Capítulo XXXIV

750 66 22
                                    

Sentei-me confortavelmente sobre uma toalha preta, sentindo a brisa suave da noite enquanto compartilhava o espaço ao lado de Sarah. Nicolas, retirou latas de cerveja da caixa térmica, distribuiu-as entre os nós. E posteriormente, escolheu uma cadeira dobrável posicionada do outro lado da fogueira, sentando entre Mariana e Gabriela.
— Alguma outra lenda local que queiram compartilhar? – indagou Mariana preparando-se para saborear sua cerveja.  Daniele estava atenta à sua namorada, acompanhando a conversa.
— Não, mas posso contar uma piada. – propôs Nicolas, com um brilho travesso nos olhos.
— Fique à vontade. – respondeu Mariana, levantando sua lata de cerveja em um gesto de aprovação.
— Amor, preciso fazer xixi. – sussurrou Sarah próximo ao meu ouvido.
— Tá, quer que eu vá com você? – me dispus.
— Sim. – Sarah deu um gole na cerveja e abandonou a lata sobre a toalha. — Desculpa, Nick, não vamos ficar para ouvir a piada. – ela se levantou.
— Que pena. – lamentou Nicolas. — Posso aguardar vocês voltarem.
— Não precisa. – disse Sarah. — A gente pode demorar um pouco.
— Eu vou pegar uma lanterna. – coloquei minha lata com cuidado sobre a toalha e me levantei, dirigindo-me à minha mochila. Após abrir um dos bolsos grandes, retirei a lanterna, testei-a ao ligá-la e, em seguida, caminhei em direção a Sarah.
— Tomem cuidado com o lenhador. – ironizou Mariana, lançando um olhar malicioso enquanto brincava com a falsa lenda.
— Tenho certeza que a Ema pode me proteger de qualquer perigo. – Sarah me olhava com um sorriso radiante.
— Claro. Que nenhum lenhador ouse te importunar. – segurei a mão de Sarah, enquanto nos afastávamos do grupo.
Caminhamos em direção ao lago, e em certo momento, Sarah lançou um olhar para trás, verificando se já estávamos distantes o suficiente.
— Ema, acho que agora pode me mostrar suas habilidades policiais. – disse ela, exibindo um sorriso travesso no rosto.
— Como faremos isso? – perguntei, genuinamente incerta sobre como proceder naquela situação.
— Fecha os olhos e conta até dez. Eu vou sair correndo e me esconder. Quando você me achar, eu vou resistir, e aí você me mostra como faria para me imobilizar. Entendeu? – explicou Sarah.
— E depois?
— Eu não me importaria de ser fodida pela policial má. – Sarah sorriu maliciosamente.
— Você sabe que posso acabar te machucando, não é? – indaguei.
— Duvido disso. – Sarah saiu andando.
— Siga o curso do lago e não adentre muito na mata. – aconselhei antes de fechar os olhos. — Dez, nove, oito, sete, seis... – o barulho de galhos quebrando seguido de um grito me fez abrir os olhos. — Sarah? – apontei a luz da lanterna para a minha frente. Sarah havia sumido de vista. — SARAAAAH?! – berrei, preocupada. — Droga! – avancei em direção ao lago dando passos rápidos.
Procurei por Sarah nos minutos seguintes, vasculhando os arredores do lago, mas não havia o menor sinal dela. A mata ao meu redor era densa, e alguns sons soavam assustadores.
— Sarah, se isso for uma brincadeira, por favor, apareça. Eu estou começando a ficar preocupada. – apelei sem sucesso. Retomei minha busca, dessa vez adentrando a mata. Busquei por pegadas e galhos quebrados até encontrar uma pista: uma pegada de tênis compatível com a pontuação de Sarah.
Estava pronta para seguir a pista, quando mãos cobriram meus olhos inesperadamente. Em um instante de instinto, virei-me rapidamente, desferindo um soco no indivíduo que bloqueou minha visão. Com o impacto, minha lanterna escapou da minha mão e, no silêncio que se seguiu, um gemido revelador escapou da pessoa atingida, revelando ser Sarah.
— Aaaai... Ema, acho que você quebrou meu nariz.
— Ah, meu Deus! – apanhei a lanterna e iluminei o rosto de Sarah. As mãos dela cobriam o nariz, e sua feição era de dor. — Está sangrando?
— Está doendo. – Sarah respondeu erguendo o queixo.
— Eu vou te levar para o acampamento. – peguei-a nos braços e avancei em direção ao lago, sentindo alguns galhos baterem contra nós.
— Desculpa, Ema. Eu sei que isso foi culpa minha. – disse Sarah, sua  cabeça estava contra meu peito.
— Eu te machuquei. – falei, sentindo o peso da culpa cair sobre meus ombros. Nos aproximamos do acampamento e gritei por ajuda. — MARI! VOCÊ TEM UM KIT DE PRIMEIROS-SOCORROS?
— Claro. – ela se ergueu. — O que houve com a Sarah?
— Foi um acidente, Mari. – Sarah respondeu.
— Isso é sangue? – Mariana perguntou com preocupação, ao ver pingos de sangue na blusa de Sarah. Seus passos vieram ao nosso encontro, e suas mãos tiraram Sarah dos meus braços. — O que você fez com ela, Ema?
— Eu...
— Esquece! Eu sabia que isso iria acontecer! – Mariana me interrompeu, brava.
— Ema. – Sarah estendeu uma das mãos em minha direção, então a peguei e segui com ela e Mariana até uma das barracas.
— Dani, pega meu kit. – disse Mariana ao deitar Sarah em um dos colchonetes.
— Eu quero ficar ao lado dela. – pedi ao encontrar Mariana barrando minha entrada na barraca.
— Depois. Agora, ela precisa de mim. – Mariana fechou o zíper da barraca, me deixando para fora.
— Eu não quis machucar ela! – falei alto, extravasando minha angústia.
Daniele se aproximou segurando uma caixa de primeiros-socorros.
— Ema, espera um pouquinho, eu já trago notícias da Sarah para você. – disse ela ao passar perto de mim.
— Ela é a minha namorada. Eu tenho o direito de ficar perto dela. – falei com firmeza.
Mariana abriu o zíper da barraca. E Daniele entrou.
— Estanque o sangue do nariz dela. Eu já volto. – Mariana saiu da barraca e se pôs na minha frente. — Estou cansada da Sarah se envolvendo com pessoas como você.
— O que está dizendo? Eu não sou como a Norman. – respondi.
— Não, você é pior. Você me fez baixar a guarda e acreditar que você poderia ser boa para a Sarah, mas é só uma idiota brincando de dominadora. – Mariana me olhava com chateação.
— É melhor você retirar o que disse. – cheguei mais perto de Mariana, olhando-a nos olhos.
— Não retiro.
— Ema. – Nicolas me chamou. — Está tudo bem aí? – pude ouvir os passos deles se aproximando.
— Sim. – dei um passo para trás, tentando evitar o conflito com Mariana. Eu sabia que nós duas nos importávamos com Sarah.
— Mari... – Sarah saiu da barraca com algodões enfiados nas narinas. — Eu assumi o risco, então, brigue comigo. Não com ela.
— Que saco! – Mariana se afastou dando passos duros.
— Olha o que eu fiz com você. – respirei fundo, meus olhos ficaram marejados.
— Estou bem. – Sarah se aproximou de mim. — Eu aprendi uma boa lição, nunca te surpreender por trás. – sorriu.
— Está doendo? – toquei delicadamente o rosto de Sarah.
— Não, você não quebrou meu nariz, só acertou algum vaso. Vou sobreviver. – ela me abraçou.
— Me desculpa. – apertei Sarah em meus braços e fechei os olhos. — Eu não sou boa para você.
— Para, Ema. Você é ótima para mim. – Sarah insistiu.
— É melhor irmos embora. Eu quero te levar ao médico. – falei, preocupada com o sangramento de Sarah.
— Não. – Sarah afastou o rosto para me olhar. — Eu gostei da experiência. Realmente, você sabe como imobilizar alguém. – ela ousou rir.
— Sua boba... Eu gosto tanto de você. – voltei a abraçá-la.
— Se levar um soco é o preço para ouvir você dizer, mesmo que indiretamente, que me ama, talvez eu aceite levar outro. – ela brincou.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora