Capítulo CXLII

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As horas se arrastavam lentamente, e eu mal conseguia suportar a falta de informações sobre o paradeiro de Ema. Sentada no capô do meu carro em frente à minha casa, que estava sendo periciada, decidi ligar para Mariana.
— Alô.
— Mari, a Ema sumiu. E a Lourdes está hospitalizada. – contei sem rodeios.
— Onde você está?
— Em casa, a polícia está colhendo evidências, mas sinceramente, não acho que eles vão ajudar a encontrar a Ema. Meu pai está por trás disso. E eu nem ao menos sei onde ele está.
— Fique aí, chego daqui a pouco.
— Obrigada, amiga. – encerrei a ligação. Um policial se aproximava.
— Você é a proprietária da casa?
— Sim. – guardei meu celular no bolso da calça e me levantei. — Encontraram alguma pista do paradeiro da Ema?
— Senhora, lamento dizer, mas as câmeras de segurança da sua casa foram desligadas. Não há registro de nenhuma atividade desde as 8 horas da manhã.
— Como? Quem desligou?
— Não sabemos. A gravação saiu fora do ar às 8h13 da manhã. Deve ter ocorrido um problema técnico. Você deveria entrar em contato com a empresa que instalou as câmeras.
— Está me dizendo que premeditaram a invasão na minha casa? – indaguei intrigada.
— Averiguamos todas as entradas, não há sinal de arrombamento. Suspeitamos que sua funcionária conhecia a pessoa que a atacou.
— Verifique as câmeras de monitoramento do condomínio. É possível que elas tenham filmado o criminoso entrando na minha casa. – sugeri.
— Isso requer tempo, precisamos de autorização judicial.
— Vão esperar alguém corromper as filmagens? Está claro para mim que alguém quer incriminar a Ema. – retruquei, nervosa.
— A senhora precisa medir suas palavras. Estamos seguindo as evidências, e no momento, o desaparecimento da sua namorada não parece um rapto, e sim uma fuga. – disse ele.
— A Ema é inocente! – defendi.

***

No fim do dia, eu estava arrasada. Ema continuava desaparecida. Afundei-me no sofá e, pela vigésima vez, tentei ligar para meu pai, mas todas as chamadas iam para a caixa postal.
Mariana se aproximou, sentando ao meu lado no sofá, e me ofereceu uma xícara de chá.
— Bebe isso.
— Eu vou enlouquecer, Mariana. Não aguento mais esperar notícias da Ema. Ela pode estar morta. – desabei em lágrimas. Mariana colocou a xícara na mesa de centro e envolveu meu ombro com o braço esquerdo, fazendo-me apoiar a cabeça em seu colo.
— Ela não está morta. Seu pai não a mataria. Acredite, eu sei como funciona a cabeça de um sádico. Torturá-la é mais satisfatório do que matá-la, porque ele pode saborear a sensação várias vezes.
— Isso deveria ser reconfortante? A Ema pode estar sofrendo. Tinha sangue no meu closet, Mari. A atacaram e a levaram daqui. – a angústia me consumia.
— Sarah, você deveria tomar um calmante. Ficar nervosa não vai acelerar as coisas. Tente entender a mente do seu pai. Ele precisaria de um local discreto e afastado da agitação. Ele tem alguma propriedade distante do centro?
— Não sei, Mari. Meu pai não compartilha comigo os endereços dos lugares que usa para torturar pessoas. – ironizei, levantei-me. Andei inquieta pela sala. — Mas você está certa. Ele pode ter levado a Ema para algum lugar significativo para ele. – levei a mão ao queixo, pensativa.
— Como o lugar para onde seu primo foi levado? – indagou Mariana. Olhei para ela e acenei positivamente com a cabeça.
— Sim, como não pensei nisso antes? Eu vou até lá. – saí andando com pressa.
— Espere por mim, Sarah! – Mariana me seguiu.
Infelizmente, o local estava ocupado por uma empresa de engenharia civil e havia um vai e vem constante de pessoas. Era praticamente impossível que Ema estivesse ali. Desanimada, retornei para o carro. Mariana tocou meu ombro, olhando-me com compaixão.
— Não desanime, vamos encontrá-la. – disse ela.
— Quando? – respirei fundo. — Eu não aguento mais, Mariana. Isso tudo está acontecendo por minha culpa. Pedi para o meu pai devolver o emprego da Ema. Ela começou a desconfiar que ele estava explorando mulheres em uma boate. Alguém contou para o meu pai e ele resolveu intimidar a Ema. – desabafei.
— Seu pai está envolvido com prostituição? Isso é sério, Sarah? Ele consegue ser pior do que eu imaginava. –  disse Mariana, chocada.
— Parece que Ema estava certa. – olhei pela janela. — Sou filha de um lobo em pele de cordeiro. Acho que não posso confiar nem mesmo na minha família.
— Tenha paciência. Seu pai não vai matar a Ema, ele sabe que isso te deixaria fora de si. E isso não faria bem para a reputação dele.
— Estou cansada de especulações. Vou voltar para a casa dos meus pais. Vou vasculhar todos os cômodos daquela casa, vou conseguir algo que prove o envolvimento do meu pai com essa rede de exploração. Ele vai entender que não estou para brincadeira.
A caminho da residência dos meus pais, meu carro foi fechado por um utilitário preto e Mariana freou abruptamente.
— Esse filho da puta comprou a carteira? – Mariana estava indignada. Uma mulher saiu do interior do carro vermelho e caminhou em nossa direção.
— Mari, não saia do carro. – eu disse, tirando o cinto de segurança e abrindo a porta do meu lado.
— Sarah, não se meta em confusão. –Mariana me aconselhou.
— Qual é o seu problema? – indaguei à mulher, dando passos em sua direção. Ela me olhava em silêncio e, discretamente, abriu o casaco, revelando um distintivo. Logo em seguida, fechou o casaco.
— Lamento pelo susto, mas precisava parar seu carro de algum jeito. – disse ela.
— Quem diabos é você?
— Catarina Rios, sou investigadora da polícia. – respondeu. Ela era uma mulher de cabelos ondulados e loiros, que terminavam acima dos ombros. Seus olhos castanhos e corpo esbelto davam-lhe uma aparência de pouco mais de 30 anos.
— Estou farta da polícia. Então, fique longe de mim. Não vou permitir que nenhum de vocês incrimine a Ema.
— Por que eu faria isso? A Ema foi raptada pelo seu pai.
— Você... Sabe onde ela está? – me aproximei dela e Mariana desceu do carro.
— Está tudo bem, Sarah? – Mariana perguntou.
— Sim. – respondi.
— Me encontre dentro de uma hora no hotel Garden. Estou hospedada no quarto 12, mas faça isso apenas se estiver disposta a depor contra o seu pai. – disse Catarina.
— Você vai trazer a Ema de volta para mim? – meus olhos marejaram.
— Farei o possível. Minha equipe está tentando localizar o lugar para onde ela foi levada. Estou monitorando seu pai há meses. Já colhi algumas provas contra ele, mas são circunstanciais. Seu depoimento seria de suma importância e me ajudaria a colocar o Júlio na cadeia.
— Traga a Ema de volta. E eu vou depor contra o meu pai.
— Trarei. – disse Catarina com firmeza na voz, entregando-me um cartão.
— A Ema só queria fazer justiça.
— Eu sei, eu quero o mesmo. – ela se afastou, voltando para o utilitário.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora