Capítulo XCII

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Busquei a mordaça e, antes de usá-la em Sarah, assegurei-me de que ela pudesse se comunicar comigo de alguma forma.
— Como saberei se não estou ultrapassando seus limites? – perguntei.
— Não se preocupe, Ema. Se der uma olhada ao lado da armação da cama, verá um botão preto. Consigo alcançá-lo facilmente. Ele ativará um alarme difícil de ignorar.
Curiosa, agachei-me ao lado da cama e confirmei a presença do botão fixado em uma superfície retangular. Ao pressioná-lo, um som alto ecoou pelo quarto. Sarah estreitou os olhos, protegendo os ouvidos ao encolher a cabeça entre os ombros. Rapidamente, desliguei o alarme.
— Funciona – declarei.
— Sim, agora podemos continuar? – Sarah riu.
— Claro, você tem uma cinta extra? Ou apenas a que está lá fora? – perguntei.
Sarah pressionou os lábios, parecendo se culpar por algo.
— Desculpe, não deixei o local completamente pronto para uso. Achei que levaria mais tempo para você decidir usá-lo – explicou, olhando para mim.
— Não tem problema. Vou pegar a cinta... E um pouco de lubrificante. Acho que você está "presa" aqui, né? – brinquei, apontando para a algema que prendia o pulso direito de Sarah.
— Ah, claro! Amei como você amarrou aquele cretino do parque com os cadarços. Te dou nota 7 pela criatividade. Se tivesse me envolvido na brincadeira, com certeza seria um 10, mas perdeu alguns pontos por não ter feito aquilo comigo. – ela brincou, sorrindo.
Tentei conter meu rubor involuntário enquanto ria.
— Você precisa fazer algo errado.
— É? Tipo o quê? Roubar sua carteira?
— Ficará decepcionada se roubar minha carteira. – brinquei.
— Ema, seria muito estranho se eu te pedisse para me tratar como uma criminosa?
— Bem... – franzi a testa. — Posso te tratar com um pouco mais de truculência, mas deixo claro que não estarei fantasiando você dessa forma, não seria apropriado, entende?
— Sim. – Sarah concordou. — Eu preciso te contar algo, talvez você me ache louca. Eu nem deveria dizer isso agora, mas... – Sarah respirou fundo. — Eu gosto de praticar rape play.
— Sarah, você sabe que eu não faço ideia do que isso seja, não é? – permaneci ao lado da cama.
— Promete não me achar louca? – Sarah indagou, e pude perceber o receio em sua voz.
— Sim, prometo.
— É uma prática que simula sexo forçado, mas existem regras, Ema. Não é um estupro. É possível parar a qualquer momento. É seguro. Pode parecer loucura, mas há muitas práticas que parecem estranhas, mas fazem sentido para quem as pratica.
— Nossa... – sentei-me na cama, virando as costas para Sarah, curvando levemente o corpo para frente.
— Desculpa, Ema. Eu acabei com o clima, né?
— Não, mas aquele lance de limite também se aplica a mim, não é? – olhei para Sarah.
— Sim, amor.
— Eu não consigo, Sarah. Eu já precisei atender ocorrências reais. – respirei fundo. — Não consigo... Lamento. Não nesse momento, entendo que uma coisa não tenha nada a ver com a outra, mas sou inexperiente. Vou me sentir uma abusadora, não vou conseguir lidar com isso agora.
— Ema, eu só fui sincera com você, tá? Não vou te pedir para fazer isso comigo. Eu pratiquei com alguém que tinha experiência. Sabia os meus limites, assim como eu sabia os dela. – Sarah explicou.
— Angelina?
— Sim, foi com a Lina.
— Sarah, me diga, por que você e a Angelina não namoraram? Parecem ter muitas afinidades.
— Tem explicação para o amor? Eu não conseguia nutrir sentimentos pela Lina. Com ela era apenas sexo. Ela é uma cirurgiã foda? Sim. É Bonita? Sim. Sabe harmonizar vinho? Dar presentes caros? Bem, entendeu, né? Ela é o sonho de muitas submissas. Mas, Ema, você é o meu sonho.
— Eu me contento com bebida barata, sou mediana em quase tudo que faço e não me considero uma boa policial. – comentei, refletindo sobre minha própria autopercepção. — Realmente, sou diferente da Angelina.
— Você é única. Me solte. Eu quero te abraçar. – disse Sarah, com ternura em sua voz.
— Não. – me ergui e coloquei a mordaça na boca de Sarah, garantindo que ela não me interrompesse. — A velha Ema iria para o bar com o Nick, tomaria vodca, chegaria em casa sem ao menos saber como, dormiria no sofá. Acordaria desnorteada, tomaria um banho frio e um comprimido para dor de cabeça com chá enquanto assistia a algum programa da TV aberta. A velha Ema faria isso, a Ema que aceitava carregar fardos. Mas não voltarei a ser aquela pessoa. Eu vou extravasar, Sarah. E farei isso da maneira que te agrada. — observei os olhos de Sarah se dilatarem enquanto me ouvia. Prendi seus tornozelos, um de cada lado, mantendo-a deitada de bruços. E então saí do quarto secreto.
Dirigi-me ao meu armário no closet, buscando uma mudança de visual que refletisse minha decisão de deixar para trás velhos hábitos e abraçar uma nova abordagem à vida. Tirei o roupão e vesti uma lingerie vermelha, algo que não usaria em um dia comum, mas que hoje simbolizava minha disposição para explorar o desconhecido. Em seguida, coloquei uma calça jeans, uma regata, um cinto que marcava minha cintura e cobri meus braços com uma jaqueta de couro, buscando uma imagem mais confiante. Apoiei um dos pés em um pufe e calcei uma bota de cano médio, e então o outro par. Observando-me no espelho, passei a mão no cabelo, arrumando-o para o lado e deixando um volume no alto da cabeça, adotando um semblante sério que refletia minha determinação interior. Fechei o zíper do casaco de couro e retornei ao quarto secreto, dando passos calmos e decididos, meus olhos fixaram em um chicote disposto a poucos metros de mim, pronto para ser usado como uma ferramenta de prazer e exploração em nosso jogo sensual.

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora