Capítulo XLIII

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A noite estava agitada, já tínhamos atendido a quatro ocorrências. Sentia-me faminta, sem saber quando conseguiria fazer uma pausa. Alfredo conduzia pela rua central quando a voz no rádio quebrou o silêncio na viatura.
“Viatura 27. Temos uma chamada na Avenida Principal. Relato de um jovem que se recusa a sair do carro. Favor verificar a situação.”
— Recebido, Central. Estamos a caminho da Avenida Principal. Alguma informação adicional sobre o comportamento do jovem? – perguntei.
“Testemunhas mencionam comportamento agitado e recusa em cooperar com as autoridades. Prossigam com cautela.”
— Entendido, Central. Chegaremos ao local em breve. – respondi.
Chegamos ao local em apenas 11 minutos. Uma das vias estava bloqueada por policiais de outra delegacia, que esforçavam-se para manter os motoristas curiosos afastados do veículo suspeito.
—  Central, chegamos à Avenida Principal. Localizamos o veículo em questão. Vamos abordar o jovem. – avisei.
“Recebido, Viatura 27. Manteremos a linha aberta.”
Alfredo desembarcou da viatura resmungando.
— Qual é a complicação para retirar esse sujeito do carro?
— Alfredo. – saí da viatura. — Devemos usar o alto-falante? Há a possibilidade de o indivíduo estar armado.
— Se ele ousar sacar uma arma, estouro os miolos dele. – Alfredo avançava rapidamente em direção ao veículo suspeito. Segui-o, envontrando outros policiais pelo caminho.
Alfredo bateu na janela do carro e ordenou ao motorista suspeito:
— Desligue o veículo e saia com as mãos visíveis.
O rapaz ignorou o pedido, permanecendo ao volante.
— Garoto, podemos conversar sobre o que está acontecendo com você? – perguntei, ao me aproximar da janela.
— Não vou sair! Eles querem pegar! – o rapaz disse, parecendo paranoico.
— Ele está drogado. – Alfredo bufou. Outro policial se juntou a nós.
— Já tentamos fazê-lo sair, mas ele grita que está sendo perseguido.
— Garoto, qual é o seu nome? Eu sou a Ema. Eu quero te ajudar. Me diga quem está te perseguindo. – mantive-me perto da janela, levemente inclinada na direção do veículo.
— Você viu eles? – o garoto indagou, olhando-me com as pupilas dilatadas. Sua respiração estava ofegante.
— Não sei, me diga como eles são. – perguntei.
— Ema...
— Alfredo, não me atrapalhe. – pedi, percebendo a impaciência do meu parceiro.
— Verdes. Eles querem me rasgar com suas garras enormes. – disse o jovem.
— Hm. – olhei em volta, havia cerca de uma dúzia de policiais ao redor do carro.
— Ema, eu não vou ficar ouvindo baboseiras de um drogado. Vamos estourar o vidro e arrancar ele do carro à força. – disse Alfredo, sacando o revólver. Tomei a frente da janela.
— Perdeu o juízo? Quer abrir fogo aqui? Já imaginou se alguém filma? Você vai estar perdido.
— Merda. – Alfredo guardou o revólver. — Resolva isso, vou atualizar a central. – ele saiu andando.
— Seu parceiro é meio esquentadinho. – disse o outro policial.
— É. – voltei a atenção para o jovem dentro do carro. — Me diga, os tais caras verdes eram fortes?
— Sim, tinham 2 metros e antenas.
— Olha, pegamos eles. – blefei.
— Pegaram? Não, você está mentindo. – o rapaz agitava a cabeça freneticamente.
— É verdade. – menti. — Estão na delegacia, se vier comigo, te mostro eles.
O rapaz pensou por alguns instantes, depois abriu a porta do carro e saiu com as mãos erguidas.
— Verdade? – me olhou.
— Não, lamento. – respirei fundo, antes de virá-lo de costas para mim e algemá-lo.
— NAAAÃO! ELES VÃO ME PEGAR! – o garoto gritava.
— Prometo que vai ficar tudo bem. – conduzi-o em direção à minha viatura. Pus ele no banco de trás. E ocupei minha posição no banco da frente. — Vamos para a delegacia.
— Quer pegar um traficante?
— Claro, mas temos que deixar o garoto na delegacia. – respondi.
— Esse babaca vai dar o nome do traficante dele. – Alfredo deu ré e saiu dirigindo.
— Não, ele está drogado. Mal deve saber o próprio nome. – falei baixo.
— Vou te mostrar como policiais de verdade obtêm informações de pessoas como essa.
— Alfredo, por favor, vá para a delegacia. – pedi.
— Não. Você mesma disse que queria pegar os caras que vendem as drogas. Vou te mostrar que não precisa sentar atrás da mesa e usar um distintivo de esnobe para fazer isso. – disse Alfredo, agindo de maneira irredutível.
— Eu vou comunicar a central. – levei a mão ao rádio.
— Quer mesmo nos prejudicar?
— Alfredo, somos policiais, agimos dentro da lei. Neste momento, você está agindo com ressentimento. Eu quero pegar traficantes, mas não vou usar esse garoto para fazer isso. – respondi.
— Pare de ser medrosa, não vai muito longe agindo assim.
— Por favor, escolha a opção certa. – pedi.
— Você tem duas opções: me ajuda a tirar informações desse sujeito ou continua no carro como uma covarde. – Alfredo dirigia em alta velocidade.
— Ô meu Deus. – cobri meu rosto com as mãos, estava tomada pelo nervosismo.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now