Capítulo XX

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Meu dia iniciou-se cedo, apesar da noite mal dormida. Um sentimento de revolta se instaurava em meu interior. Norman não tinha o direito de vir até minha casa e vandalizá-la. Qual seria o próximo passo? Me confrontar em público?
Sentei à mesa e tomei café em silêncio. Tentei acalmar meus ânimos, mas desejava punir aquela riquinha mimada. Ela não podia se sentir acima das leis.
Meu celular tocou; conferi o visor, retirando o aparelho do bolso da minha calça jeans. Era Sarah. Respirei fundo, tentando dissipar a tensão. Não queria começar o dia falando sobre Norman. Atendi a ligação, disfarçando minha chateação matinal.
— Alô.
— Bom dia, Ema! Que tal abrir a porta para mim?
— Você está aqui? – indaguei com surpresa.
— Veja por si mesma. – Sarah encerrou a ligação. Levantei-me da cadeira, deixando o celular sobre a mesa. Fui para a sala, caminhei até a porta, abri-a e encontrei Sarah usando um de seus conjuntos sociais.
— Oi, o que faz aqui? – perguntei segurando a porta.
— Não está contente em me ver? – Sarah parecia confusa.
— Sim, mas não vai entrar no trabalho daqui a pouco?
— Vou, mas precisava te ver. Você não respondeu às minhas mensagens ontem. O que houve?
— Dormi cedo. – menti.
— Hm. – Sarah me avaliava. — Suas olheiras dizem o contrário. Imaginei que o acordo de não mentir era recíproco, sabe? Eu não minto e você também não.
Respirei fundo.
— Entra. – dei passos na direção do sofá. Sarah me acompanhou ao fechar a porta.
— Estou começando a ficar preocupada. – ela comentou.
— Não é nada demais. – sentei no braço do sofá. — Ontem, alguém pinchou a fachada da minha casa.
— Imagina quem fez isso? – Sarah se pôs na minha frente.
— Sim, a Norman. Ela não gostou de me encontrar na sua casa, acho que ela acredita que separei vocês.
— Como ela pôde ser tão infantil? – Sarah tocou meu ombro. — Você está bem?
— Estou.
— Lamento por isso, Ema. – Sarah se inclinou em minha direção, tocando os lábios em minha cabeça, um abraço se desenvolveu naturalmente. — Me desculpa por envolver você nisso? Ela não está com raiva de você, está com raiva de mim. E quer me punir através de você.
— Por que acha isso? – olhei para cima, buscando o rosto de Sarah.
— Bem... É cedo demais para dizer que eu gosto de você? – disse Sarah.
— Não. – esbocei um pequeno sorriso.
— Gosto de estar com você. Me sinto segura e respeitada. – completou Sarah. — Não quero perder isso, Ema, mas entenderei se não quiser prosseguir.
— Eu quero. – envolvi os braços na cintura de Sarah. — Estive pesquisando sobre o seu mundo. Eu gostaria de tentar, Sarah. Podemos modificar algumas coisas? Não vou me sentir à vontade fazendo algo que te cause dor.
Sarah sorriu e subiu as mãos para o meu rosto.
— Tem certeza?
— Sim.
— Encontraremos um meio termo, Ema. Não vou te obrigar a fazer nada que não queira. – Sarah fez carinho em minha bochecha.
— Hoje, volto ao trabalho.
— Não dormirá em casa?
— Não, vou estar na delegacia. – respondi.
— Norman recebeu o meu e-mail com a rescisão contratual. Está ciente do fim. E não há nada que ela possa fazer para mudar isso. Caso ela volte a te perturbar, irei mandar uns prints bem interessantes para ela. Ela saberá que posso arruinar a reputação dela se eu quiser.
Franzi a testa ao ouvi-la.
— Você disse que deveríamos esquecer esse assunto.
— Sim, mas, Norman ultrapassou todos os limites. Ela está deliberadamente provocando você, ciente de que isso poderia comprometer sua carreira na polícia.
— Está tudo bem. Eu não vou reagir. Eu não vou deixar uma fedelha me irritar. – respondi.
— Ema, você está em um patamar muito acima dela. – Sarah beijou minha testa. — Se não fosse pelo trabalho, eu tiraria suas roupas agora mesmo.
— Só depois de eu tirar as suas. – brinquei. Sarah riu.
— Eu permitiria. Estou ansiosa para descobrir o que aprendeu.
— Em breve saberá. – levantei-me. — Vou entrar no trabalho daqui a pouco. Promete cuidar de si? Tranque bem a porta ao voltar para casa e me ligue se ouvir qualquer barulho estranho.
— Minha segurança particular? – Sarah apoiou os braços sobre meus ombros.
— É minha obrigação proteger os cidadãos desta cidade. – sorri.
— Agradeço pela sua proteção, policial Ema. – Sarah virou-se de costas para mim e moveu o quadril contra meu corpo, roçando as nádegas na minha pélvis.
Fechei os olhos por um instante, permitindo que Sarah continuasse a se roçar em mim.
— É muito gentil da sua parte, Srta. Sarah. – falei baixo.
— Gosto de ser prestativa com as autoridades locais. – ela disse entre risos. Abri os olhos, vendo-a se virar de frente para mim.
— Ah, achei que tínhamos algo especial. – fingi estar ofendida.
— Temos. – Sarah piscou para mim. — Preciso ir, mas te ligo mais tarde, tá?
— Combinado. – concordei.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora