Capítulo XXXIX

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Guiei Sarah de volta até a barraca e entrei primeiro. Removi minha blusa, deixando-a de lado, e me acomodei no colchonete. Sarah se sentou em minhas coxas, envolvendo meu pescoço com os braços.
— Não quero que se envolva com outras pessoas. – disse Sarah, aproximando os lábios. Afastei-me para evitar o contato.
— Não faça isso... Pode machucar seu nariz. – expliquei. Sarah assentiu.
— Vou te obedecer. – Sarah subiu as mãos pela minha nuca, entrelaçando os dedos em meu cabelo. — Permiti que tocasse a Daniele, mas foi uma exceção. Não quero suas mãos em mais ninguém. – ela deslizou uma mão pelo meu ombro. — Não suportaria te ver com outra pessoa.
— Não quero outra pessoa. — me aproximei do queixo de Sarah e o mordisquei.
— Eu vou trucidar vocês! – ouvi ao longe.
— Escutou isso? – perguntei a Sarah.
— Sim, parece a Mari.
— Vou dar uma olhada. – avisei.
— Tá, não demora. – Sarah sentou no colchonete. Peguei minha blusa, vesti ela e saí da barraca. Logo, avistei Mariana do lado de fora de sua barraca, vestindo apenas um conjunto de lingerie preta, enquanto discutia com dois adolescentes. Um deles apontava a câmera do celular para ela.
— Sorri, vadia. – ele ria, filmando Mariana.
— Eeeei! – exclamei alto. — O que pensam que estão fazendo? Eu conheço os pais de vocês.
— Corre, cara! – o rapaz com o celular o escondeu debaixo do casaco e saiu correndo. O segundo o seguiu.
— Merda. – bufei antes de sair correndo atrás deles.
— Traga eles para mim. Eu vou acabar com esses pirralhos pervertidos. – Mariana disse.
— Parem! – ordenei, avançando em direção à trilha. Os garotos estavam mais à frente tentando alcançar duas bicicletas largadas no chão. Acelerei o passo, alcançando um dos garotos. Agarrei-o pelo casaco, puxando-o para trás e derrubando-o no chão.
— Para! Você não pode me machucar! E-eu sou menor de idade. – ele disse caído.
— Eu te coloco na droga de um centro para menores se tentar fugir. – avisei, apoiando meu pé sobre seu abdômen.
— Tá bom, eu fico quieto. – disse o garoto com medo.
Voltei minha atenção para o segundo garoto, que havia alcançado uma das bicicletas e pedalava pela trilha em direção à estrada.
— Garotos idiotas. – resmunguei antes de retomar a corrida. Peguei a bicicleta abandonada, sentei-me nela e pedalei para alcançar o fugitivo. Olhei para trás. O garoto apreendido ainda estava no chão. Avancei cerca de 200 metros, ultrapassei o fujão e o encurralei, provocando sua queda da bicicleta.
— SOCORRO! – gritou ele ao me ver se aproximando.
— O que estavam fazendo aqui? – agarrei-o pela gola do casaco, erguendo-o.
— Eu não sabia que tinha gente acampando aqui. – ele respondeu amedrontado. — Só vim tomar banho no lago.
— Tão cedo? Não, você veio nos espiar. Quem te disse que estávamos aqui? – desci a mão para o ombro dele e apertei.
— Aaaai... Foi uma amiga da minha mãe!
— Qual o nome? Hm?! – aumentei a pressão no ombro dele.
— Para, por favor! Eu falo! – ele quase choramingou.
— Diga. – soltei o ombro dele.
— Dona Mariza.
— Mariza?! – indaguei, confusa. — A esposa do guarda florestal?
— Sim.
— Que linguaruda. – bufei.
— Me deixa ir embora.
— Me dê o celular. – ordenei.
— Eu não gravei nada. Juro.
— Me dê o celular, agora. – repeti.
— Você é da polícia, não é? Não pode me machucar. – o garoto me olhava. — Tem que me deixar ir ou...
— Ou o quê? Diga. – estreitei meus olhos. — Me dê o celular, ou vou arrebentar você.
— Eu tenho direito a um advogado.
— Advogado? Está assistindo muita série, garoto. Você não está sendo preso. Eu nem ao menos vou te levar até a delegacia, mas isso não significa que não vou te fazer aprender uma lição. – ameacei.
— Eu não ia colocar o vídeo na internet. Eu só queria...
— Já ouvi o bastante. – levantei o casaco dele e confisquei o celular. — Qual a senha? – perguntei.
— Você não pode fazer isso.
— Eu não posso vasculhar o seu celular, mas você pode filmar alguém sem o consentimento? – questionei.
— Desenha um “Z”.
— Obrigada pela colaboração. – ironizei, desbloqueando o celular. Abri a pasta de fotos e estalei a língua, fazendo um gesto negativo com a cabeça. Havia algumas fotos comprometedoras de Mariana e Sarah, tiradas de uma pequena abertura na barraca. — Você deveria se envergonhar dessa atitude, garoto.
— E-eu... – gaguejou. — Só estava tentando ajudar a outra moça. Ela estava apanhando.
— Ô céus. – engoli seco, recordando da ameaça de Mariana.
— Você precisa prender a maluca que bateu nela. É sua função, não é? Prenda ela. E me deixe ir embora.
— Fique quieto. – apaguei os arquivos e esvaziei a lixeira do celular. — Dê o fora daqui. E não fale sobre o que viu com ninguém. Eu vou atrás de você se souber que comentou algo com alguém. Entendeu?
— Você não vai prender a agressora?
— Eu vou tomar providências, agora suba na bicicleta e vá para sua casa. – ofereci o celular.
— O que vai fazer com o meu amigo?
— Nada. – respondi. — E pare de espiar as pessoas, senão, vai acabar preso. E posso te garantir que a prisão não é um lugar agradável.
O garoto recebeu o celular e se afastou de mim com desconfiança, pegou a bicicleta, montou nela e pedalou rumo à estrada.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora