Capítulo CXXII

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Durante o horário do almoço, despedi-me de Marcus e Mariana no elevador e, em seguida, dirigi-me até meu carro. Enquanto seguia o trajeto, aproveitei para enviar uma mensagem rápida para Ema:

"Amor, me desculpe, irei me atrasar”.

Após guardar o celular no bolso do blazer, entrei no carro e, no momento em que ligava o motor, percebi o celular vibrar. Pressupondo que fosse Ema, atendi imediatamente, sem verificar o visor. Contudo, do outro lado da linha, quem estava falando era Vanessa, a corretora de imóveis. Após saudá-la, ela compartilhou a boa notícia de que havia um possível comprador interessado em adquirir minha propriedade. Confirmado meu interesse na venda, questionei sobre a situação da casa de Ema, mas Vanessa informou que até o momento não havia surgido nenhuma proposta interessante. Aceitando receber mais detalhes por e-mail, encerramos a ligação desejando uma boa tarde. Guardei o celular no bolso do blazer antes de seguir em direção à casa dos meus pais.
Ao chegar à propriedade dos meus pais e estacionar, encontrei o jardineiro cuidando do jardim.
— Boa tarde, Sarah. – disse ele, sorrindo. Era um senhor humilde, de cabelos grisalhos e barba por fazer. Vestia um macacão azul sobre uma camisa quadriculada. Suas mãos estavam protegidas por luvas grossas.
— Como vai, seu Manoel? O jardim está ficando cada vez mais bonito. – Cumprimentei-o, apreciando o seu trabalho enquanto observava as flores coloridas que ele estava cuidando com tanto esmero.
— Faz tempo que não te vejo por aqui.
— Entendo, trabalho demais, assim como o senhor. Deixe essa tesoura de lado e vá almoçar. Já passou do meio-dia.
— Só estou terminando o serviço, ainda não estou com fome. – respondeu ele.
— Como preferir, mas me avise se o Sr. Vélaz estiver exigindo demais de você.
— O Sr. Júlio é um anjo. Ele me trata como se eu fosse da família. Não posso reclamar nem dele, nem da sua mãe, senhorita.
— Um anjo? Pelo menos ele tem sido generoso com você. – comentei enquanto travava as portas do meu carro. — Até mais, seu Manoel. Estou com o tempo contado. Foi um prazer revê-lo.
— Tenha um bom resto de dia, Srta. Sarah. Fico feliz em ver você novamente. – disse Manoel com um aceno amigável antes de voltar ao seu trabalho no jardim. Com um sorriso, acenei de volta e segui meu caminho.
Entrei na imensa casa e segui para a sala de jantar, onde certamente estavam meus pais. O aroma tentador da comida  flutuava pelo ar, indicando que o almoço havia sido servido. O ambiente era aconchegante, com móveis elegantes e uma grande mesa de jantar no centro, onde meus pais costumavam se reunir para as refeições.
— Sarah, que surpresa boa. – minha mãe exibiu um sorriso acolhedor ao me ver.
— Olá. – me aproximei da mesa, olhando meu pai de frente. Ele ocupava uma das pontas, e me olhava com desconfiança.
— Sente-se conosco, filha. – minha mãe convidou. — Há tanto tempo você não come com sua família.
— Outro dia, mãe. Hoje vim falar com aquele senhor. – permaneci olhando para meu pai.
— Sarah, você veio insistir naquele assunto? Por favor, filha, não aborreça seu pai.
— Aborrecer Júlio Vélaz? Não, eu vim propor uma trégua. – falei com um tom sarcástico. — Estou erguendo a bandeira branca... Papai. – falei pausadamente.
— Acabou seu casinho com aquela delinquente? – meu pai indagou. Engoli seco, eu precisava retrucar, mas estava ali para tentar um acordo, mesmo que fosse difícil lidar com as alfinetadas do meu pai.
— Não, talvez não tenha entendido, mas Ema não é um casinho. Ela é minha namorada, e só deixará essa posição para se tornar minha esposa.
— É dessa maneira que quer fazer as pazes comigo?
— Eu tenho uma proposta, pai. Você deixa a Ema em paz. E eu estarei ao seu lado, irei te apoiar incondicionalmente. Me veja como uma integrante do seu comitê. Logo você deixará de ser secretário de segurança, e vai buscar outros voos, não é? Qual o próximo passo? Senador? Governador?
— Ministro. – disse ele.
— Ministro? Ótimo, pai. Você é competente. E realmente desejo que alcance seu objetivo. Só sugiro que use seu cargo para ajudar as pessoas, e não para atormentar a vida da Ema. Por que um homem na sua posição deveria ter outras preocupações.
— Seu apoio incondicional?
— Sim, retiro a minha ameaça. Não irei contar para ninguém o que fez com o colega de trabalho de Ema, mas peço que devolva a vida da Ema. Abra as portas que fechou para ela. Deixe-a voltar a exercer a profissão aqui. Ela não é um risco para você. Me deixe viver em paz com a Ema, e eu voltarei a frequentar essa casa. – argumentei.
— É um custo alto. Deseja que aquela mulher frequente essa casa?
— É um custo equitativo, querido pai. Irei fingir que você não é um sujeito capaz de mandar matar alguém. Nem sei quantas atrocidades já fez em sua vida. Minha proposta não vai durar para sempre, é melhor que aceite logo. Será bom para ambas as partes. – retruquei. Meu pai bufou, antes de me responder.
— Certo, Sarah. Cumprirei minha parte, e você cumprirá a sua. Sem ameaças. Você vai me acompanhar nos eventos importantes, assim como sua mãe. 
— Eu farei o que precisar. Só quero que deixe a Ema em paz. Eu juro que arruíno a sua vida se você tocar em um fio de cabelo dela.
— Sem ameaças, Sarah. – disse meu pai, com um sorriso pretensioso. — Eu vou cumprir a minha parte do acordo. Amanhã mesmo sua namoradinha vai receber uma ligação do comando da polícia.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora