Capítulo XXXIII

753 68 15
                                    


A visita ao lago foi breve, caminhamos pela margem, contemplando a água cor de esmeralda. Ao retornarmos ao acampamento, uma barraca já estava montada, enquanto Nicolas tentava acender a fogueira.
— Já? Isso foi uma rapidinha. – brincou Mariana, montando a segunda barraca com a ajuda de Daniele e Gabriela.
— Não, só estávamos olhando o lago. – respondi.
— Que decepcionante. – comentou Mariana baixinho.
— Sarah, vou ajudar o Nick. Volto logo, tá? – beijei o rosto de Sarah antes de me afastar, ouvindo cochichos ao me ausentar.
Ao me aproximar de Nicolas, ele estava impaciente.
— Esses galhos malditos não pegam fogo! – bufou, chutando um deles.
— Estão verdes. – observei.
— Não sou especialista em acampamentos como suas novas amigas. – disse ele, emburrado.
— Está bravo comigo?– questionei.
— Não, mas estou me sentindo um grande idiota. – respondeu Nicolas. — Eu deveria ir para casa, me afundar no sofá com uma garrafa de cerveja e chorar. As mulheres são más, Ema. – desabafou ele.
— Não, Nick. – aproximei-me e estendi os braços. Ele cedeu ao abraço. — Vai ficar tudo bem. Ainda podemos nos divertir hoje. Vamos contar histórias em volta da fogueira, beber cerveja de má qualidade, comer comida enlatada e fazer xixi atrás de moitas. Vamos dormir em colchonetes desconfortáveis, passar frio e ser atacados por insetos. Isso não parece legal? – acariciei suas costas.
— Você vai embora sem mim, Ema? – ele deitou a cabeça no meu ombro como um garoto carente de atenção.
— Não vou te impedir de arruinar sua vida me seguindo. –  respondi.
— Sarah está zangada comigo? –Nicolas afastou o corpo para me olhar.
— Não, já contornei a situação. – respondi, esboçando um sorriso.
— Como eu poderia imaginar que a Gabriela queria você? –  comentou Nicolas.
— Está tudo bem, Nick. – olhei em direção a Sarah, que tentava ajudar Mariana e as outras a montar a barraca, mostrando sua falta de intimidade com a lona.
— Você vai dormir ao relento se depender da Sarah. – cutucou Nicolas.
— E sem fogueira se depender de você, não é? – olhei para ele. — Vamos pegar galhos secos. Venha. – dei passos em direção à mata.

***

Quando a noite caiu, a fogueira iluminou o acampamento. Nicolas e eu nos esforçamos para reunir galhos secos, e as três barracas estavam montadas a poucos metros do calor reconfortante das chamas.
Mariana estava sentada sobre uma toalha, segurava uma garrafa de água mineral enquanto contemplava o fogo. Enquanto isso, Sarah e Daniele trocavam histórias entusiasmadas sobre astrologia, deixando Gabriela aparentemente deslocada em uma cadeira dobrável perto da fogueira.
— Nicolas, é hora do show. – toquei suas costas. — Fale sobre a lenda do lenhador.
— Que lenhador? – Nicolas estreitou os olhos.
— Você é ótimo em inventar histórias. Use sua criatividade.
— Está dizendo que sou bom em mentir? – ele questionou enquanto eu me afastava.
— Meninas, querem ouvir sobre uma lenda local? – indaguei.
— Que lenda? – Gabriela questionou confusa. — Não conheço nenhuma.
— Ahhh... É sobre um lenhador que enlouqueceu por essas bandas. – respondi.
— Nunca ouvi ninguém falar disso. – comentou Gabriela.
— Ema, ela está certa, ninguém sabe sobre ele. É um assunto confidencial. – disse Nicolas se juntando a mim.
— Verdade, acha melhor não falarmos sobre ele? – olhei para Nicolas. Sarah e Daniele se aproximaram da fogueira.
— Que lenhador? Ele morreu aqui? – Sarah perguntou intrigada.
— É só uma lenda. – respondi.
— Meu tataravô morou aqui e me contou que certa vez um lenhador surtou e esquartejou toda a família numa noite de lua cheia. Quando a polícia tentou prendê-lo, ele se embrenhou na mata e desde então vaga pela floresta segurando um machado e faz picadinho de qualquer um que encontra pela frente. – contou Nicolas. Um silêncio dominou o acampamento nos segundos seguintes.
— Espera... Seu tataravô contou isso? Se esse tal lenhador existiu, já morreu. – disse Sarah.
— Tem razão, mas seu espírito ficou preso na floresta. – respondeu Nicolas. Mariana se levantou.
— Alguém quer beber? Melhor acabarmos com a bebida antes do lenhador vir nos matar. – disse, fazendo pouco caso do assunto.
— Ema, essa história tem alguma verdade? – Sarah andou em minha direção.
— É só uma lenda boba. – respondi.
— Quem sabe que estamos aqui? – Sarah indagou, me olhando.
— Eu só falei com o guarda florestal e a esposa dele. –  respondi.
— Olha só, gente, lua cheia. – Nicolas apontou para o céu.
— Ema, eu não quero morrer! – Sarah me agarrou. — Como vamos voltar para o carro? A trilha deve estar escura. Podemos ser atacadas e esquartejadas.
— Ei, está tudo bem. – aconcheguei Sarah em meus braços e cochichei em seu ouvido. — É uma história inventada.
Sarah afastou o corpo.
— Tem certeza?
— Sim. – assenti com a cabeça.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now