Capítulo CIII

395 52 5
                                    

(Ema narrando)


Na manhã seguinte, fiz o percurso até o banheiro com passos vagarosos, os efeitos da noite anterior pesaram sobre mim na forma de uma intensa dor de cabeça. Abri a torneira e deixei a água gelada escorrer pelo meu rosto, buscando aliviar a sensação de exaustão e desconforto. O espelho me devolveu a imagem de olhos fatigados e uma expressão pálida, lembrando-me das escolhas da noite passada. Após alguns minutos, inspirei profundamente, decidida a enfrentar o novo dia, apesar das consequências da minha imprudência.
Enquanto esperava que a água do chuveiro aliviasse minha dor de cabeça, ela persistiu, permanecendo até o café da manhã. Na cozinha, encontrei Lourdes, o aroma do café recém-preparado por ela me atraiu irresistivelmente.
— Bom dia. – cumprimentei, me sentando à mesa, encurvada para frente.
— Bom dia, parece que teve uma noite difícil. – ela comentou.
— Bebi um pouco demais. – confessei.
— Fiz café, gostaria de uma xícara? – ofereceu Lourdes.
— Sim, por favor. – aceitei.
Lourdes gentilmente me serviu uma xícara de café com adoçante. Tomei grandes goles, na esperança de recuperar um pouco do meu ânimo.
— Sarah ainda está dormindo? – perguntou Lourdes.
— Sim, ainda está. – respondi, colocando a xícara sobre a mesa e me levantando, sentindo-me um pouco mais desperta. — Vou dar uma caminhada, um pouco de ar fresco certamente me fará bem.
A caminhada revitalizou meu ânimo, e apesar da dor de cabeça persistir, ela parecia amenizar com o passar dos minutos. Meus passos ganharam ritmo, deixando para trás arbustos e gramas enquanto avançava pela pista de cooper. Porém, um ruído de pneus sendo arrastados seguido de uma freada brusca me fez virar para trás. Uma BMW branca parou a alguns metros de mim, invadindo a via de pedestres. Recuei um passo, tomada pelo susto. A situação parecia absurda, pois não havia tráfego intenso de veículos no interior do condomínio. Esforcei-me para identificar o motorista através do vidro escurecido pelo fumê.
Ao encarar a placa do veículo, decidi que precisaria reclamar com o síndico. Os carros não deveriam circular tão rápido nas áreas residenciais. Quando o motorista saiu do carro e retirou os óculos escuros, meu queixo caiu. Eu conhecia aquele homem.
— Ema Campos. – pronunciou ele com seriedade, seu terno ajustado destacava sua figura. A porta do carro se fechou com um baque suave enquanto ele se dirigia até mim. — Então, minha filha perdeu o juízo de vez? Te tirou do bueiro onde te enfiei. Como a convenceu? Manipulou-a da mesma forma que fez com meu sobrinho?
— Olha só...
— Eu quero você fora da vida da Sarah. – ele me cortou.
— Como assim? – avancei alguns passos na direção dele, encontrando-o ainda junto ao carro. — Sua filha é uma adulta, capaz de tomar suas próprias decisões.
— Investi muito na educação da minha filha, não quero que ela se envolva com alguém como você. – ele declarou, incitando uma risada raivosa em mim.
— Resolva seus problemas com Sarah. – encarei-o. — E da próxima vez, seja mais discreto ao tentar me eliminar. Não se esqueça das câmeras de segurança do condomínio. – apontei para uma das câmeras instaladas em um poste.
— Se eu quisesse você morta, você já estaria morta. Prefiro vê-la definhar lentamente. – ele disse.
— Devo me sentir lisonjeada por um homem com um cargo tão elevado dedicar tanto tempo para me perseguir? – zombei.
— Continue zombando enquanto puder. – ameaçou ele.
— Eu não sou responsável pela morte do seu sobrinho. Fui investigada e minhas mãos estão limpas.
— Suas mãos estão longe de estar limpas. – Júlio se aproximou mais, os olhos transbordavam de raiva. — Saiba que tenho olhos e ouvidos por toda a cidade. Estou ciente de todas as suas ações, e não hesitarei em enviá-la para a prisão na primeira oportunidade.
— É decepcionante ver que está aqui por minha causa, e não pela sua filha. Ela ficará magoada com você. – cruzei os braços, erguendo o queixo com determinação. Não me rebaixaria diante dele.
— Esteja avisada, Ema, eu vou te destruir. E te eliminar completamente. Você não será nem mesmo uma segurança de shopping quando eu terminar contigo. – ele afirmou antes de retornar para a BMW.
— Eu ainda vou te ver atrás das grades. – murmurei, frustrada.
Quando voltei para a casa de Sarah, encontrei-a na cozinha, envolta em um robe cinza, seu cabelo recolhido em um coque descontraído. Seus olhos se fixaram em mim assim que entrei.
— Amor, você não estava na cama quando acordei. Pensei que você queria tomar café na cama. – seus braços se envolveram em volta do meu pescoço.
— Seu pai está no condomínio.
— Meu pai?! – Sarah afastou seus braços de mim, parecendo surpresa.
— Sim, o vi enquanto estava correndo. Parece que ele comprou a carteira, porque o carro dele foi parar na pista de pedestres.
— O QUÊ? – a voz de Sarah saiu alta. — Meu pai tentou te atropelar?
— Ele quis me assustar. – respondi.
— Ema, ele pode não gostar de você, mas tentar te atropelar é um crime. Vou ligar para ele agora mesmo. Isso não vai ficar assim. – Sarah parecia determinada.
— Deixa isso para lá, não quero causar mais problemas entre vocês.
— Não, Ema. Meu pai não pode continuar te perseguindo. Eu vou resolver isso, prometo. – Sarah afirmou.
— Sarah, não quero que você se indisponha com seu pai por minha causa. – respondi.
— Já é tarde demais, Ema. Ele colocou sua vida em risco. – Sarah deixou a cozinha rapidamente.

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora