Capítulo XLI

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Bati na porta da sala de Pedroso e entrei, seguida por Nicolas. O delegado bufou ao nos ver.
— Estão atrasados. – disse ele.
— É uma boa definição para nossa situação. – aproximei-me da mesa de Pedroso. — Estamos ficando para trás nessa delegacia onde a lei não funciona. – sentei, cruzei as mãos e apoiei-as sobre a mesa. — Vai me transferir para Nova Aurora ou vai me demitir? O que prefere?
Pedroso cruzou os braços e sorriu com ar de deboche.
— Você se juntou a ela nisso, Franco? Eu espero esse tipo de idiotice da Campos, mas esperava que você fosse mais esperto.
— Senhor, eu quero a minha transferência também. – disse Nicolas, ficando em pé atrás da minha cadeira. — Eu e a Ema...
— Vistam seus uniformes e comecem o trabalho. Vão permanecer na equipe. O prefeito vai precisar de vocês hoje à noite. Ele fará um pronunciamento na praça a respeito da prisão da filha. Isso precisa ser feito para afastar qualquer rumor que possa prejudicar a reeleição dele.
— Não vou participar desse circo. – levantei-me. — Eu quero que o William se foda. Essa cidade merece um prefeito que se importe mais com a população e menos com as futilidades da filha.
— Ema, deixe seus problemas pessoais fora daqui. Você é membro desta delegacia, e precisa me obedecer. Então, ouça bem. Você vai fazer parte da equipe que vai cuidar da segurança do prefeito, goste ou não.
— Não. – saí andando em direção à porta.
— A advogada convenceu a filha do prefeito a não prestar queixa contra você, mas o William está fazendo pressão para que eu te expulse da polícia. Você está perseguindo a filha dele. E se continuar no caminho dele, vai terminar seus dias entregando panfletos no semáforo.
— Do que está falando? – parei antes de abrir a porta e olhei na direção do delegado. — Sarah se encontrou com Norman aqui?
— A advogada esteve aqui exigindo que você não fosse punida por prender a filha do prefeito. Eu disse que ela não deveria se meter nisso, mas ela insistiu no assunto. Eu liguei para casa do prefeito e falei com a Norman, quando ela soube que a advogada estava aqui, disse que retiraria as acusações contra você. Deveria tomar cuidado, Ema. Você está se metendo com alguém que usa de meios sujos para conseguir o que quer.
— Eu deveria permitir que Norman me desrespeite? Ela foi presa por me desacatar. Eu não estou a perseguindo, mas ela está me perseguindo. Se quer dar conselhos, aconselhe ela e o prefeito a me deixar em paz. – retruquei.
Nicolas apenas nos observava.
— Você vai se dar mal, Campos. O William não vai permitir que você atrapalhe a reeleição dele. – disse Pedroso.
— Diga para ele não guardar tantos segredos, assim, não terá que temer a verdade.
— Escute bem. – Pedroso se ergueu. — Você vai pedir desculpas publicamente para a Norman. Esse é o preço para continuar na polícia. Nenhuma Sarah, Maria ou sei lá, o nome das suas namoradas, nenhuma delas vai te livrar da fúria do William. Compreende?
— Compreendo. – acenei positivamente com a cabeça. — Estou fora. – saí da sala.
— Isso... Eu também. – Nicolas me seguiu. — Cerveja no Jones?
— Claro. – respondi a caminho da saída da delegacia.
Fomos até o bar, ocupamos duas banquetas perto do balcão e fomos servidos pelo dono do estabelecimento, um dos moradores mais antigo da cidade.
— Dia ruim? – ele perguntou, usando um colete vermelho sobre a camisa quadriculada e um boné preto sobre os cabelos grisalhos.
— Sim. – respondi.
— Essa é por conta da casa. – disse ele, apontando para as canecas com cerveja.
— Obrigada. – esbocei um pequeno sorriso antes de pegar a bebida. O dono do bar se afastou para atender outro cliente.
— Estamos em apuros, Ema. – Nicolas respirou fundo.
— Prefiro entregar panfletos, isso não fere minha dignidade. Subir em um palanque para mentir em prol do prefeito, fere. – bebi um longo gole da bebida.
— Sarah pode nos ajudar a conseguir novos empregos na polícia da capital, não pode?
— Pode, mas não sei se isso é o ideal, Nick. – pressionei os lábios olhando para o vazio.
— Você não gosta dela?
— Gosto, mas não sei quase nada sobre ela. E sinceramente, me assusta um pouco ela ter tanta influência. O que ela faz em troca disso? Será que os clientes dela são pessoas ruins? – questionei.
— Ema, ela é advogada. É claro que já defendeu bandidos e engravatados. – disse Nicolas.
— Eu compreendo a profissão dela, mas preciso conhecê-la melhor, entende? – comentei.
— Sim, você está certa, mas pensa bem, qual a melhor forma de conhecer alguém?
— Conversando?
— Namorando. A Layla era legal até vocês começarem a transar. Então, ela virou uma maluca que te enchia de cobranças. E vocês terminaram.
— Receber conselhos amorosos de alguém que não tem uma namorada desde o ensino médio é estranho. – tomei outro gole da bebida.
— Ema, o que estou dizendo é que você pode conhecer melhor a Sarah, agora que estão juntas. Acha que ela parece uma louca que te apunhalaria pelas costas? Ela está te defendendo, isso demonstra que ela se importa com você.
— É... Mas é estranho, Nick. Por que a Sarah e a Norman não tinham envolvimento amoroso? Elas tinham até um contrato. Isso parece algo bem racional, e a Sarah... Bem, você viu como ela ficou enciumada no acampamento? Ela parece o tipo de pessoa que age movida pela emoção. E não alguém que faz sexo sem envolvimento sentimental.
— Hm. – Nicolas ficou pensativo. — É uma questão relevante. Quem é a Sarah de verdade?
— Não sei, Nick. Eu realmente não sei, mas espero que ela realmente goste de mim. – respirei fundo.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora