Capítulo CXXXI

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(Sarah narrando)


No ambiente solene do Tribunal, as paredes revestidas em madeira escura emanavam uma presença imponente, enquanto os bancos preenchidos pelo júri conferiam uma atmosfera de seriedade e expectativa. Eu, a promotora Laura, o juiz e o réu Fábio ocupávamos nossos respectivos lugares diante do júri.
Fábio parecia nervoso, suas mãos trêmulas denunciavam a ansiedade que o consumia diante da imponência do tribunal e do olhar atento do júri. Enquanto isso, o juiz, com sua voz grave e autoritária, finalmente se pronunciou:
— Senhoras e senhores do júri, diante desta corte, a missão é garantir a justiça. Escutamos os argumentos das partes, e agora devemos ponderar as evidências de forma imparcial.
O juiz lançou um olhar sério sobre o júri, enquanto estes observam atentamente.
Pedi a palavra.
— Excelentíssimo juiz, meu cliente, Fabio, é acusado de um crime que não cometeu. A promotoria tenta pintá-lo como culpado, mas as provas são inconsistentes e não há ligação direta com o crime.
A promotora se pronunciou ao me ouvir.
— Senhores e senhoras do júri, a acusação apresentou provas substanciais contra o réu. Testemunhas, evidências forenses e circunstanciais apontam claramente para a culpabilidade de Fábio.
— Protesto! – me levantei, deixando as mãos sobre a mesa. — Senhoras e senhores do júri, é verdade que a acusação apresentou provas, porém, devemos lembrar que uma acusação não é sinônimo de culpa. Meu cliente, Fábio, merece que examinemos cada uma dessas provas com cuidado e objetividade. Não podemos permitir que a pressão da acusação nos desvie do nosso dever de garantir a justiça. Vou demonstrar, com base em fatos e argumentos sólidos, que as supostas evidências apresentadas não são conclusivas e não podem sustentar uma condenação. A integridade de Fábio está em jogo, e confio plenamente na capacidade deste júri de avaliar as evidências de forma imparcial e justa.
A promotora protestou com veemência.
— Senhoras e senhores do júri, a acusação apresentou evidências irrefutáveis contra o réu. Temos testemunhas oculares, DNA e provas circunstanciais que apontam diretamente para a culpabilidade de Fábio.
— Excelentíssimo, permita que eu fale diretamente com o júri? – pedi.
— Solicitação aceita.
Pude ouvir Laura bufar enquanto me encaminhava para a frente da bancada dos jurados.
— Senhores e senhoras, Fábio estava casado com Carla há cinco anos. Nenhuma testemunha ouvida relatou que Fábio era agressivo com a cônjuge. Eles tinham uma relação pacífica e amorosa. Quando meu cliente encontrou a esposa caída no chão em uma poça de sangue, ele deitou a cabeça sobre o peito dela para averiguar se havia batimentos. Isso explica a presença de sangue na roupa dele. Quanto ao DNA dele na arma do crime, ele mesmo confessou que jogou a arma na lixeira da rua em um ato de desespero. Ele sabia que poderia ser considerado o autor do crime, apesar da inocência – argumentei.
— Dra. Sarah, seu cliente tentou ocultar a arma do crime – disse Laura.
— Dra. Laura, Fábio colocou a arma na lixeira próxima à residência. Isso não demonstra desespero? Que criminoso deixaria a arma do crime na lixeira da própria casa? O verdadeiro criminoso está solto, zombando da polícia e da justiça deste país. – argumentei.
Um clima de tensão pairava entre nós enquanto nos encarávamos, medindo forças. O ego de Laura parecia estratosférico, emanando confiança e determinação. E minha repulsa por ela permanecia firme desde a primeira vez que nos enfrentamos diante do júri.
— Senhores e senhoras do júri, diante desta corte, a missão é garantir a justiça. Escutamos os argumentos das partes, e agora devemos ponderar as evidências de forma imparcial. – disse o juiz. — Os senhores do júri iniciarão as deliberações. Que a sabedoria guie suas decisões – concluiu, transmitindo a responsabilidade aos jurados.
Os jurados se retiram para a sala de deliberações, enquanto eu tentava tranquilizar meu cliente, transmitindo confiança. Coloquei uma mão em seu ombro e lhe ofereci um sorriso encorajador.
— Fique tranquilo, Fábio. Apresentamos uma defesa sólida e confio plenamente na sua inocência. Agora, cabe aos jurados analisarem as evidências com imparcialidade. Estou fazendo tudo o que está ao meu alcance para garantir um resultado justo.
Fábio assentiu, embora seus olhos ainda denotassem preocupação e ansiedade. Ele respirou fundo, tentando controlar os nervos enquanto aguardávamos o veredicto que determinaria seu destino.
Após um período de deliberação que pareceu uma eternidade, os jurados finalmente retornaram à sala do tribunal. O juiz, com sua expressão séria e solene, aguardava em seu estrado enquanto todos se acomodavam novamente.
— Senhores e senhoras do júri, chegaram a uma decisão? – perguntou o juiz, olhando para o porta-voz do júri.
O porta-voz do júri, visivelmente tenso, levantou-se e respondeu com firmeza:
— Sim, Excelência. Após cuidadosa análise das evidências e dos argumentos apresentados, chegamos a um veredito.
O juiz assentiu, dando permissão para que o porta-voz do júri lesse o veredito.
— Senhores e senhoras do júri, quanto ao réu Fábio, qual é o seu veredito? – perguntou o juiz, com a voz ecoando pela sala.
O porta-voz do júri respirou fundo antes de anunciar:
— Nós, membros do júri, consideramos o réu Fábio inocente.
Fábio, ao meu lado, soltou um suspiro profundo, apesar de seus olhos continuarem tristes. A decisão não traria Carla de volta, e a dor da perda ainda ecoava em sua alma.
Eu me contive para não comemorar, mantendo a compostura diante da corte. Enquanto isso, a promotora, amargava a derrota, sua expressão sombria revelava a frustração diante do veredito.
Apesar da vitória, o alívio era misturado com um sentimento de pesar pelas circunstâncias que levaram a este julgamento. Mas, no momento, o mais importante era que a justiça tinha sido feita, e Fábio poderia finalmente seguir em frente com sua vida, livre do fardo da acusação injusta.
Quando me despedi de Fábio, Laura se aproximou, com seu olhar carregado de ressentimento.
— Como você consegue dormir à noite, sabendo que está colocando mais um criminoso de volta à rua? – ela perguntou, sua voz estava carregada de acusação.
— E você, como consegue dormir à noite tentando colocar um inocente na prisão? – respondi, devolvendo o questionamento com firmeza.
— Aquele homem matou a mulher, e você sabe disso. Mas o dinheiro que ele te pagou compra a sua opinião sobre ele.
— Está colocando minha integridade em dúvida, Dra. Laura? – cruzei os braços, encarando-a com determinação.
— Nos enfrentaremos de novo, Dra. Sarah. – ela disse, com um tom de desafio.
— Com certeza, e espero que esteja mais amistosa da próxima vez. Quem sabe podemos tomar um café e fazer as pazes. Somos apenas peças de uma engrenagem, não deveríamos deixar isso interferir em nossa relação pessoal.
— Não me misturo com pessoas como você. – retrucou Laura com firmeza.
— Não diga que não tentei. – sorri com um toque de sarcasmo. — Acho que seu divórcio te deixou mais ranzinza.
— Imagino que esteja namorando. No início, sempre são flores. Aguarde.
— Qual é mesmo seu endereço? Quero me lembrar de te enviar um convite para o meu casamento – respondi, mantendo o tom irônico.
— Se poupe, não irei. – ela respondeu friamente.
— Que pena, você precisa se divertir, Dra. Laura. – provoquei. Ela não retrucou, apenas virou as costas e se afastou.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now