Capítulo CXXI

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(Sarah narrando)

S

aí do elevador, surpreendendo Beatriz, que se inclinou sobre a mesa para me observar. Ao ritmo da música dos meus fones de ouvido, um remix de Umbrella ecoava em meus ouvidos enquanto me movia. Levantei os braços acima da cabeça e girei sobre os calcanhares em passos ritmados em direção à mesa de Beatriz. Apontei para ela e cantarolei:
— Under my umbrella, ella, ella, eh, eh, eh. – retirei os fones. — Que dia lindo, Bê.
— Viu o passarinho verde, Sarah? – Beatriz perguntou.
— Não, vi algo melhor. – ri. — Como vai minha secretária favorita?
— Bem, e você?
— Ótima. – sorri. — Onde está minha malvada favorita?
— No escritório, com um cliente. Parece ser sério. O cara tem um mandado de prisão. – explicou Beatriz.
— Ih, que sorte que não é meu problema. – murmurei, voltando um dos fones para ouvido. — Nossa, adoro essa música. – voltei a dançar em direção à minha sala.
— Ei, dançarina, você tem um compromisso no fórum amanhã.  – lembrou Beatriz.
— Ah, droga. – parei meus passos. — Manda o arquivo do caso pra minha sala, Bê. Vou estudar. Preciso tirar a Ema da minha cabeça, aquela mulher está me enlouquecendo. Esqueço até minha agenda, meu nome.
— Vou enviar. Quer um cafezinho? – ofereceu Beatriz.
— Prefiro um chá. Preciso acalmar meus ânimos. Nada de cafeína por enquanto. – respondi.
— Sim, senhora. – brincou Beatriz.
— Nem começa... Minha senhora está em casa, ou talvez na academia, malhando aquele corpinho gostoso. – me diverti. — Preciso me conter, Beatriz! – ri.
— Sua manhã começou bem agitada. – observou.
— Extremamente. – abri a porta do meu escritório. — Manda o arquivo do caso. E diz pra Mari vir pra minha sala, preciso planejar um assassinato.
***
Mariana adentrou minha sala enquanto eu estava imersa no caso que defenderia no dia seguinte.
— Um assassinato? – ela perguntou.
— Quê? – olhei para ela, confusa.
— Beatriz me disse que você quer minha ajuda para dar fim em alguém. – Mariana avançou até minha mesa com passos calmos, parecendo desfilar. Abriu o blazer e se posicionou à frente da mesa.
— Ah... – sorri. — Acredita que uma vagabunda deu em cima da Ema?
— E daí?
— Não gostei. Ela é minha.
— Precisa registrar em cartório. – disse Mariana.
— Adoraria, mas imagina a reação da Ema se eu a pedisse em casamento agora. – cruzei os braços. — É uma lástima que eu não possa aplicar o golpe da barriga. – bufei.
— Roube os óvulos dela. Depois você faz fertilização. – Mariana respondeu. — Mas prepare-se para receber um lindo processo. Vai ficar sem a namorada e sem o bebê. – comentou.
— A minha loucura tem limites, sabia? Eu não vou roubar os óvulos da Ema, mas... – uni as mãos na frente da boca.
— Não. – Mariana estalou a língua. - A última vez que você tramou algo, irritou o secretário de segurança. E bem, sabemos como seu pai é traiçoeiro.
— E se eu ficar grávida, Mari? Hm?! – indaguei, levantando-me da cadeira. — A Ema não iria se recusar a casar comigo.
— Eu sabia que você iria sugerir algo insano. Como pode ter tanta certeza disso? O bebê não seria da Ema, portanto ela não teria qualquer responsabilidade.
— Você abandonaria a Dani grávida?
— Claro. Eu não sou religiosa, Sarah. O lance da gravidez espontânea não iria me convencer. E se ela fizesse fertilização sem meu consentimento, estaria ferindo a confiança que tenho nela. – Mariana explicou.
— Você tem toda razão. Eu não posso simplesmente surgir grávida. A Ema teria um colapso nervoso. – respirei fundo. — Quanto tempo vou precisar esperar para tocar no assunto?
— Sarah, seja razoável, acha mesmo que seu pai deixaria você se casar com a Ema?
— Como ele me impediria?
— Quer mesmo que eu te responda? – Mariana arqueou uma das sobrancelhas. — Seu pai tem dinheiro suficiente para exterminar com a raça da Ema. Se não o faz, é porque ele não quer. Então, antes de povoar o mundo com sua amada, sugiro que converse com seu pai sobre uma trégua.
— Trégua? Ele sabe que eu tenho munição suficiente para destruir a carreira política dele.
— É, tem, mas homens como o seu pai se tornam mais perigosos quando não têm nada a perder. Acredite em mim, Sarah. A melhor solução é uma trégua. Deveria apelar para o lado sentimental dele, use o amor paternal a seu favor.
— Mari, eu fui até o fim do mundo para provar para ele que a Ema não fez mal algum para o Alex, mas ele insiste em continuar culpando ela.
— Sarah, seu pai preza pela imagem de pai e marido exemplar. Use isso a seu favor. Você vai tê-lo nas suas mãos. – ela sugeriu.
— Ele está perseguindo a Ema.
— Sarah, ao menos tente, levante a bandeira de paz. Talvez, ele faça o mesmo.
— Eu não posso prometer que farei isso, mas vou pensar no assunto. – respondi.
— Imagine Ema naquele modelito cinzento portando uma arma na cintura.
— Pare, Mari. Eu demorei um tempão para conseguir me concentrar. Não me dê gatilho, por favor. – reclamei.
— Você é uma sem vergonha. Ema sabe que você fica igual às cataratas do Niágara perto de policiais bonitas?
— Alto lá! – ergui uma mão em protesto. — Reconheço que mulheres com distintivo ficam mais atraentes, mas a única policial que me deixa molhada é a Ema. – respondi. — Ainda me lembro da primeira vez que a vi pessoalmente naquele uniforme. Eu achei que iria inundar aquele quarto de motel. – ri alto.
— Pare com isso, sua desavergonhada. – Mariana estalou a língua e agitou a cabeça negativamente. — Parece a porra de uma cachorro no cio.
— Desculpe, não estou te entendendo. Só ouço mugidos. – provoquei.
— A sua sorte é que Ema é inexperiente, do contrário, você iria levar uns bons tapas todos os dias, até se tornar uma cadelinha disciplinada. – Mariana retrucou.
— Isso seria uma premiação. – sorri. Mariana revirou os olhos.
— Como detesto brats. São pestes desobedientes e irritantes.
— Ei, eu também não morro de amores por dommes como você, tá?
— O que há de errado comigo? Eu sou perfeita. – Mariana indagou com incredulidade.
— Claro, uma Deusa Grega, né? – ironizei.
— Sarah...
— Mariana. – provoquei com um sorriso preso aos lábios. — Eu te amo, sua antipática.
— Infelizmente, eu amo você também, mas não se atreva a me irritar. Eu vou aconselhar a Ema a te ignorar quando você estiver provocando ela.
— Não se atreva a fazer isso, Mariana! – berrei. — A minha vingança seria terrível. Eu posso influenciar a Dani, sabia? Imagina, se bem na hora "H", a Dani começa a te desafiar. Eu consigo imaginar a veia da sua testa saltando. – dei risada.
— Você vê como consegue ser irritante?
— Ah, eu só estou brincando, fofinha.
— Fofinha é a sua mãe. Aliás, em outros tempos, eu a faria ficar pendurada no teto pelos mamilos.
— MARIAAAAAANA! – protestei, batendo as mãos na mesa com indignação.
— Relaxe, mães de amigas não me atraem. Porém, se você tivesse uma irmã... – Mariana sorriu maliciosamente, insinuando algo.
— Vou contar para a Dani que você está muito atrevida. É melhor não vacilar, pois suas amigas dominatrix fariam fila para conquistá-la.
— Entenda, Sarah. Existem dominadoras, e existe eu. Quem você acha que a Daniele escolheria?
— A Helena.
— Helena? Me poupe, Sarah. Helena já está muito ocupada cuidando de Andréia e Serena.
— Ué, quem cuida de duas, cuida de três. – brinquei.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora