, agora! – insisti, tentando me manter calma, mas o pânico tomava conta do meu interior. Eu sentia a vida daquele rapaz se esvaindo entre meus dedos.
Quando o caos finalmente passou, entrei na viatura e me sentei no banco do motorista. Apesar de ter limpado minhas mãos, ainda havia vestígios de sangue nos cantos das unhas, uma lembrança sombria do que acabara de acontecer. Meu coração batia acelerado, reverberando a tensão que ainda pairava no ar.
Voltei à realidade apenas ao ouvir a porta do carro bater. Alfredo sentou-se ao meu lado, com um sorriso estampado em seu rosto.
— O cretino morreu na ambulância. – ele retomou o lanche, mordendo o sanduíche com prazer. Apoiei minhas mãos sobre as pernas, sentindo-me fraca.
— Por que atirou? – perguntei baixo, com a voz carregada de dúvida.
— Era necessário. E obrigado por distrair eles bancando a psicóloga. – disse Alfredo, com franqueza. — Você porta uma arma, caramba. Use ela, em vez de ficar falando sem parar.
— Você...
— O que, Ema? Eles iam matar todo mundo. E talvez sobrasse até para você. Todos os reféns estão bem. E eu garanti que você saísse sã e salva dessa ocorrência. Se não está disposta a sujar as mãos de sangue, tira a farda. Vai pintar, ou sei lá o quê. Esteja pronta para atirar na próxima vez que tiver um verme na mira, entendeu?
— Eu entendi, Alfredo. – respondi, resignada diante de sua firmeza.
— Garota, eu até gosto de você. Pode ser uma boa policial, mas tem o coração muito mole. Vai chorar por que dois vermes morreram? Melhor eles do que nós.
— Eu já entendi, ok? Pare com esse sermão. – respondi, irritada com sua postura implacável. — Podemos voltar para a delegacia? Eu preciso me lavar.
— Sim, mas tarde vou te apresentar para meus colegas. Sempre vamos a um bar. Você vai gostar, vai conhecer os policiais de verdade. – ele tocou meu ombro com um misto de camaradagem e determinação. — Vou fazer você se tornar uma policial temida.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now