Capítulo CLIX

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Quando finalmente entramos na casa de Ema, nos deparamos com os móveis ocultos sob lençóis brancos, evocando uma aura de mistério na sala.

À medida que os revelávamos um a um, a ausência da mesa de centro evocou lembranças desagradáveis, mas Ema não se deixou abalar. Pelo contrário, sua expressão refletia otimismo.

Após um banho revigorante para dissipar o cansaço, caminhamos pelas tranquilas ruas de Santa Mônica. Ema, ocasionalmente, parava para cumprimentar conhecidos, até chegarmos a um restaurante familiar, onde ela parecia completamente à vontade.

— Ema! – a senhora atrás do balcão recebeu-a com um largo sorriso. — Você voltou?
— Olá, Dona Tereza. – Ema se aproximou do balcão, cumprimentando-a. — Estou de volta por um tempo. Precisava de um refúgio para me recuperar. As cidades grandes podem ser um caos.
— Entendo, por isso não saiu daqui. – comentou Dona Tereza.
— Ah... deixe-me apresentar alguém. – Ema me olhou. — Esta é Sarah, minha namorada.
— Que notícia maravilhosa, Ema. – Dona Tereza sorriu amplamente. — Já era hora de você encontrar alguém.
— Não me culpe. Sarah demorou a me achar. – Ema sorriu, irradiando uma leveza que há tempos não via.
— Sarah, você é uma mulher de sorte. Ema tem um coração maravilhoso. – elogiou Dona Tereza, uma senhora de aparência gentil, com cabelos curtos e loiros e olhos castanhos, vestida com um vestido floral.
— Sou muito sortuda mesmo. – sorri para Ema.
— Me conte, querida. Como machucou o braço? – perguntou Dona Tereza.
— Ah, isso? São apenas os perigos do meu trabalho. – brincou Ema.
— Travessa. – Dona Tereza olhou para Ema com carinho, como uma avó orgulhosa. — Vou preparar um caldinho para vocês. – se afastou em direção à cozinha.
Abracei Ema lateralmente e dei um beijo em seu rosto.
— Eu esqueci que você é famosa por aqui. As senhorinhas não me preocupam, mas as mais novas são perigosas. – comentei.
— Os boatos em cidades pequenas se espalham rápido, amanhã todos saberão que estou aqui com a famosa moça do motel. – Ema brincou.
— Oh, não. Eu tenho uma reputação ruim por aqui. – ri.
— Não mais. – Ema me deu um selinho.
— Acho que encontrei a melhor companhia da cidade. – acariciei o rosto de Ema.
— Modéstia à parte. – Ema estalou a língua.
— Convencida. – sorri, olhando para Ema como se ela fosse o centro do universo. Desejava estar em um lugar onde só existíssemos nós duas, sem preocupações, onde pudesse amá-la sem medo.

***

Naquela mesma noite, depois de saborear os quitutes preparados por Dona Tereza, que parecia determinada a me empanturrar a todo custo, retornamos à casa de Ema. As poucas horas que passamos ali já haviam nos revigorado e preenchido de esperança para dias melhores.

Após um banho reconfortante, saí do banheiro enxugando o cabelo com uma toalha. Encontrei Ema deitada na cama, com um olhar distante.

— Mocinha, estou disposta a negociar pelos seus pensamentos. – disse, me aproximando da cama.

— Oi. – Ema sorriu, voltando à realidade.

— O que deseja em troca de seus pensamentos? – sentei-me na cama, de frente para Ema.

— Um beijo.

— Feito.

— Bem, eu estava refletindo sobre como inicialmente detestei ser enviada para cá, mas hoje percebo que esta cidade não foi tão má ideia. De alguma forma, tornou-se meu refúgio. – respondeu Ema.

— Hm. – inclinei-me em direção a Ema como se fosse beijá-la, mas, em vez disso, cobri seu rosto com a toalha úmida e me levantei, rindo. — Você se descuidou.

— Ei... – Ema retirou a toalha do rosto. — Não vai cumprir sua promessa?

— Vou, mas não disse quando. Tenho toda a noite para beijá-la. – respondi. Ema se levantou, fixando seu olhar em mim. À medida que ela se aproximava, eu recuava até sentir a parede atrás de mim. Ema parou à minha frente e levou a mão esquerda até minha toalha.

— Talvez eu queira um pouco mais do que um beijo.

— Hoje terá que se contentar com um beijo. – respondi.

— Então, diga que não quer fazer amor comigo agora. – desafiou-me Ema.

— Ema... – suspirei. — Sabe que não consigo resistir a você, mas me preocupo com sua saúde neste momento.

— Estou bem. – Ema removeu a tipoia e ergueu o braço. — Vê? Se estivesse doendo, eu conseguiria fazer isso?

— Feche a mão. Vamos lá. – cruzei os braços, desafiando-a de volta. Ema abaixou o braço sem obedecer.

— Me pegou. Ainda não consigo fechar a mão sem desconforto.

— Desconforto? Ou uma fisgada, Srta. Ema Campos?

— Dra. Sarah Rodrigues, você é advogada ou médica? – Ema perguntou, soando estranhamente sedutora. Era raro ela me chamar assim.

— Advogada e cuidadora de uma policial teimosa chamada Ema. – respondi, tentando disfarçar minha rendição.

— Vamos jogar o seu jogo?

— Que jogo? – estreitei os olhos.

— Eu dou as ordens e você obedece sem questionar.

— Amor... – toquei o rosto de Ema. — Em alguns dias, poderemos fazer o que quisermos.

— Estou bem, Sarah. – Ema insistiu.

— Que teimosia. – balancei a cabeça negativamente. — Seria melhor tomar um banho frio.

— Está bem. – Ema concordou. — Sei aceitar um não.

— É um não pelo seu próprio bem. Não poderá voltar ao trabalho se ficar com sequelas. Preferiria que não arriscasse sua vida por aí, mas sei que é sua vocação. Então, recupere-se logo. O crime não para.

— Mesmo? – Ema se aproximou. — Só consigo pensar em como você está linda. – ela beijou o canto esquerdo da minha boca e afastou-se lentamente. — Me espere na cama. Eu já volto para dormirmos. – disse antes de se dirigir ao banheiro. Fiquei junto à parede, lutando contra a tentação.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now